Tecnologia da Coppe/UFRJ permitirá obter bilhões de células para uso em terapia; método criado pelo grupo do biólogo Stevens Rehen usa esferas de açúcar para produzir duas vezes mais material pelo mesmo custo. Nos tratamentos com célula tronco um paciente terá de receber 1 milhão de células por quilo de peso, o que ressalta a importância de uma máquina de multiplicação desse material celular. Os resultados obtidos até agora pelos pesquisadores permitem afirmar que bilhões destas células poderão ser obtidas pelo método brasileiro.
Grosso modo, um biorreator é uma enorme placa de cultura onde um material biológico qualquer é produzido em grande escala. No caso das células-tronco, no biorreator elas recebem tudo de que precisam para se multiplicar: nutrientes, estímulos químicos e um substrato -um meio ao qual aderir. O biorreator da Coppe é um gigantesco tubo de ensaio, que mais parece um balde, com capacidade para receber cinco litros de células-tronco embrionárias. Acoplado a ele está um computador, que permite que todos os ajustes ao equipamento sejam feitos à distância, sem que nenhum cientista precise pôr suas mãozinhas contaminadas sobre as frágeis células. Mas o pulo do gato científico, como revela o engenheiro químico Paulo André Nóbrega Marinho, é praticamente invisível. Por causa de milhares microesferas de açúcar, o biorreator consegue produzir o dobro de células-tronco embrionárias pelo mesmo preço que o método convencional (que usa pequenos tubinhos de nove centímetros quadrados de área cada um). Cifras exatas ainda são muito difíceis de estimar. Essas bolinhas, no tubo gigante, fazem aumentar a área disponível para a adesão das células. “Não fomos nós que criamos essas microesferas. Mas essa adaptação para as células-tronco embrionárias humanas só é feita aqui”, afirma a química Aline Marie Fernandes.
A dupla de jovens doutorandos é orientada, respectivamente, por Leda Castilho (Coppe) e Stevens Rehen (Departamento de Anatomia). “Com esses polímeros de açúcar, que são meio amassados, na verdade, existe mais espaço para as células aderirem ao substrato e crescerem”, diz Marinho. Nas contas dele, o ganho total de área é expressivo. Em um grama de bolinhas -cada uma tem 0,2 milímetros de espessura- há uma superfície de 0,3 metros quadrado. “O que significa que em todo o biorreator, que comporta 15 gramas de microesferas, existe uma área tridimensional para ser conquistada pelas colônias celulares de 4,5 metros quadrados”, diz Marinho.
Com a linha de produção pronta para entrar em funcionamento -até agora o biorreator de cinco litros não foi usado, mas a técnica está aprovada em testes feitos em biorreatores menores, com capacidade de um litro cada- outra questão relevante é melhorar a qualidade do composto usado para alimentar as células-tronco. Basicamente, diz a química Aline Marie Fernandes, todos os caldos de cultura usados hoje apresentam algum grau de contaminação por material de origem animal. Enquanto algumas colônias celulares crescem sobre células de roedores, na UFRJ isso já não ocorre. Mas, apesar de não ser adicionado material animal nos biorreatores, as soluções que alimentam a multiplicação das células-tronco embrionárias humanas ainda não estão totalmente livres de substâncias animais. Isso pode ser um grande obstáculo quando chegar o momento de injetar essas células-tronco em seres humanos. “Um dos nossos objetivos agora é multiplicar células sem nenhum tipo de substância de origem animal” afirma Rehen, na sua sala no CCS (Centro de Ciências de Saúde) da UFRJ.
Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=59833 Eduardo Geraque escreve para a “Folha de SP”
acesso em dezembro de 2008