“Bioinseticida Spherico”

No Nordeste ele é conhecido por muriçoca, no sul é mosquito, em Minas seu nome é pernilongo e em Belém é carapana. Apelidos à parte, o mosquito urbano causa grande incomodo, principalmente nas grandes cidades, devido ao adensamento populacional e à precariedade de saneamento básico. O mosquito é mais encontrado em lugares onde existam córregos, canais de coleta de esgoto, lagos, lagoas, piscinas. Na capital pernambucana, porém, o distúrbio causado por este inseto passa do simples incômodo. O mosquito Culex é transmissor de doenças. Nas favelas de Recife, a alta incidência de filarioses (entupimento dos vasos sanguíneos) do tipo elefantíase deve-se à alta incidência de mosquitos urbanos. O trabalho sanitário da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) na cidade, combinado com a aplicação de um inseticida com o mesmo princípio ativo do Spherico, realizado há alguns meses, vem dando resultados, apesar de a população de larvas ainda se constituir num problema.

 

Spherico é o nome do primeiro bioinseticida a entrar no mercado. Fruto do estudo do laboratório de bacteriologia do Centro Nacional de Recursos Geneticos e Biotecnologia (Cenargen), o inseticida biológico foi lançado comercialmente na Exposição Agropecuária Internacional do Rio Grande do Sul, a Expointer 96. O Spherico será produzido em larga escala pela Geratec, empresa gaúcha de inoculantes para leguminosas. Formada por um grupo de cooperativas de produtores, a Geratec é orientada à pesquisa, produção e comercialização de produtos biológicos.

Desde 1990, a Geratec se associou à Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola (Embrapa) para produção do bioinseticida e integrou os estudos feitos pelo Cenargen. Os estudos para chegar ao inseticida biológico começaram em 1987 com o entomologista Paulo Vilarinhos. Ele regressou ao Brasil, depois de estudar nos Estados Unidos, animado com o uso da bactéria “Bacillus sphaericus” como bioinseticida. Apesar de encontrada e isolada em 1904, foi só em 1964 que uma pesquisadora norte-americana descobriu o potencial da bactéria para matar mosquitos. Os testes desenvolvidos pelo Cenargen vinham sendo aplicados sempre com o mesmo principio ativo, embora com processos diferentes de produção, até que se chegou ao produto definitivo em 1992. Segundo José Manuel Cabral, que coordena os trabalhos desde 1988, a bactéria “Bacillos sphaericus” é extremamente eficiente no combate ao mosquito urbano.

Isso ficou comprovado nesses anos de estudo, quando as quadras da Asa Norte de Brasília foram dedetizadas com o bioinseticida sem que seus moradores soubessem. Técnicos da Gerencia de Zoonoses começaram o trabalho pela Superquadra Residencial Norte (SQN) 302. Habitada por famílias de deputados, ela foi escolhida por ter hábitos de higienização homogêneos, já todos os blocos funcionam como se fossem um único condomínio. Aos poucos, as outras quadras foram entrando no projeto e, hoje, toda Asa Norte é dedetizada com o bioinseticida. O resultado é surpreendente. O controle do numero de larvas chega perto dos 100 por cento. Como o meio de transporte do mosquito urbano é a água, as caixas de depósito das garagens subterrâneas dos prédios eram os alvos do controle. “As pessoas costumam lavar os carros ali dentro e o acúmulo é certo”, comentou Cabral. Em outras regiões, o transporte das larvas é feito pela água dos esgotos que correm a céu aberto. Cidades sem rede de esgoto adequada sofrem muito mais com o excesso de mosquito.

Cabral salientou que a aplicação com o Spherico tem muito mais vantagens do que a dos inseticidas químicos. Primeiro, porque não prejudica a saúde do aplicador, da população em geral e o meio ambiente. Além disso, a bactéria age especificamente sobre os mosquitos urbanos de nome cientifico “Culex pipiens” e “Culex quinquefasciatus”, não afetando outros seres vivos como peixes, abelhas ou crustáceos. Essa característica aumenta o poder de ação do inseticida. O bioinseticida pode ainda ser aplicado em qualquer quantidade, sem causar resistência nos insetos. No controle químico, os mosquitos passam a desenvolver resistência e isso resulta na necessidade de aumentar as doses a níveis que se tornam prejudiciais ao meio ambiente e às pessoas. O Spherico é também mais econômico, pois sua aplicação é destinada ao uso coletivo, como o setor publico ou grupos organizados de moradores. Dezenas de prefeituras brasileiras já mostraram interesse no produto. Os gastos ficam minimizados porque deixa de ser necessário o uso de materiais de proteção tais como máscaras, botas e macacões. “O máximo que o aplicador vai usar é uma mascara pequena para proteção da boca e do nariz, como aquelas usadas pelos médicos”, exemplifica Cabral.

 

Fonte: http://csf.colorado.edu/mail/elan/96/sep96/0022.html

acesso em abril de 2002

http://www.cassi.com.br/dengue/entrevista/entrevista1.htm

acesso em janeiro de 2003

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