Tubos de Ferro Fundido por Centrifugação

Entre as indústrias pioneiras de mecânica e metalurgia brasileiras, do início do século XX, um fato notável foi a invenção brasileira da fabricação de tubos de ferro fundido por centrifugação, de autoria dos Engs. Fernando Arens e Demètre Sensaud de Lavaud, patenteado pelos inventores e hoje em dia de uso generalizado em todo mundo. O engenheiro francês radicado no Brasil Demètre Sensaud de Lavaud em Osasco em janeiro de 1910 realizou o voo do primeiro avião inteiramente projetado e construído no Brasil, e na América Latina, o monoplano “São Paulo”. Como conta o Eng. Adriano Marchini, as primeiras experiências para elucidar os problemas que ocorrem na centrifugação do metal líquido e determinar a velocidade ótima de rotação do molde, foram feitas a partir de 1909, no ainda acanhado laboratório de Resistência dos Materiais da Escola Politécnica de São Paulo, núcleo do futuro Instituto de Pesquisas Tecnológicas.

 

Em 1875, Guilherme MacHardy, procedente da Escócia, instalou uma fundição e fábrica de máquinas agrícolas em Campinas, após ter trabalhado como mecânico na firma importadora de máquinas agrícolas Lidgerwood, desde 1872. Por volta de 1877, foi instalada fundição, serraria e ferraria de Arens Irmãos, brasileiros (filhos de alemães). Os três irmãos estudaram engenharia mecânica na Alemanha, voltando ao Brasil em 1874, quando se estabeleceram na Corte como importadores de máquinas para a lavoura e indústria. Fernando Arens, incumbido de estabelecer uma casa filial em São Paulo, escolheu a cidade Campinas, onde foi estabelecido armazém de gêneros importados, máquinas e implementos para a lavoura, máquinas de costura, etc.; na década de 1880 o estabelecimento passou a produzir suas próprias máquinas.

No início da década de 1880, Campinas era considerada uma das cidades mais importantes da província de São Paulo, e talvez, de todo o Império. Colocada em vasta planície, com longas ruas retas e espaçosas, já possuía serviço regular de bondes e iluminação a gás (companhia de iniciativa e propriedade dos campineiros). O comércio local era dinâmico, e contava com importantes casas filiais da Corte (como Lidgerwood e Arens. Irmãos), casas de ferragens e armarinhos por atacado, armazéns de molhados, de fazendas, de modas e novidades, lojas de calçado, etc.

A primeira experiência real de centrifugação de tubos, ainda com uma maquina primitiva, foi realizada em Santos, em 1915, e logo a seguir em São Paulo, quando se conseguiu, pela primeira vez no mundo, produzir tubos por esse processo. Nesse mesmo ano é organizada em São Paulo a “Cia. Brasileira de Metalurgia”, para explorar comercialmente o invento, e cujo diretor-técnico era o Eng. Leopoldo Sidow. Antes disso, o Eng. Arens já havia instalado a sua máquina na usina siderúrgica Esperança, em Minas Gerais, onde conseguiu fabricar os tubos diretamente do alto forno. Na Cia. Brasileira de Metalurgia as máquinas e os processos de fabricação foram sendo aperfeiçoados: Em 1922, a fábrica em Indianópolis, São Paulo, podia produzir 3.600 tons./ano de tubos de 3 a 12 polegadas de diâmetro, e uma notícia de 1927 relata os diversos aperfeiçoamentos que foram sendo introduzidos,-estava em uso já o “modelo n” 10 da máquina de centrifugar -, bem como o desenvolvimento do invento no estrangeiro, sendo as máquinas para o mercado europeu fabricadas sob licença na Suíça. Um dos aperfeiçoamentos do processo era o recozimento posterior dos tubos para melhorar as qualidades metalúrgicas do material, o que era feito em um forno contínuo, também uma novidade naquela época.

Outra notícia, também de 1927, conta a experiência de resistência à pressão desses tubos, feita com todo sucesso perante engenheiros da Repartição de Águas e outras autoridades, entre as quais os Engs. Francisco Saturnino R. de Brito e o Prof. Maurício Joppert da Silva. Em 1933, a Barbará S.A. tendo absorvido a fábrica de Indianópolis, fabricava ali e em sua nova fábrica em Caeté, MG, tubos, válvulas e conexões de ferro fundido para água, gás e esgotos, em diâmetros até 20 polegadas. Ainda quanto à fabricação de tubos metálicos, em 1927 é instalada no bairro do Ipiranga, em São Paulo, a fábrica de tubos de aço da Braithwaitc & Co., especialmente para fazer a tubulação necessária para a grande adutora do Rio Claro.

Em 1914, na cidade de Santos, SP, Fernando Arens Jr. e Dimitri Sensaud de Lavaud desenvolvem o processo de centrifugação de tubos de ferro fundido, que revolucionaria a indústria do setor. Estabelecem, na capital paulista, a Cia. Brasileira de Metalurgia, para produzir os tubos centrifugados. O novo processo, que substitui a tradicional fundição em moldes de areia, a princípio horizontais, mais tarde verticais, aumenta enormemente as já então reconhecidas vantagens do tubo de ferro fundido. E este processo ganha o mundo sob o nome De Lavaud. Em 1929, Baldomero Barbará, adquire a patente do processo de centrifugação e funda a Cia. Mineira de Metalurgia, em Caeté – MG, à qual, em 1932, incorpora a Cia. Brasileira de Metalurgia, dos próprios inventores do processo, e dá origem à BARBARÁ S.A.

Em 1937, Baldomero Barbará decide construir uma nova fábrica, mais próxima dos dois maiores centros consumidores do país: Rio de Janeiro e São Paulo. 0 local escolhido é Barra Mansa, RJ. Ali nasce, a CIA. METALÚRGICA BARBARÁ. 0 nome BARBARÁ fica, a partir daí, para sempre associado ao tubo de ferro fundido. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Inglaterra culminam, em 1948, em nova descoberta revolucionária: o ferro fundido dúctil. Traz notáveis vantagens, se comparado ao ferro fundido cinzento: resistência aos choques e à tração, alto limite elástico, elevado alongamento. A BARBARÁ aperfeiçoa sucessivamente os seus produtos: da junta de chumbo evolui para a junta elástica; passa a revestir os tubos internamente com uma camada de argamassa de cimento; muda a sua produção de ferro fundido cinzento para dúctil; passa a revestir os tubos externamente com uma camada protetora de zinco.

 

 

Fonte:

http://www.tiosam.net/enciclopedia/?q=Saint-Gobain

acesso em maio de 2009

História da Engenharia no Brasil – século XX, Pedro Carlos da Silva Telles, Clube de Engenharia, Rio de Janeiro, 1984-1993, p. 230, 310, 624

Dissertação de Mestrado, Dinâmica Econômica e Formas de Sociabilidade: Aspectos da diversificação das atividades urbanas em Campinas (1870-1905), Renata Bianconi, ORIENTADOR: Prof. Dr. José Ricardo Barbosa Gonçalves, Mestrado em História Econômica, Instituto de Economia, UNICAMP, Campinas, Fevereiro de 2002.

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