Já se sabia que sua madeira é de excelente qualidade para fazer cercas e outras construções rurais, além de dar um ótimo carvão. Sua vagem é rica em fibras, sais minerais, carboidratos e açúcares, o que a torna um alimento de alto valor nutricional e que pode virar farinha, mel, açúcar, vinagre, ração animal e até aguardente. A novidade, fruto de uma parceria entre a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é que a Prosopis juliflora, conhecida como algarobeira, também poderá encher o tanque do seu carro. O primeiro álcool de algaroba (vagem da algarobeira) foi extraído este ano pela equipe liderada pelo engenheiro agrícola Mário Eduardo Mata, professor da UFCG. O projeto de pesquisa foi idealizado pelo engenheiro de alimentos Clóvis Gouveia da Silva, doutorando na mesma universidade. Nascido no Cariri paraibano, região sertaneja a cerca de 300 quilômetros de João Pessoa e onde há grande incidência da planta, Silva tem uma forte ligação com a algaroba. Adaptada ao calor e a solos rasos, a algarobeira domina a paisagem da caatinga, apesar de não ser nativa da região. A espécie foi introduzida no Brasil na década de 1940, vinda do Peru e do Sudão, e se proliferou com uma velocidade impressionante. Apesar do potencial nutricional para a alimentação humana, a planta é usada pela população sertaneja basicamente para a produção de madeira, carvão e ração animal. É essa subutilização que Silva busca eliminar com o desenvolvimento de novos produtos de algaroba, entre os quais o álcool combustível.
A algarobeira Prosopis juliflora (Sw) DC, é uma espécie vegetal arbórea da família Fabaceae (leguminosae), subfamília Mimosodae. É conhecida também pelos nomes: algaroba, algarobeira, algarobo. Pouco exigente em água, cuja ocorrência, em sua forma natural, se dá em zonas tropicais áridas, que não chegam a alcançar índices de 100 m. Essa característica é de extrema importância para o nordeste brasileiro, uma vez que a precipitação pluviométrica média anual dessa região gira em torno de 750 mm e, embora seja baixa para outras espécies vegetais, já é 7,5 vezes maior do que essa espécie necessita para ocorrer. Devido a essa pequena exigência em água, comprovada capacidade de medrar em solos de baixa fertilidade e de condições físicas imprestáveis a outras culturas, evidencia-se as grandes potencialidades desta leguminosa como fonte geradora de alimentos para o homem e para os animais, constituindo-se em importante fonte de desenvolvimento para as regiões áridas e semiáridas do planeta. E tem sido pelo as suas múltiplas aplicações e usos, além de outras características importantes, que a algarobeira é reconhecidamente no meio rural nordestino, como “PLANTA MÁGICA”, de valor precioso para o nordestino e tem sido recomendada por conceituados pesquisadores e técnicos da área para a região do polígono das secas.
A semente da vagem de algarobeira, originaria dos Andes no Peru, espalhou-se pelo México, sudoeste dos Estados Unidos, Índia, África do Sul e Austrália, Jamaica e Havaí. Segundo Azevedo, citado por Gomes (1999), as sementes da algarobeira foram introduzidas no Brasil especialmente no nordeste em 1942, no município de Serra Talhada, sertão de Pernambuco, por intermédio da Secretaria de Agricultura deste estado, por recomendação do J. B. Griffing, diretor da Escola Superior de Agricultura de Viçosa Estado de Minas Gerais. Estas sementes foram ali plantadas pelo agrônomo Laurindo Albuquerque e as primeiras mudas tiveram o cuidado do, também Agrônomo, Lauro Bezerra, que as transportou para o local definitivo. Dessa primeira tentativa não se tem informações o seu sucesso o que demonstra que há fortes indícios de que tenha fracassado. Na Paraíba foi introduzida pela primeira vez, na cidade de Serra Branca, no Cariri Paraibano. As primeiras mudas de algarobeira foram trazidas para a região, pelo então engenheiro agrônomo Dr. Inácio Antonino Gonçalves como é carinhosamente conhecido em toda região. Um homem de 85 anos, que dedicou toda a sua vida às ciências agrárias, é responsável pela introdução das algarobeiras na Paraíba, a partir do Cariri.
A algaroba não é uma planta nativa do Brasil. No entanto, devido a sua excelente adaptação às regiões áridas e semiáridas, é encontrada em todos os estados do nordeste brasileiro. Face às dificuldades encontradas, nos períodos de estiagem dessas regiões, podemos afirmar que seria impossível, para o homem do campo, sobreviver sem a algaroba. Suas vargens são palatáveis, aromáticas lembrando baunilha, e doces em função do elevado teor de sacarose, que pode chegar a 30%. Esse altíssimo teor de açúcares fermentescíveis, associado aos altos níveis de nitrogênio favorece os processos de biotransformação no caldo doce extraído de suas vagens, viabilizando os processos tecnológicos de produção de bebidas fermento destiladas.Sua proteína é de qualidade e digestibilidade razoáveis equiparando-se às da cevada e do milho.
A primeira aguardente de algaroba bidestilada e envelhecida em barris de carvalho do mundo, produzida a partir da propagação natural de leveduras propagadas no caldo extraído das vagens da algarobeira, através de processos controlados de biotransformações. Diferencia das outras aguardentes, por apresentar características organolépticas especiais, tais como: aroma agradável de conhaque, uma coloração dourada e transparente e um sabor levemente suave, deixando um hálito perfumado na boca após sua ingestão. Devido aos excelentes resultados apresentados pela bebida a nível de laboratório, o produto já foi patenteado e o projeto para produzir em escala industrial já está em andamento.
Clóvis Gouveia detém depósitos de patentes referentes a sistema micro industrial para obtenção de aguardente bidestilada envelhecida em barris de carvalho a partir da vagem de algaroba e sistema semiautomático para fabricação de vinagre. Atualmente nas regiões semiáridas onde existe a maior produção de algaroba, a utilização das suas vagens se encontra restrita basicamente para a alimentação animal, ignorando-se totalmente o alto teor de açucares existente no seu mesocarpo.
Com o objetivo solucionar esse problema, desenvolveu-se um sistema de aproveitamento desses açucares, na transformação a nível micro industrial, desse potencial num produto de valor comercial reconhecido (aguardente). O sistema se fundamenta basicamente em três etapas básicas: a extração onde o material é submetido aos processos de obtenção do mosto. A fermentação: onde se controla todo o processo de biotransformação dos açucares em álcool etílico e a destilação pela qual transforma o álcool obtido em aguardente. O produto é dito bidestilado e envelhecido, porque após a destilação sofre uma redestilação e um envelhecimento em barris de carvalho, conferindo características sensoriais especiais.
Atualmente grandes quantidades de frutas se perdem desde a produção até o consumo, chagando a aproximadamente 30%. Essas frutas, mesmo que danificados podem ser aproveitados através de processos fermentativos simples, em sistema simplificados de processamento a nível doméstico, transformando-se em produtos de elevado valor nutritivo, de reconhecido valor comercial e excelente qualidade. Hoje toda essa matéria prima é desperdiçada, enquanto que poderia se melhor aproveitada em para produção de alimentos. Com o objetivo solucionar esse problema, desenvolveu-se um sistema semiautomático de aproveitamento dessas perdas na transformação a nível doméstico, desse potencialidades, num produto de valor comercial reconhecido (Vinagre).
No entanto, o entusiasmo de Silva com a algaroba não é uma unanimidade entre os especialistas. Para o engenheiro agrônomo Leonaldo Andrade, professor da Universidade Federal da Paraíba, a algarobeira é um sério problema ecológico não resolvido. Andrade coordenou um projeto de avaliação dos impactos da algaroba sobre a fitodiversidade e a estrutura da caatinga. Nesse trabalho, realizado em seis municípios na Paraíba e no Rio Grande do Norte e financiado pela Fundação O Boticário, a equipe levantou dados alarmantes. De proliferação agressiva, a algarobeira chegou a dizimar várias espécies nativas em determinadas regiões. A oiticica e a caibreira, árvores nativas importantes da vegetação ciliar do sertão, estão entre as espécies mais ameaçadas pela algaroba. “É necessária uma ação urgente de governo a fim de conter a proliferação da algarobeira e salvar as espécies nativas,” declara o agrônomo. Sobre a perspectiva de um futuro mercado de álcool de algaroba, o pesquisador se mostra ainda mais preocupado. “Uma lavoura de algaroba teria que ser bem controlada. Isolada dos animais, por exemplo. E, no Brasil, sabemos que esse controle é difícil,” diz Andrade. Os animais, ao comerem as vagens, se tornam os principais vetores das sementes. Por isso, eles estão entre os objetos do novo projeto de pesquisa de Andrade, que envolve o mapeamento da dinâmica de proliferação da algaroba, também fomentado pela Fundação O Boticário. Clóvis da Silva e Leonaldo Andrade concordam que a planta deva ser cultivada em lavouras controladas e sobre técnicas específicas para garantir produtividade e segurança ao meio ambiente. O engenheiro agrônomo, porém, defende uma solução radical para as plantas selvagens, a dizimação. “Uma invasão biológica só se agrava com o tempo. Sem inimigos naturais, a espécie invasora que consegue se adaptar e se reproduzir tende a dominar o novo ambiente e a eliminar as demais,” explica.
Fonte:
Pesquisadores paraibanos desenvolvem biocombustível da algaroba, Por Fabio Reynol , Comciencia 20/04/2007
Agradeço a colaboração de Clovis Gouveia ([email protected], [email protected], [email protected]) que enviou informações em junho de 2005 para composição desta página