SM

Como tantas outras fábricas de veículos fora-de-série, a Companhia Industrial Santa Matilde não surgiu para produzir automóveis. As especialidades da empresa, com fábricas em Conselheiro Lafaiete, MG e Três Rios, RJ eram componentes ferroviários, estruturas e produtos agrícolas — até que, em 1975, lançou um cupê sofisticado e potente. O “SM”, como era chamado, utilizava mecânica do GM Opala, sua carroceria era em fibra-de-vidro com uma estrutura reforçada de ligas de aço. O motor era o GM 250-S de 4100cm3, seis cilindros, com potência de 171cv que garantia uma velocidade máxima de 173km/h. 

Em meados dos anos 70, o engenheiro Humberto Pimentel Duarte, um amante de carros esportivos, tinha um Porsche Targa 911S e uma preocupação. Desagradava-lhe a idéia de colocar o carro em risco com o uso diário. Após amargar um bom tempo na fila de espera de um Puma GTB, o presidente da Companhia Industrial Santa Matilde, fabricante de vagões e equipamentos agrícolas, cedeu aos apelos da filha. Nessa época, Ana Lidia tinha 19 anos e um sonho: produzir um carro. Pego no momento propício, o pai topou e ambos se debruçaram sobre revistas à procura de boas referências. Daí para a prancheta foi um passo. Com o projeto nas mãos, procuraram o então piloto e preparador de carros Renato Peixoto. Assim surgiu em 1978 o SM 4.1, um esportivo com bom desempenho e acabamento requintado para ocupar a vaga deixada pelas restrições à importação de automóveis.

O SM 4.1 é um 2+2 (conforto para os passageiros da frente e os de trás que se virem!) com carroceria de fibra de vidro. Emprestava a mecânica Opala seis cilindros e trazia o conforto do ar-condicionado e do acionamento elétrico dos vidros, sem contar a sofisticação do revestimento de couro no interior. Os freios a disco nas quatro rodas garantiam a segurança do esportivo. Quem via o SM 4.1, fabricado em Três Rios (RJ), sabia que ao volante estava alguém bem posto na vida – com desprendimento para assinar um cheque de 330 000 cruzeiros, o preço do carro em maio de 1978. Com esse dinheiro quase dava para comprar dois Opala Comodoro seis cilindros, o topo da linha.

O acabamento e o padrão de equipamentos sempre foram destaques do SM. Já no lançamento vinha com bancos e teto revestidos de couro, direção assistida, ar-condicionado (de início não-integrado ao painel), controles elétricos de vidros, pára-brisa laminado com faixa degradê, abertura interna da tampa do porta-malas, completo jogo de ferramentas. No painel completo havia conta-giros e manômetro de óleo, e o rádio/toca-fitas inovava com a antena embutida entre o teto e seu revestimento. O espaço interno era basicamente para dois adultos na frente e duas crianças atrás. Media 4,25 metros de comprimento e 1,28 metro de altura. Em 1979 o SM já sofre algumas transformações, que o tornaram ainda melhor. Externamente foi acentuada a inclinação do pára-brisa, também foram alteradas as maçanetas, que antes não eram embutidas e passaram a ser semi-embutidas. A posição do cinto de segurança, que era auto-enrolável de três pontos, foi melhorada, e dentre outras modificações estava o novo sistema de ar-condicionado embutido. 

Em 1982 o SM ganha novas opcões de motorização, além da tradicional 4.1 de seis cilindros a gasolina, seriam oferecidas ainda a 2.5 e 2.5 turbo, ambas de quatro cilindros a álcool. A linha 1984 trazia retoques de aparência. O cupê ganhava pára-choques mais largos e de laterais mais envolventes, rodas de alumínio de 15 pol de aro (antes eram de 14 pol) com largos pneus Pirelli P6 em medida 215/60 (série rara em carros nacionais na época) e uma traseira reestilizada, mais alta, combinando bem com as linhas arredondadas do conjunto. No seu interior, algumas mudanças quanto aos revestimentos utilizados no painel e bancos. Uma versão 4.1 a álcool que utilizava motor da caminhonete GM passou a ser oferecida alem do câmbio automático como opcional. 

Um detalhe bastante importante era a potência do motor 250-S, que havia sido alterada pela GM, devido ao alto consumo, passando a ter apenas 127cv de potência. Outra novidade era a versão conversível, com capota de lona e também rígida, ambas fornecidas com o veículo. Apresentada na Feira do Carro a Álcool, assumiu um estilo mais esportivo e a liderança em preço na oferta nacional — em 1986 custava 21% mais que o Alfa e quase o dobro de um Diplomata 6-cilindros. Em 1989 o SM teve nova reestilização e perdeu o par de faróis redondos, os quais foram substituídos por somente um, de forma retangular. Depois desta pequena maquiagem a fábrica acabou por encerrar sua produção quando reabriram as importações de automóveis. Na década de 90 ainda foram produzidas algumas unidades, sendo que a última, um modelo único, foi feita em 1997 sob encomenda. O SM 4.1 atravessou os anos 80 como símbolo de carrão. Mas as boas vendas não conseguiram rebocar a fábrica de vagões, em sérias dificuldades no final da década. Sua produção se encerrou em 1988, com poucas unidades feitas sob encomenda até 1990. 

Fonte: 
http://www.montadorasbrasileiras.hpg.ig.com.br/carreira/40/index_int_11.html
acesso em maio de 2002
http://quatrorodas.abril.com.br/classicos/grandesbrasileiros/0803sm.shtml
 
acesso em novembro de 2005
 
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