Na década de 1980, a cientista brasileira Ruth Nussenzweig, da Universidade de Nova York, publicou os resultados de um estudo que apresentou uma ideia contrária ao que muitos acreditavam e que abriu caminhos para o desenvolvimento de uma solução contra a malária, doença que mata mais de 1 milhão de pessoas por ano no mundo.
Ruth e equipe induziram proteção em camundongos injetando nesses animais uma forma do parasito, denominada proteína circunsporozoíta (CS). Com a experiência, a pesquisadora percebeu que a imunidade protegia os animais e que os soros desses continham anticorpos que causavam no esporozoíta (forma ativa do parasita da malária) isolado uma reação, a qual chamou de CSP. Em seguida, concluiu que o soro dos camundongos continha o mesmo tipo de anticorpos do soro de indivíduos expostos em áreas de transmissão que haviam adquirido a imunidade naturalmente, se uma pessoa contrai malária várias vezes, ela acaba se tornando imune. Hoje, baseada na mesma proteína descrita pela cientista, uma vacina contra a malária está sendo testada em adultos e crianças de 1 a 4 anos na África, continente que detém o maior numero de casos da doença no mundo.
“Não se acreditava que pudesse haver uma vacina, uma vez que, na natureza, o indivíduo pode pegar malária várias vezes. Nossa pesquisa também demonstrou ser possível injetar em um animal uma forma do Plasmodium, um protozoário, acabando com a ideia de que isso não era possível”, relembra Ruth, três décadas depois, em entrevista à Agência FAPESP. “A vacina que estamos testando tem apresentado uma taxa de eficácia de 60% contra a chamada ‘malária grave’. A proteção tem durado até um ano.”
Desenvolver uma vacina contra um vírus ou uma bactéria é mais fácil do que contra um protozoário, como é o caso do Plasmodium, o parasita causador da malária. “A multiplicidade e a riqueza de antígenos no parasito são maiores do que as do vírus”, explicou o médico imunologista Cláudio Ribeiro, chefe do departamento de Imunologia e do Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC, no seminário no Rio de Janeiro. Um parasito pode ter até 6 mil genes.
“A multiplicidade de resposta imune induzida no hospedeiro que ele infecta também é outro obstáculo. Algumas respostas são protetoras, outras podem ser nefastas. Além disso, a especificidade da resposta imune é tão importante quanto o contexto no qual ela é montada, que pode depender de infecções parasitárias que ocorram concomitantemente”, disse. Outro obstáculo, segundo Ribeiro, é o fato de os antígenos e os genes poderem variar. O pesquisador também salienta a importância de os profissionais da área médica de regiões não malarígenas levarem em conta a possibilidade de diagnóstico da malária ao defrontar com pacientes que apresentem sintomas como febre, dor nas pernas e dor de cabeça forte após terem passado por áreas de surtos da doença. O prêmio Henrique Aragão foi criado por Ribeiro e por Hooman Homem, da Fundação Oswaldo Cruz, em 1991, e já foi concedido a pesquisadores como Leônidas Deane, Lobato Paraense e Pedro Tauil. Ruth Nussenzweig é a primeira mulher a recebê-lo.
A cloroquina ainda é o mais eficaz e barato remédio contra a malária, diz a Dra. Ruth. A comprovação de que seria possível se desenvolver uma vacina contra a doença foi conseguida há muitos anos em laboratório, com roedores infectados por parasitas atenuados por raios gama; estes animais deveriam morrer pois estavam contaminados por um tipo altamente letal de malária. No entanto, a grande maioria ficou imunizada. Foi uma imunidade estéril, ou seja, após os testes não encontramos nenhum parasita circulante nestes animais.
Posteriormente conseguiu se bons resultados em macacos, e no inicio da década de 70 começamos a fazer experimentos em humanos. Os resultados foram gratificantes, pois boa parte conseguiu ficar completamente imune contra Plasmodium falciparum e outro grupo infectado pelo P.vivax atenuado pelos raios gama ficou protegido contra o parasita.
Este foi o primeiro indício de que uma vacina é possível e, de certo modo, foi importante porque havia a ideia entre os pesquisadores de que a imunidade desenvolvida pela natureza é lenta e nem sempre totalmente estéril, pois sempre encontramos mesmo em número pequeno parasitas circulantes nos indivíduos repetidamente infectados. No entanto, esta vacina não pode ser feita em massa, pois seria necessário um criadouro de mosquitos que seriam infectados por culturas de P.falciparum onde os voluntários seriam expostos a centenas de picadas de mosquitos irradiados e não irradiados.
Então, partiríamos para uma vacina baseada em DNA recombinante, ou urna vacina recombinante e outra sintética, mas precisávamos primeiro saber quais eram os antígenos protetores, então separamos e clonamos a primeira proteína protetora, e no ano passado nos EUA e na Bélgica com o apoio da SmithKline Beecham demonstramos ser possível imunizar voluntários humanos com urna proteína híbrida que possui parte da proteína da superfície do vírus da hepatite B e parte da proteína circunsposta da malária falciparum e, no grupo que teve muitos adjuvantes potentes e necessários para este tipo de vacina.
Houve proteção completa de cerca de sete indivíduos. Hoje, estamos produzindo vacina sintética que esta sendo ensaiada em voluntários humanos na Universidade de Maryland. Esta vacina, que contém alguns dos adjuvantes usados pelo exército americano e pela SmithKline Beecham, apresenta resultados preliminares que indicam que estes voluntários estão desenvolvendo alta imunidade, em níveis idênticos aos alcançados pela proteína híbrida. Na Universidade de Genebra (Suíça), existem outros experimentos, também com vacina sintética, mas com composição diferente, baseadas na mesma proteína que utilizamos. Ainda não temos resultados preliminares. É cedo para falarmos em uma vacina, pois os experimentos em humanos são longos; foi necessário esperar cerca de cinco anos para experimentar em humanos a primeira vacina conseguida em Maryland e teremos que esperar mais cinco para testar as novas vacinas, mas as perspectivas são boas.
Cientistas do Instituto de Pesquisas Walter Reed, do Exército norte-americano, informaram ter alcançado bons resultados com uma vacina experimental contra a malária. Foram injetadas três doses de vacina em sete voluntários antes da exposição ao mosquito anofeles, onde se aloja o Plasmodium falciparum, causador da doença. Dos sete, apenas um contraiu malária depois da exposição. “Será importante determinar agora a eficácia do produto em pessoas que vivem em áreas onde a doença é endêmica, onde os níveis de transmissão são altos e existem múltiplas cepas do parasita”, afirmou Ruth Nussenzweig, cientista da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, em comentário que acompanha o artigo sobre os resultados da pesquisa na revista New England Journal of Medicine.
A vacina é composta de uma proteína expressa pelos esporozoítos, ou células do parasita instaladas no mosquito, cuja estrutura foi identificada pela primeira vez há mais de dez anos pelo casal Victor e Ruth Nussenzweig; e o chamado adjuvante, ou substância ligante que estimula a imunidade do organismo – no caso, antígenos da superfície da hepatite B. “Cientificamente, é a primeira vez que uma vacina experimental que ainda tem um alto potencial para ser aperfeiçoada alcança semelhante grau de proteção contra o parasita antes que este ingresse nos glóbulos vermelhos do sangue”, afirmou um porta-voz do laboratório inglês SmithKline Beecham, cuja filial belga participou da pesquisa.
“É uma boa notícia”, conclui o pesquisador da Universidade de São Paulo Marcos Boulos. Mas ele frisa que, quando se trata de vacina contra malária, toda cautela é pouco. “Hoje, só temos vacinas contra vírus, que são organismos menores e muito mais simples”, explicou. “Já o causador da malária é um parasita, ser muito mais complexo.” A mesma cautela foi manifestada pelo médico colombiano Manuel Patarroyo, criador da primeira vacina química contra malária, cujos últimos resultados obtidos em vacinações na África e também no Brasil não foram muito alentadores. “É muito cedo para dizer alguma coisa” , observou. A vacina desenvolvida pelo colombiano age em uma fase do desenvolvimento do Plasmodium falciparum diferente daquela atacada pelos pesquisadores norte-americanos. Patarroyo ataca o parasita na circulação sanguínea, quando ele arrebenta os glóbulos vermelhos que servirão de alimento para os mosquitos transmissores. A vacina desenvolvida nos EUA age durante a infecção.
Doença infecciosa, febril, não contagiosa, sub aguda, aguda e algumas vezes crônicas, causada por protozoários do gênero Plasmodium, principalmente as espécies vivax e falciparum, transmitida através da picada das fêmeas dos mosquitos do gênero Anopheles. Dentre todos os anofelinos transmissores de malária (cerca de 200 espécies), o Anopheles darlingi destaca-se como a espécie mais importante. Distribui-se por toda a Amazônia, onde atinge anualmente uma parcela expressiva da população, sendo frequentemente i aparecimento de formas graves, inclusive com elevada mortalidade. O período de incubação pode variar de nove a quarenta dias, os sintomas são mais graves nos indivíduos primo-infectados. O quadro clínico caracteriza-se por : cefaleia, mialgias, prostração, perda do apetite, mal-estar geral e calafrios seguidos de febre de início súbito, elevada (acima de 40ºC) e intermitente, que ao cessar desencadeia intensa sudorese.
Nas formas graves o paciente apresenta também vômitos, diarreias, cianose de extremidades, pele fria e pegajosa. Pode haver diminuição do volume urinário nas 24 horas evoluindo para Insuficiência Renal Aguda. Complicação frequente nos casos graves é o Edema Pulmonar e a Síndrome de Angústia Respiratória do Adulto, além de sangramentos digestivos, subcutâneos e de outras localizações, que em geral leva, à morte. O diagnóstico é clínico-epidemiológico e laboratorial, através da detecção de plasmódios no sangue periférico (esfregaço ou gota espessa), além da utilização de métodos imunoenzimáticos ou de radioimunoensaio nos casos de maior dificuldade diagnostica. O tratamento é feito com drogas antimaláricas com o uso de Cloroquina e Primaquina para P.vivax e Quinino associado a antimicrobianos e mas recentemente derivados da Artemisina, no tratamento de malária pelo P.falciparum. Os pacientes graves necessitam de cuidados em Unidade de Terapia Intensiva. Medidas de proteção individual, com o uso de repelentes nas áreas expostas do corpo e a instalação de telas nas portas e janelas das habitações, são inviabilizadas pelas condições climáticas regionais (calor e umidade excessivos). No momento não se dispõe de vacinas para uso clínico.
Fonte:
http://www2.netpoint.com.br/sbmt/sbmt69.htm
http://www.estado.estadao.com.br/jornal/97/01/09/MARTA09.HTM
http://www.terra.com.br/istoe/1655/medicina/1655_tratamento_segunda.htm
http://www.lincx.com.br/lincx/orientacao/esp_medica/doencas_tropicais.html
http://www.med.nyu.edu/research/nussev01.html
acesso em junho de 2002
http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7003
acesso em abril de 2007