Platinil

Cisplatina, Cis-diamindicloroplatina(II), é um agente antineoplásico utilizado como adjunto no tratamento de uma grande variedade de tumores. Juntamente com a Carboplatina, são os dois únicos compostos contendo platina já aprovados para comercialização. Ambos apresentam um mecanismo de ação semelhante, diferindo apenas na estrutura e toxicidade. Em função desta característica a Carboplatina freqüentemente substitui a Cisplatina em protocolos onde espera-se que esta seja muito tóxica. A Cisplatina foi aprovada para comercialização em 1978. 

Após a administração, a Cisplatina atravessa a membrana celular. Uma vez dentro da célula, a molécula sofre hidrólise, e os grupos cloreto são substituídos por grupos hidroxila, dando origem a forma ativa que pode ligar-se a ácidos núcleicos ou proteínas. Assim, a Cisplatina inibe a replicação do DNA, transcrição do RNA e a síntese de Proteínas. A droga forma ligações cruzadas inter e intrafitas em seqüência específicas de bases nitrogenadas do DNA e a extensão destas ligações correlaciona-se bem com seus níveis de citotoxicidade. A Cisplatina é uma droga imunossupressora e radiosensibilizadora. Este mecanismo de ação explica tanto o seu efeito terapêutico como o efeito tóxico em tecidos normais. 

A Quiral Química do Brasil, instalada em Juiz de Fora, Minas Gerais, é a primeira indústria de base tecnológica brasileira, nos setores de química fina e farmacêuticos, consolidada a partir do modelo “incubação de empresa”, dentro de uma universidade. É um exemplo de que é possível articular a pesquisa acadêmica ao setor produtivo, garantindo independência tecnológica, gerando empregos e produtos de qualidade, além dos retornos para a União, estados e municípios, através de impostos. A história começou em 1986, quando o Prof. Antônio Salustiano Machado e o Prof. Aurélio Maranduba, hoje sócios na Quiral, ambos docentes do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas da UFJF ­ Universidade Federal de Juiz de Fora e PhD’s em Química pela Universidade de Paris XI, retornaram da França com a idéia de produzir não apenas ciência básica e aplicada, mas também tecnologia, unindo a experiência científica e a atividade industrial. 

Em 1988, através do CNPq, uma indústria de São Paulo, interessada em desenvolver tecnologia própria na síntese de antibióticos, localizou o Prof. Salustiano, que teve o projeto aprovado junto ao PADCT I do MCT. A este projeto associou-se o Prof. Aurélio. O plano inicial era o desenvolvimento de moléculas destinadas à fabricação de medicamentos contra a artrite reumática, mas os dois já estavam pensando no desenvolvimento da cisplatina, para tratamento do câncer, e que, mais tarde, deu origem ao primeiro remédio comercializado pela Quiral. Apesar do entusiasmo e da aprovação do projeto, os recursos não foram liberados e a negociação com a empresa paulista não deu certo. A primeira tentativa não desanimou a dupla. Durante o ano de 1989, formaram uma nova equipe em Belo Horizonte, que incluía quatro novos sócios, entre os quais dois empresários dispostos a participar do projeto de construção e instalação de uma empresa de tecnologia nacional. No início de 1990, com a posse do presidente Collor e o famoso confisco, os empresários se retraíram e a equipe se desfez. Os dois resolveram retornar com a idéia para Juiz de Fora, onde hoje está instalada a Quiral. 

Naquela época, conta o Prof. Salustiano, não existiam incubadoras de empresas, muito menos dentro de uma universidade. Empresa químico-farmacêutica incubada era absolutamente inexistente no país. Em Minas Gerais, entretanto, a Fundação Biominas realizava esforços para a criação de uma incubadora de empresas de base tecnológica, hoje uma realidade no bairro Horto, em Belo Horizonte. Em 1990, Itamar Franco assumiu a vice-presidência e pediu ao então reitor da UFJF, Prof. José Passini, que a universidade apresentasse projetos inovadores. Mas a instituição não estava preparada, não tinha tradição em pesquisa e nem estrutura técnica. No Departamento de Química, estavam sendo montados, com o apoio da FAPEMIG, os laboratórios para o desenvolvimento da pesquisa básica /científica. Com a ajuda do Prof. Passini e a infra-estrutura instrumental e de equipamentos montada com os recursos da FAPEMIG, o projeto, que seria a base de criação de uma incubadora de empresa de base tecnológica, completamente inovador para a época, foi apresentado. Junto com ele, o da Quiral ­ a primeira empresa a ser incubada contando ainda com o apoio logístico da Fundação Biominas ­ que ganhou a simpatia do então vice-presidente Itamar Franco. Pela FINEP ­ Financiadora de Estudos e Projetos do MCT foi liberado o empréstimo de US$ 135 mil, através da linha ADTEN ­ Apoio ao Desenvolvimento tecnológico da Empresa Nacional ­, o suficiente para comprar o equipamento que faltava para iniciar a produção de medicamentos. 

Em 1993, após um período de pesquisas e estudos acadêmicos, os dois professores alcançaram o domínio da síntese da cisplatina, em escala comercial. A indústria instalou sua “unidade de produção de farmoquímicos” em dois laboratórios do Departamento de Química da UFJF, funcionando, temporariamente, como uma incubadora de empresas informal. O primeiro lote do Platinil injetável, obtido após a terceirização dos serviços de formulação farmacêutica pelo laboratório nacional Darrow S.A., foi comercializado nesta fase. O frasco de 50 g custava US$ 47, enquanto o similar importado era vendido por US$ 105. Um ano depois, o faturamento era da ordem de US$ 700 mil, e outros empréstimos, desta vez do BNDESPar ­ Banco Nacional de Desenvolvimento Participações ­ de US$ 569 mil, e da FINEP/MCT, de US$ 538, possibilitou a construção da sede da Quiral Química do Brasil. Para o Prof. Salustiano, “o processo de criação e instalação da Quiral mostrou que a incubação é uma idéia técnica e economicamente viável. O que era novidade no início da década, é hoje uma prática que dá segurança ao empreendedor”. Ele acredita que a experiência da Quiral contribuiu para o surgimento de novas incubadoras, que já somam 64 no país. 

Fonte: 
http://www.quiral.com.br/fplati.htm 
http://revista.fapemig.br/1/quiral/ 
http://www.biominas.org.br/empresas/quiral.htm 

acesso em novembro de 2002

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