O plantio de uma variedade de cana-de-açúcar geneticamente modificada pode diminuir o uso de agrotóxicos nas lavouras. Pesquisadores brasileiros desenvolveram a cana transgênica resistente à broca, uma das principais pragas que atacam essa planta. Com a utilização da nova técnica, espera-se que os prejuízos provocados pelos insetos possam regredir a patamares inexpressivos.
A planta resistente é obtida a partir da transferência dos inibidores de proteinase dos genes da soja para os da cana-de-açúcar. Esses inibidores são enzimas encontradas em todas as plantas que impedem a ação de proteínas digestivas no intestino dos insetos. Sua ação provoca na broca uma deficiência nutricional aguda que atrapalha seu desenvolvimento, locomoção e reprodução. A técnica permite reduzir gradualmente o uso de inseticidas e manter sobre controle uma população de insetos que não provoca maiores danos à lavoura.
“A técnica é totalmente natural, não tem impacto ambiental e nem prejudica o homem”, afirma Márcio de Castro Silva Filho, um dos biólogos responsáveis por seu desenvolvimento, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), em Piracicaba (SP). Segundo ele, o procedimento só pode obter um resultado expressivo se forem respeitadas algumas condições. É preciso, por exemplo, manter a proporção de duas plantas normais para cada oito transformadas. Com isso, pretende-se retardar ao máximo o surgimento de insetos resistentes aos inibidores. No entanto, o pesquisador prevê que isso acabará acontecendo. “A cada geração de insetos, nascem alguns que resistem aos agrotóxicos. Por isso, os usados hoje são diferentes dos de trinta anos atrás.”
No momento, todos os exemplares da cana-de-açúcar geneticamente transformada encontram-se plantados em estufa. Mesmo após a conclusão dos testes que restam, eles não serão liberados para o plantio, devido à falta de legislação no Brasil sobre a questão. Para Castro, isso é uma contradição, já que “a maior parte dos alimentos importados passam por alguma modificação genética”. Ele alega não haver casos documentados em que um alimento transgênico tenha feito mal a uma pessoa. Como não há previsão de regulamentação para a legislação sobre o assunto, a cana transgênica terá que permanecer na estufa por algum tempo.
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n105.htm
acesso em janeiro de 2002