A Mecat Filtrações Industriais, associada da Abimaq, em Goiás, conquistou o Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2004, na categoria Produto. O fundador e atual presidente do grupo, Attilio Turchetti, recebeu a premiação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último dia 02 de dezembro, durante cerimônia realizada no Palácio do Planalto, em que também foi sancionada a Lei de Inovação. Fundada em 1983, a Mecat teve rápida expansão, conquistando a liderança mundial no processamento da indústria cítrica. Seu carro-chefe é o Turbo Filtro, lançado em 1990, que garantiu à empresa a liderança no processamento do suco de laranja na Flórida, América Central e Brasil, entre outros países. Com vasta experiência nas áreas executiva e de pesquisa, Attilio Turchetti tem registradas 12 patentes nos Estados Unidos e no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
A Turbofiltração é um processo que efetua a separação de partículas sólidas insolúveis em suspensão nos líquidos por meio do equipamento Turbo Filtro. Pode ser utilizada com sucesso praticamente em quase todas as indústrias alimentícias, como as de suco de laranja, açúcar e álcool, laticínios amido, abrangendo também outros setores industriais, como papel e celulose. A Turbofiltração desenvolvida pela Mecat Filtrações Industriais (GO) tem uma série de vantagens em relação aos similares: pode ser utilizado em vários campos de aplicação, por usar uma microtela de alta tecnologia, com extensa gama de diâmetros de furos; chega a reduzir em 80% o consumo energético do processo; possui excelente durabilidade por ter o aço inox como matéria-prima; ótima preservação qualitativa do produto final, já que opera em circuito fechado, evitando contato atmosférico com o produto e sua oxidação ou contaminação por agentes externos; e elimina em até 80% o espaço físico, otimizando o projeto da planta.
Poucas pessoas sabem que, em Abadia de Goiás, pequeno município localizado a 18 quilômetros ao Sudoeste de Goiânia, há uma empresa premiada nacionalmente e cujo produto já ajudou a quebrar muitas empresas norte-americanas. A Mecat recebeu no dia 3 deste mês o Prêmio Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) de Inovação Tecnológica 2004, na categoria Produto. O produto que levou a Mecat à vitória do Prêmio de Inovação Tecnológica 2004 na categoria Produto é o Turbo Filtro. “Ele é uma nova tecnologia na separação dos microssólidos em estado de suspensão em um líquido”, explica o italiano Attilio Turchetti, presidente da companhia. De acordo com Turchetti, o Turbo Filtro é até dez vezes mais potente do que os processos de filtragem de sólidos convencionais, e com menor umidade residual.O Turbo Filtro é utilizado sobretudo no campo das agroindústrias em que haja processos de separação de microssólidos em um líquido, com especial destaque para a produção de suco de laranja e destilação de cana-de-açúcar. Attilio Turchetti explica que, em geral, os processos normais de filtragem têm problemas com a filtragem ocorrida abaixo de meio milímetro, pois o microssólido entope o meio filtrante e faz com que haja desperdício de líquido. “O Turbo Filtro pode usar até meios de filtração dez vezes menor, como de 50 milésimos de milímetro, e o resíduo de descarte sai apenas com 80 por cento de umidade.” Ou seja, não é necessário se fazer um novo processo de filtragem com o excedente.
O inventor da idéia, o próprio Attilio Turchetti, é um italiano nascido na histórica cidade de Ravenna, mas radicado no Brasil há 27 anos, e morador de Goiânia há 21. Diplomado em tecnologia industrial no Instituto Guglielmo Marconi de Forli, em sua terra natal, trabalhou como executivo na Diemme, na cidade de Lugo, também Itália. Com a experiência que tinha de executivo da empresa, Attilio Turchetti veio ao Brasil em 1977 a convite de uma indústria de equipamento hidráulico, que fabricava materiais de mecânica de precisão. “Essa indústria, localizada em Piracicaba (SP), tinha se desenvolvido muito e perdido o controle da própria produção. Portanto, essas pessoas foram me procurar na Itália e me oferecer a gerência dessa indústria, com boas condições financeiras.” Mas o presidente da Mecat conta que não foi tanto a condição financeira que o atraiu. “Eu conhecia o Brasil de uma viagem que tinha feito anteriormente. Quando eu voltei para a Itália, vi que aqui eu tinha muito campo de trabalho, pelo meu tipo de experiência.” O calor humano do povo brasileiro, tão propalado mundialmente, também influenciou o italiano. Depois de aceitar o convite, Attilio Turchetti se transferiu para Belo Horizonte, onde ficou até 1983. Naquele ano, começaria um novo capítulo em sua vida.
A Mecat começou em setembro de 1983, em um galpão alugado no bairro Cidade Jardim, em Goiânia, com o nome de Construções Mecânicas Turchetti (CMT). Em 1987 a empresa adquiriu sua atual sede, na cidade de Abadia de Goiás, aproveitando-se do programa Fomentar. Com a mudança de sede, foi criada a Mecânica Attilio Turchetti (Mecat) Filtrações Industriais Limitada. Um dos primeiros clientes da Mecat foi a antiga Arisco (hoje Unilever), que desde quando foi fundada, em 1985, já usava os serviços da CMT. A partir daí, Turchetti e sua novel companhia passou a conquistar outros clientes regionalmente e mesmo em São Paulo, sempre no campo da alimentação. Desta diversificação surgiram duas idéias. A primeira foi a de se criar o Turbo Filtro, cujo desenvolvimento levou seis anos (de 1987 a 1993). “O Turbo Filtro não é tanto o resultado de um trabalho, mas de uma vida de trabalho. Eu concentrei todo aquele conhecimento que eu tinha, seja do ponto de vista didático, profissional, e de relacionamento industrial.” A outra idéia, implantada posteriormente (em 1993), foi a instalação da Mecaservice em Bebedouro (SP), dedicada exclusivamente à manutenção e à assistência técnica do Turbo Filtro e a serviços, como testes, relacionamento industrial, pesquisa de mercado e marketing.
Attilio Turchetti conta que a idéia do Turbo Filtro começou a tomar forma mais definida quando, em cima de sua experiência em filtração, pensou em fazer algo que tivesse uma filosofia diferente de trabalho. “Em vez de ter um trabalho intermitente, como é o filtro-prensa, algo que tivesse um trabalho contínuo, e que, sobretudo, tivesse condição de poder processar grandíssimas quantidades de produtos.” Para lograr seu intento, o engenheiro italiano decidiu substituir o tradicional meio filtrante, feito de chapa de aço inoxidável microfurada, para fazer a separação do microssólido do líquido com tecido técnico. Mas havia um problema. O tecido técnico, explica, não tem resistência mecânica. Para suprir esta deficiência, Turchetti, após anos de pesquisa, inventou um suporte elástico. “Cada uma das curvas do elástico demorou anos para ser pensada”, desabafa. Mas um trabalho que, depois de um tempo, deu dividendos positivos. Um mérito da Mecat foi ter, graças a seu produto, conseguido quebrar o monopólio de duas empresas multinacionais que atuam neste setor, a norte-americana Food Machinery Company e a alemã Westfalia Separators. “A Mecat os tirou do Brasil e da América Central”, afirma Turchetti, pois sua companhia também faz vendas para clientes em países latino-americanos. O maior cliente fora do Brasil é a Costa Rica, mas há bons negócios com o México, Belize e para os Estados Unidos, mais precisamente para o Estado da Flórida.
O Turbo Filtro foi introduzido em 1990 para preencher um vácuo então existente no processo de filtração da indústria cítrica. Desde então, a Mecat alcançou a liderança no processamento do suco de laranja na Flórida, América Central, Brasil e outros lugares. Hoje, o Turbo Filtro Mecat processa mais de 70% da produção mundial de sucos cítricos. No processo de produção do açúcar e do álcool é um outro segmento onde os Turbo Filtros oferecem significante melhoria na eficiência da filtração para a remoção dos microbagacilhos, remoção dos colóides, assepsia, consumo de energia, custos de operação e manutenção, se comparados aos sistemas tradicionais de filtração.
O mercado internacional surgiu por causa de um problema intrínseco ao sistema de filtragem norte-americano. O suco de laranja concentrado produzido nos Estados Unidos, explica o presidente da Mecat, ao ser vendido ao exterior, gerava problemas ao ser reconstituído, por ter seis vezes menos água do que o natural. Então, prossegue, para que seja possível beber o suco norte-americano, era preciso adicionar, logicamente, seis vezes a quantidade de água proporcional ao montante de suco servido. Mas, devido à viscosidade do suco gerado pelos processos-padrões dos Estados Unidos, era impossível se agregar tanta água ao sumo. Portanto, para que o suco se tornasse potável, era necessário misturá-lo com vinte por cento de suco brasileiro. Ao pesquisar o que tornava o suco brasileiro menos grosso, os norte-americanos, explica Attilio Turchetti, viram que a indústria brasileira usava o Turbo Filtro. Portanto, eles passaram a comprar o Turbo Filtro. Com resultados devastadores para o setor de sucos cítricos dos Estados Unidos, garante. “Com custos menores e qualidade maior do produto, a indústria brasileira ganhou o mercado internacional. Tanto que a indústria brasileira quebrou a indústria norte-americana. Hoje, muitas indústrias americanas foram compradas por indústrias brasileiras, enquanto que nenhuma indústria americana comprou uma indústria brasileira.” E essa escolha feita pelos norte-americanos foi também o que fez com que Attilio Turchetti considerasse o suco de laranja como o produto ideal para associar a seu filtro.
O Brasil, aliás, é considerado pelo engenheiro italiano como um fator decisivo para o seu sucesso. E, antes que se pense que Attilio Turchetti está “fazendo média” com o povo que o acolheu, ele explica em termos práticos o porquê desta influência. “Desenvolvi aqui uma tecnologia que na Itália teria sido impossível de desenvolver. Porque, aqui, temos condições que lá não existem. Aqui temos grandes quantidades e boa qualidade de produtos, o que não existe na Europa.” Esta quantidade possibilitou vários testes do Turbo Filtro, com diferentes tipos de produtos. “Eu tive condição de ter, em duas fábricas, ao mesmo tempo, em máquinas de testes, até 30 mil litros de suco de laranja por hora, coisa que teria sido impossível em outros países. Tive condição de fazer testes na cevada da cerveja, em efluente de destilaria de álcool de cereais, em fabricação de queijo em laticínios. Tive, enfim, condições de testar meu equipamento em vários tipos de produto para ver a sua adaptabilidade e funcionamento.” Apesar de ser grato ao Brasil, há, no entanto, um travo de amargura quando Attilio Turchetti fala do reconhecimento de sua obra. Que o Turbo Filtro teve repercussão nacional e internacional é um fato, e não mera propaganda. A Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, escreveu um artigo sobre a máquina, e adquiriu um exemplar para usá-lo em suas pesquisas. O Handbook of Citrus By-products and Processing Technology (Manual de Tecnologia de Processamento e Derivados de Cítricos), guia de referência da área editado pelo professor Robert J. Braddock, possui todo um capítulo que fala da origem do Turbo Filtro e de suas especificações técnicas. Attilio Turchetti orgulha-se de possuir cinco patentes norte-americanas de seu produto. “Uma patente norte-americana é um pouco como ter um diploma de mestrado.”
Dentro do Brasil, o reconhecimento não é menor. O presidente da Mecat contabiliza oito patentes de seu produto no país, sendo seis deferidas e duas cujo processo se encontra em andamento. “Somos a única firma brasileira de bens de capitais ou máquinas industriais que têm todas essas patentes, seja nos Estados Unidos ou no Brasil. Nada comparado àquilo que geralmente têm as grandes companhias americanas, que chegam a ter 12 ou 13 mil patentes, mas, para o Brasil, é um impacto significativo na agroindústria nacional.” O problema é em Goiás, onde Attilio Turchetti não julga ter o reconhecimento necessário. “Não sei se você pode escrever isso, mas o que descobri, na realidade, foi o descaso dos órgãos públicos locais”, confidencia. Um exemplo de descaso relatado pelo presidente da Mecat foi a reação da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) à vitória de Attilio Turchetti no Prêmio Finep deste ano. “Eu sou sócio da Fieg, mas sequer recebi um telefonema de congratulação pelo prêmio. E, no dia 16, houve uma festa da diretoria no Clube Ferreira Pacheco, mas ninguém da Mecat foi chamado”, queixa-se.
A Universidade Federal de Goiás (UFG) também nunca se interessou pelo seu projeto, garante Attilio Turchetti. Mas outras universidades se mostram mais receptivas. “Eu e minha esposa tivemos um convite da parte do British Council of Technology, para fazermos, em uma semana em Londres, duas ou três palestras em torno do produto, e termos condição de visitar outros órgãos de pesquisa.” O presidente da Mecat também é freqüentador assíduo do Centro Educacional de Barretos, onde a maioria dos estudantes, destaca, se mostra muito interessada em aprender o funcionamento da turbofiltração, devido aos empregos oferecidos nas indústrias cítricas e açúcar-alcooleiras da região. O presidente da Mecat acrescenta que o gerente-executivo do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobrás, Carlos Tadeu da Costa Fraga, se mostrou tão interessado pelo sistema de pesquisa de campo da empresa goiana que propôs visitá-la com quatro de seus principais colaboradores. Nenhuma iniciativa semelhante, porém, foi feita pelas entidades de pesquisas baseadas em Goiás. Não faltam críticas, também, para o governo de Goiás. Apesar dos elogios que faz à pessoa da secretária estadual de Ciência e Tecnologia, Denise Carvalho (“uma senhora muito legal”), Attilio Turchetti não deixa de observar que ela, quando integrou o júri do Prêmio Finep, desconhecia a Mecat e seu produto — que, destaca, trazem divisas para Goiás. Não sem uma ponta de mágoa, ele também se lembra de que, no ano passado, ao implantar a primeira máquina de álcool e açúcar no México para o grupo Piazza, queria ser fotografado no evento junto ao governador Marconi Perillo (PSDB), que também estava no país à ocasião. “Ele não só não me recebeu. Ele nem me respondeu.” Os únicos políticos locais que lhe deram apoio, diz, foram os políticos da região, entre os quais o prefeito de Abadia de Goiás, Valdeci Salviano Mendonça (PMDB). “Mas, apesar de serem pessoas de ótima qualidade, que tentaram de tudo para que a Mecat pudesse ser apresentada ao governo estadual, não têm muita expressão política”, lamenta.
O Sr. Attilio Turchetti é o fundador e atual Presidente do grupo Mecat. Após graduação no Instituto Guliermo Marconi de Tecnologia em Forli na Itália, ele começou sua carreira como gerente de produção industrial. Rapidamente avançou para carreira de executivo da Mannesmann-Demag e da Diemme S.A situada em Lugo, Itália, esta, a maior fabricante européia de filtros destinados ao tratamento de efluentes industriais e residenciais. Especializou-se no campo da filtração de sólidos suspensos e, em particular, no sistema de filtração por membrana. Trabalhou por mais de 30 anos no campo das pesquisas com tecidos sintéticos, tendo estagiado nos anos 70 na Sociedade de Filtração da Bélgica, situada em Liege. O Sr. Attilio Turchetti tem registradas 12 patentes nos Estados Unidos na “US Patent and Trademark Office” e, também, junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI do Brasil, por seu equipamento no campo da filtração, o Turbo Filtro.
Fonte:
http://www.finep.gov.br/premio/folhas_inovacao_premio_2004/centro_oeste_tela.pdf
http://www.abimaq.org.br/informaq_show.asp?id=835
http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Reportagens&idjornal=113&idrep=1075
http://www.mecat.com.br
acesso em julho de 2005
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