“Algodão Colorido”

O programa de melhoramento do algodoeiro na Embrapa, foi iniciado em 1975, como principal atividade do Centro Nacional de Pesquisa de Algodão/CNPA, sediado em Campina Grande, PB. As prioridades iniciais foram a coleta e preservação de ermoplasmas nativos e o melhoramento do algodoeiro arbóreo, tipo mocó (Gossypium irsutum L.r. var. marie galante Hutch.) e do algodoeiro anual de fibra extralonga, derivados da Acala del Cerro. Durante a década de oitenta, o melhoramento do algodoeiro anual de fibras médias (G. hirsutum L.r. var. latifolium utch.) de ciclo precoce, foi sendo priorizado, simultaneamente com a redução do programa de melhoramento do algodoeiro mocó. Durante a década de noventa, a prioridade passou a ser o melhoramento do algodoeiro para adaptação aos cerrados brasileiros e a obtenção de cultivos resistentes a doenças fúngicas e viróticas.

 

O algodão colorido foi desenvolvido pelos incas em 4.500 AC, bem como por outros povos antigos das Américas, África e Austrália. No entanto sua utilização se limitava ao artesanato por possuir fibras fracas e pouco uniformes. A maioria das espécies primitivas de algodão possuem fibras coloridas, principalmente na tonalidade marrom. No Brasil, foram coletadas plantas de algodoeiros asselvajados, nas tonalidades creme e marrom, em misturas com algodoeiros brancos cultivados, das espécies G. barbadense L. e G. hirsutum L. raça marie galante Hutch, conhecidos como algodões arbóreos. Estes algodões coloridos, sempre foram considerados como misturas indispensáveis pelos industriais, tendo uso apenas artesanal e ornamental, principalmente nos Estados da Bahia e Minas Gerais. Estes algodoeiros foram preservados em bancos de germoplasma da Embrapa Algodão, em Patos, PB, desde 1984. A partir de 1989 , foi iniciado o trabalho de melhoramento genético, após uma visita de empresários têxteis japoneses, que demonstraram interesse em adquirir este tipo de fibra.

No Brasil o pesquisador da Embrapa Napoleão Macedo explica que o algodão BRS 200 foi obtido a partir do melhoramento genético de uma espécie de algodão nativa do semiárido nordestino, conhecida como Mocó. Os pesquisadores observaram que algumas dessas plantas apresentavam aleatoriamente a coloração marrom. A eles coube a tarefa de combinar, numa mesma espécie, genes responsáveis pela cor e genes produtores de plantas com fibras mais resistentes. Graças a essa intervenção tecnológica foi possível produzir um algodão comercialmente viável. Inicialmente foi efetuada uma avaliação da produtividade e das características de fibras dos 11 acessos de algodão arbóreo colorido existente no Banco de Germoplasma. Constatou-se que o comprimento das fibras dos acessos coloridos variou de 25,9 a 31,6mm, a resistência era muito fraca, com 60% dos materiais variando de 19,5 a 21,7 gf/tex, o que impossibilitaria sua industrialização em fixações modernas, que exigem algodões de alta resistência. As fibras eram também excessivamente finas e de baixa uniformidade. A produtividade, à nível de campo variou de 294 a 1.246 kg/há .

Foi colocado como objetivo do programa de melhoramento elevar a resistência das fibras, finura, comprimento e uniformidade bem como estabilizar a coloração das fibras nas tonalidades creme e marrom e elevar a produtividade a nível de campo. Utilizou-se inicialmente o método de seleção individual com teste de progênies, e posteriormente o método de hibridação seguido de seleção genealógica, para obtenção de variações nas tonalidades de cores. A partir de 1996 foram incluídas nas pesquisas algodões de coloração verde e procuradas novas combinações de cores, através do cruzamento dos algodões marrom, creme e verde. Nos últimos três anos, foram estudadas 217 progênies, 35 novas linhagens e 22 linhagens avançadas de algodão colorido, nos municípios de Patos e Monteiro, PB e Touros, RN.

Com o processo de melhoramento contínuo as linhagens avaliadas em 1997 apresentaram produtividade em torno de 1.500 kg/ha, resistência de fibras na faixa de 23 a 25 gf/tex, finura fina (I.M.) de 3,4, comprimento de fibra (S.L. 2,5%) de 29,5mm e uniformidade de 48,0%. A produtividade média, a nível de campo, supera as cultivares de algodoeiro mocó precoce em mais de 50%. Por outro lado, com estas características de fibras, os algodões coloridos melhorados, podem ser processados por indústrias têxteis modernas. Nas avaliações de fios de algodão colorido de títulos 16Ne e 20Ne, obteve-se resistência do fio de 13,5 e 12,3 gf/tex, respectivamente; alongamento de 6,9; e 56 pontos finos/kb e 112 pontos grossos/km; índices que confirmam a boa qualidade do fio.

A pesquisa encontra-se na fase de aumento de sementes e lançamento da cultivar de fibras coloridas, BRS 200 – Marrom. As sementes foram aumentadas em áreas irrigadas, no município de Touros e Ipanguaçu, RN, e Patos, PB, nos anos de 1998 a 2000. Dentre nove linhagens coloridas foram escolhidas duas de coloração marrom/creme, para plantio no Campo Experimental de Patos, PB, e Barbalha, CE, visando sua apresentação aos produtores em junho/2000. Posteriormente, no ano 2001 será disponibilizada aos produtores, sementes de uma cultivar de algodoeiro anual de fibra verde, derivada da cultivar CNPA 7H.

A primeira região indicada para o plantio do algodão colorido, inicialmente será aquela zoneada para o cultivo do algodoeiro arbóreo no Nordeste, podendo no futuro a produção deste algodoeiro se expandir para outras regiões. Foi formado um consórcio de empresas de confecção (Natural Fashion) para criação de uma coleção de moda com algodão colorido a ser apresentada na FENIT 2000. Os produtos com algodão colorido brasileiro chegarão aos consumidores a partir do 2° semestre de 2000. Na década de 40, o município de Campina Grande na Paraíba foi o segundo maior polo comercial de algodão do mundo, atrás somente de Liverpool, na Inglaterra. O cultivo foi dizimado pela praga do bicudo. Por intermédio da tecnologia agrícola, a produção de plumas está sendo retomada. Com uma novidade: dez empresas paraibanas reuniram-se em consórcio para produzir vestuário utilizando algodão que já nasce colorido. Técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Campina Grande melhoraram geneticamente a qualidade das fibras, possibilitando o processamento industrial em máquinas de fiação. Ecológicas por não usar tintas, as roupas confeccionadas na Paraíba terão o selo do Greenpeace. As primeiras remessas de pijamas e camisetas serão exportadas no segundo semestre. A Embrapa fez a pesquisa do algodão e incentiva a produção. Compra o algodão dos produtores, que é beneficiado pela indústria têxtil Coteminas. Daí sai a matéria prima para abastecer o consórcio. Os modelos que projetaram Campina Grande no mundo fashion levam a assinatura do estilista Ângelo Rafael, do sistema Fiep/Senai.

O produto brasileiro precisa ser replantado apenas a cada três anos, o que contribui para redução dos custos do produtor e evita o desgaste do solo. O perfil dos cotonicultores é o de pequeno porte com propriedades entre 2 e 10 hectares. Grande parte já possuía experiência anterior no cultivo de algodão. O mercado para o algodão colorido ainda é restrito, sendo o produto consumido por pessoas alérgicas a corantes sintéticos, grupos ambientalistas e ONG’s que desenvolvem trabalhos com agricultura orgânica. Os preços obtidos com o algodão colorido no mercado internacional variam de US$ 3,79 a US$ 5,00/kg de fibra verde e de US$ 1,84 a US$ 3,35/kg de fibra marrom, o que propicia alta margem de lucro aos produtores, quando comparado com o algodão de fibra branca, que alcança preços médios de US$ 1,65/kg de fibra.

A cultivar BRS 200 desenvolvida em 2000, foi a primeira cultivar colorida geneticamente plantada no Brasil, contribuindo para o surgimento de novas opções de mercado e de emprego para os agricultores familiares e artesãos do Nordeste. A BRS 200 é um bulk constituído pela mistura em partes iguais de sementes das linhagens CNPA 92 1139, CNPA 94 362 e CNPA 95 653, que possuem fibras de coloração marrom claro. Por ser uma cultivar com ciclo produtivo de três anos, selecionada a partir de algodoeiros arbóreos nativos do semiárido nordestino, possui alto nível de resistência à seca. Apresenta produtividade 64% superior as cultivares de algodoeiro mocó (CNPA 5M), porém em condições de sequeiro sua produtividade é quase equivalente a da CNPA 7MH, apesar de em condições irrigadas, produzir 22 % a menos que a 7MH. A fibra da BRS 200, por ser de coloração marrom clara, obtida através de processo de melhoramento não transgênico, possui valor de mercado, 30 a 50% superior as fibras do algodão branco normal, que associada a produtividade mais elevada e maior rendimento de fibras, resulta receita acima de 100%, em relação ao cultivo do algodoeiro arbóreo ou mocó.

 

 

 

 

Fonte: http://www.cnpa.embrapa.br/algodao/melhora2001.html

http://www.naturalfashion.com.br/embrapa.html

http://www.cnpa.embrapa.br/algodao/BRS200.html

http://www.lightinfocon.com.br/port/news/2001/1405.asp

acesso em fevereiro de 2002

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=7202

acesso em janeiro de 2003

Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 358

jornal Folha de São Paulo de 21.05.02 página B12 (Dinheiro)

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