Eletreto

No Brasil, o professor Gross desenvolveu seu primeiro trabalho em 1934, por acaso. Naquele tempo a Light estava interessada em conhecer a resistência de isolamento dos seus cabos telefônicos tarefa conferida ao pesquisador do Instituto de Tecnologia, onde Gross trabalhava com sua equipe. Os fios apresentavam o fenômeno de absorção dielétrica, que já fascinava Bernhard Gross desde a Alemanha. Oliveira Castro interessou-se por aspectos da teoria do fenômeno da absorção e realizou um trabalho que envolve uma integração da equação de Volterra para um núcleo, problema não resolvido até então. Seus resultados foram publicados na Zeitschrift fur Physik em 1939 desencadeando outros trabalhos. Na parte experimental, Costa Ribeiro trabalhou com as propriedades dielétricas da cera de carnaúba e assim chegou à descoberta do efeito que tem seu nome.

Na década de 40 o grupo continuava pesquisando sobre dielétricos e eletretos por mera curiosidade. Gross em conjunto com a pesquisadora francesa Line ferreira Denard fez uma série de medidas no Instituto e chegou a formular uma nova interpretação dos fenômenos, publicada em 1945. Três anos depois fez se um segundo trabalho que deu a base para o entendimento dos comportamento dos eletretos, que são copos permanentemente polarizados. Certamente os eletretos já eram conhecidos desde 1918 quando foram descritos por um japonês, mas durante muito tempo não despertaram o interesse. Os eletretos estudados por Gross eram do tipo termo eletretos. Produzem-se eletretos com substâncias carregadas, portanto capazes de produzir campo elétrico, injetando elétrons nessas substâncias. Se as substâncias tem armadilhas para os elétrons, eles ficam lá dentro, não escapam e geram permanentemente um campo externo. O efeito já se conhecia, mas o primeiro trabalho sistemático sobre esse efeito foi feito por Bernhard Gross em 1957 e publicados no Journal of Chemical Physics e na Physical Review.

Na época não se pensava em aplicações práticas pois os materiais de que se dispunha não tinham as propriedades mecânicas adequadas aos transdutores. O transdutor deve ser feito com uma folha fina carregada, que mantém a carga e que, sob a vibração sonora, se move e induz cargas elétricas, reproduzindo o som. Quer dizer, transforma as vibrações em vibrações elétricas. As substâncias com que Gross trabalhava eram de cera de carnaúba, que era a substância clássica e o plexiglás. Em 1962 um físico alemão chamado Sessler, que trabalhava na Bell e um americano chamado West usaram o método de descarga por feixes de elétron em folhas de teflon, um polímero com condutividade extremamente baixa. Por isso ele conserva as cargas injetadas por tempo praticamente ilimitado. Além disso tem propriedades mecânicas muito boas e é fabricado em folhas com espessura da ordem de 25 micrômetros. Utilizando o mesmo método descrito anteriormente por Gross, e servindo-se da mesma teoria estes dois físicos fizeram os primeiros microfones práticos de eletretos, com patente solicitada US 3118022 e início de produção comercial em 1968.

Um assistente de Gross por quatro anos, o americano Preston Murphy, associou-se a uma empresa americana onde desenvolveu um tipo de microfone de eletreto com base nos conhecimentos adquiridos no Brasil, chegando a abrir uma filial em Barcelona. Gross comenta: “Certamente o mérito do primeiro microfone prático foi do Sessler, porque ele usou o teflon. Entre injetar elétrons em uma folha e fabricar o microfone há um longo caminho, que não teria sido resolvido por mim, nem foi resolvida pelo Sessler, é preciso ter uma seção de acústica já desenvolvida, conhecer a eletrônica dos circuitos acoplados, etc.’’

Não teria sido possível, pelo menos, patentear a parte inicial no Brasil? Gross responde: “Sim, mas era difícil. Agora conheço bem como funciona a Bell. Lá qualquer trabalho científico ou técnico gera memorando. Este memorando é distribuído pela casa, incluindo o departamento de patentes. E lá o pessoal especializado diz: isto nós vamos pegar, vamos primeiro patentear. A pessoa que fez o trabalho não vai registrar a patente. Primeiro não tem condições legais, segundo não tem tempo para fazer a busca necessária nas outras patentes. O pesquisador dá os pontos principais e o departamento de patentes se encarrega. Enquanto não houver um sistema desse tipo, acho difícil competir. Seria bom começar de maneira modesta, a montar um mecanismo deste. Porque senão é bem possível que outra vez se percam resultados importantes.
O professor Gross participou ativamente da criação do Instituto Nacional de Tecnologia na década de 30, do CNPq em 1949 e nos anos 50 da Comissão de Energia Nuclear. Diretor da Divisão de Informação Científica na Agência Internacional de Energia Atômica de 1960 a 1967, em Viena, Gross foi pioneiro na aplicação de modernas técnicas de informação em ciência. Por seus trabalhos recebeu o prêmio B. Houssay da OEA. O prof. Gross faleceu em 1 de fevereiro de 2002.

Um alto-falante recebe impulsos elétricos que colocam sua bobina em movimento. A bobina é solidária a uma membrana que vibra movimentando o ar e dando origem ao som. Um microfone dinâmico é um tipo de alto-falante invertido, provido de uma membrana muito sensível. Quando falamos, nossas cordas vocais fazem vibrar o ar. Se estamos diante de um microfone, essas vibrações fazem mover o seu equipamento móvel .Uma fraca corrente nasce na bobina. Esse sinal, convenientemente tratado, tanto pode ser utilizado para a sonorização como para uma gravação. 

De tecnologia muito recente, os microfones de eletretos são da família dos eletrostáticos. Principal diferença: eles não precisam de alimentação exterior. Certos compostos de origem ferrosa, submetidos à ação de um campo magnético, passam a reproduzi-lo após a supressão do elemento gerador. Em inglês, esse fenômeno denomina-se eletretos. Os eletretos são, então, de certa maneira condensadores polarizados definitivamente. Os microfones de eletreto têm a vantagem de serem mais fortes do que os eletrostáticos, em particular a sua resistência aos choques. A umidade adere menos a ele. 

Fonte: 
http://www.leson.com.br/texto.html 
http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2002/02/02/ger002.html 
http://www.invent.org/hall_of_fame/132.html 
Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, páginas 143 a 157 
acesso em junho de 2002
http://www.mast.br/homepage_did/Arquivos_pessoais/gross.htm 
acesso em dezembro de 2002

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