Espécies de eucalipto foram alteradas geneticamente pela primeira vez no Brasil por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) coordenados pelo agrônomo Carlos Alberto Labate, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (ESALQ). Eles introduziram em plantas do gênero Eucalyptus um gene de ervilha que codifica a síntese de uma das proteínas responsáveis pela absorção da luz nos cloroplastos (estrutura das células vegetais responsável pela fotossíntese).
Estudos anteriores haviam modificado geneticamente o tabaco de forma a aumentar sua biomassa e capacidade fotossintética em condições limitantes de luz. A transformação genética do eucalipto tem princípio similar: nos dois casos, é incorporado ao genoma da planta um gene da ervilha (Pisum sativum) que leva ao aumento da absorção de luz pelo vegetal.
O primeiro passo foi incorporar o gene da ervilha à bactéria Agrobacterium tumefaciens. Em seguida, o micróbio é levado a transferir parte do seu genoma localizado num plasmídeo e infectar folhas de eucalipto. Com isso, a bactéria transmite a elas o gene da ervilha, que comanda a produção de proteínas que são enviadas para o cloroplasto. Embora todas as plantas possuam esse gene, sua reinserção no organismo tende a potencializar o aumento da biomassa do vegetal.
O eucalipto recebe também um gene repórter da bactéria Escherichia coli. Quando submetida ao teste histológico (análise dos tecidos vegetais em microscópio), a região da folha transformada com esse gene fica azul e permite observar melhor os resultados. “O gene repórter possibilita visualizar facilmente sua expressão e avaliar a eficiência do método”, diz Labate. “A região que não fica azul, por exemplo, indica que as células não estão transformadas.”
Um simples pedaço de folha ou outras estruturas vegetais do eucalipto geneticamente modificado pode originar uma planta inteira. Labate trabalhou dois anos para encontrar a dosagem hormonal que viabilizasse a regeneração do eucalipto. “Os hormônios vegetais promovem o desenvolvimento da planta e estimulam a diferenciação das células e formação dos tecidos.”
A pesquisa segue as normas da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), que controla atividades que envolvam organismos modificados geneticamente. As plantas transgênicas são cultivadas em ambientes controlados, como casas de vegetação e laboratórios devidamente credenciados.
Embora seja prematuro fazer afirmações categóricas, os pesquisadores já criaram uma técnica de transformação capaz de introduzir genes no eucalipto. O objetivo para os próximos quatro anos é potencializar o desenvolvimento da planta. “A descoberta é importante na medida em que o Brasil é o maior produtor mundial de celulose de fibras curtas a partir de eucalipto”, afirma o agrônomo. A pesquisa é financiada pela Companhia Suzano de Papel e Celulose em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n447.htm
acesso em fevereiro 2002