Prancha de Leitura

Uma prancha de leitura acoplada a uma lupa, destinada a pessoas com baixa visão, foi criada por pesquisadores da Bonavision Auxílios Ópticos, empresa incubada no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec) da Universidade de São Paulo (USP). O produto mantém fixos a linha de leitura e o foco, proporcionando conforto em leituras prolongadas realizadas por pessoas com faixa de visão subnormal, termo utilizado para descrever a visão remanescente em indivíduos que sofrem de patologias como diabete, catarata, glaucoma ou degeneração macular relacionada à idade. Esse comprometimento da função visual impossibilita afazeres habituais mesmo após tratamento ou correção dos erros refrativos com o uso de óculos, lentes de contato, medicamentos ou cirurgia. O desenvolvimento contou com apoio da FAPESP por meio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) e do Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (PAPI).

 

Calcula-se que o número de pessoas com deficiência visual chegue aos 14 milhões de pessoas no Brasil, sendo 13 milhões com visão subnormal, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Acuidade visual é o grau de aptidão do olho para discriminar detalhes espaciais, ou a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos. Essa capacidade discriminatória é atributo das células fotossensíveis da retina, sendo que a acuidade visual não corrigida é medida sem a ajuda de óculos ou lentes de contato, enquanto a corrigida, considerada a mais relevante avaliação da saúde ocular, utiliza esses auxiliares em sua medição.

Segundo Bonatti, o produto, que está sendo vendido pela Bonavision a R$ 390, é dotado de uma lupa asférica de alto aumento e grande diâmetro que permite ver palavras inteiras. Com ajuste de foco individualizado, a lupa tem poder de refração de 22 dioptrias e 5 centímetros de diâmetro, proporcionando ampliação da imagem em cinco vezes e meia. A prancha é inclinada a 45 graus, reduzindo o esforço cervical e do tronco na leitura. Ao utilizar a prancha, o usuário precisa apenas segurar o anel deslizante para movimentar a lupa no sentido horizontal enquanto lê ou escreve. Quando quiser ler as linhas superiores ou inferiores, basta movimentar o trilho metálico no sentido vertical. “Esse acoplamento facilita a leitura, pois, quando o portador de baixa visão utiliza uma lupa manual comum, precisa segurá-la todo o tempo para manter o foco da lente e a linha horizontal de leitura”, disse.

Bonatti explica que uma das principais vantagens do produto é permitir que o aluno com deficiência visual possa acompanhar o mesmo material de leitura que está sendo lido pelos colegas de classe. E, quando precisar interromper a leitura, pode deixar a lupa imóvel para, em seguida, retornar rapidamente ao mesmo ponto do texto. “Essa diferença é fundamental em relação às lupas não acopladas porque o usuário não perde a referência no texto. Isso pode se tornar complicado quando se pensa em um aluno deficiente visual que não consegue acompanhar seus colegas, podendo comprometer o aprendizado”, apontou. “Nossa expectativa é que escolas e bibliotecas tenham uma prancha de leitura como ferramenta de inclusão social. Lembrando que todas as escolas do país são obrigadas a aceitar o deficiente visual e educá-lo da mesma maneira que os outros alunos. É preciso apoiar a educação inclusiva, que deve proporcionar equipamentos adequados para que os estudantes deficientes possam ter acesso ao mesmo material de leitura”, disse Bonatti.

 

Segundo ele, o fato de a lupa ficar acoplada ao trilho pode ajudar também pessoas idosas com problemas motores. “Sabemos que a leitura se constitui em uma atividade fundamental para o lazer dos idosos que, ao perder o ponto da leitura sucessivamente, têm reforçada a sensação de incapacidade e podem tender a desistir da leitura”, disse. O desenvolvimento do produto contou com pesquisa sobre os equipamentos de referência ópticos e não ópticos para visão subnormal disponíveis no país, quando foram verificadas as principais necessidades dos portadores de visão subnormal em relação aos equipamentos existentes e ao exercício de suas atividades diárias. O trabalho envolveu uma observação participativa junto a pacientes do Serviço de Visão Subnormal da Clínica Oftalmológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Sabe-se que as lupas são necessárias na visão subnormal moderada e grave e também foi verificado que segurar as lupas é uma atividade cansativa, sobretudo entre os idosos.

O protótipo do produto foi testado no Hospital das Clínicas da FMUSP com 9 pacientes com visão subnormal, em comparação com o uso de uma lupa manual semelhante, considerando-se os seguintes parâmetros de avaliação: causa da doença, acuidade visual corrigida no melhor olho para longe e impressão pessoal do paciente comparando prancha de leitura e lupa teste. De acordo com os resultados do estudo, publicado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 5 pacientes preferiram a prancha de leitura acoplada à lupa e dois optaram pela lupa manual. “A maioria dos pacientes avaliados preferiu a prancha por esta proporcionar a estabilidade da linha de leitura. Apesar de a amostra de pacientes ser pequena, ela tem um significado importante do ponto de vista qualitativo”, disse Bonatti.

 

 

Fonte:

http://www.bengalalegal.com/pranchacomlupa.php

http://www.bonavision.com.br/

acesso em janeiro de 2010

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