O besouro da nicotina (Lasioderma serricorne) é um inseto que vive a sua vida inteira nos arredores de plantações de tabaco. Esse tipo de besouro acha o tabaco seco agradável e confortável para poder depositar os seus ovos, que emergem mais tarde como larvas que se alimentam de tabaco e depois eventualmente se transformam em besouros adultos. Num período de vida de 6 a 20 dias a fêmea deposita cerca de 100 ovos, que são colocados em pequenas fendas dos fardos de fumo ou nos charutos. A larva, bastante ágil, de coloração clara, com um corpo grosso de forma curvada e coberto com pilosidades, cava galerias cilíndricas nos fardos de fumo e, também, nos charutos, roendo, na sequência, extensas áreas. Tanto a larva como o besouro do tabaco, são considerados problemas sérios para os produtores de tabaco, causando milhões de dólares em prejuízos todos os anos. Como se não bastasse todo o controle durante a produção, os ovos do besouro ainda conseguem sobreviver durante o processo da produção de tabaco em cigarros para o consumo humano.
Herman Lent passou 49 anos de sua vida no Instituto Oswaldo Cruz. Por uma exceção aberta pelo próprio Carlos Chagas, começou muito jovem como estagiário no laboratório de helmintologia do professor Lauro Travassos, seu grande mestre. Posteriormente, voltou-se para a entomologia. Até ser cassado pelo regime militar, em 1970, atuou em Manguinhos como pesquisador e professor. Em 1961, Lent foi procurado por um funcionário da empresa Souza Cruz, uma multinacional fabricante de cigarros. A empresa buscava uma solução para a proteção das folhas de fumo em estoque, que estavam sendo estragadas pela broca resistente aos inseticidas empregados. O funcionário tinha observado, nos armazéns, que entre os sacos de fumo havia muitas teias de aranha cheias dessas brocas. Interessado no assunto, Lent viajou para Salvador e Porto Alegre, onde se encontravam os principais armazéns, acompanhado de um colega do instituto, S. J. de Oliveira. A pesquisa daria origem a dois trabalhos sobre a possibilidade do uso da aranha Uloborus geniculatus no controle biológico da broca Lasioderma serricorne. Um desses estudos não pode ser concluído por causa do golpe de 1964.
O movimento militar de 1964 instaurou inquéritos que visavam a apurar subversão, corrupção e o emprego dos recursos financeiros em Manguinhos. Foram afastados oito chefes de seção e o diretor, substituído por Francisco de Paula da Rocha Lagoa. Em 1965, Rocha Lagoa apontou 16 cientistas que seriam intimados a prestar contas sobre a acusação de ‘conspirar em seus laboratórios’. No governo de Emílio Médici, Rocha Lagoa foi nomeado ministro da saúde e levou a cabo a perseguição aos pesquisadores de Manguinhos, iniciada quando assumira a diretoria. Em 1970, o Ato Institucional nº 5 cassou dez cientistas do Instituto, entre os quais o professor Lent. Após 39 anos em Manguinhos, ele foi sumariamente aposentado e impedido legalmente de exercer a profissão, em qualquer centro científico do país. Herman Lent, publicou um livro pela editora Avenir em 1978: O Massacre de Manguinhos, título que a partir de então foi adotado pela comunidade científica para expressar o desmantelamento do Instituto Oswaldo Cruz.
Fonte:
http://www.bernardoquimica.com.br/ident2.html
http://www.geocities.com/axsite3/colunasx/txfcolunasx-05/txfcolunasx07-25.htm
http://www.tecnigran.com.br/html/lasioderma_serricorne.htm
http://www.uol.com.br/cienciahoje/perfis/lent/lent1.htm
acesso em julho de 2002
Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 493