Kit “Os Cientistas”

A Divisão Médica da FUNBEC – Fundação Brasileira para o Desenvolvimento de Ensino de Ciências – teve sua origem na Universidade de São Paulo, em 1967 com recursos da Unesco. Através da cooperação e trabalho de técnicos e professores de renome, como o seu fundador Isaías Raw e Antonio de Souza Teixeira foi possível a FUNBEC criar uma mentalidade inovadora voltada ao desenvolvimento de equipamentos para aplicação em Cardiologia. A Funbec, numa linha paralela ao desenvolvimento do ensino de ciencias, tornou o monitor, o eletrocardiografo e o desfibrilador, entao disponiveis em hospitais de primeira linha, num equipamento padrão. 

A Funbec era uma fundação de direito privado cuja única fonte de renda era a venda de produtos. A empresa ganhava dinheiro com a venda de equipamento médico-eletrônico e gastava com o ensino de ciências. A USP cedia o espaço para a área educacional e administrativa, mas a FUNBEC tinha uma fábrica de 15 mil metros quadrados em Alphaville. A empresa faliu em 1988 e segundo Jose Colucci, gerente geral da Divisão de Engenharia Médica da Funbec, a Divisão Médica, incluindo a fábrica foi vendida para pagar dívidas trabalhistas. Sem fonte de renda própria, a FUNBEC ficou dependente de fontes de financiamento do governo para sustentar os programas de ensino de ciências e foi agonizando até morrer. A FUNBEC promovia cursos de aperfeiçoamento para professores de ciência, ensinando-os a usar mais material prático nas aulas. O kit “Os cientistas”, distribuido nas bancas de revista pela Editora Abril (tiragem: um milhão), foi uma criação da FUNBEC com patente MU 6101531 de 1981. A FUNBEC também ajudou na criação da Estação Ciência, com patrocínio da FAPESP. 

No final da década de 50, o impacto do lançamento do primeiro satélite artificial pelo soviéticos, o Sputnik, levou os países ocidentais, sobretudo os Estados Unidos e a Inglaterra a questionar e repensar o ensino de ciências em suas escolas o que resultou na criação de alguns novos projetos curriculares. O IBECC engajou-se nessa tarefa, traduzindo e adaptando essas propostas e produzindo o material experimental que elas exigiam, contando, entre outros, com o apoio do CECISP- Centro de Ciências de São Paulo *, criado em 1965, e da FUNBEC- Fundação para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências, fundada em 1966. O IBECC-FUNBEC desenvolveu, assim, até o final da década de 60, um total de 15 projetos para o ensino de 1º e 2º graus. Merecem destaque alguns projetos originais: além da Iniciação às Ciências, já citada, a Coleção Mirim com 30 kits, a Coleção Cientistas de Amanhã com 21 kits e o Projeto Ciências para o Curso Primário, com quatro livros-textos para o aluno e quatro guias para o professor.

A partir de 1971, com o impacto da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o então Ministério da Educação e Cultura criou o Projeto de Expansão e Melhoria do Ensino (PREMEN), em 1972, dando grande impulso à produção de materiais didáticos de ciências em nosso país e, como conseqüência, às atividades do IBECCFUNBECC. Nessa época, além de novas coleções de kits e de um Laboratório Portátil de Física, Biologia e Química que permitia o desenvolvimento de atividades experimentais em sala de aula surgiu, ainda em 1972, o projeto “Os Cientistas”, sem dúvida a mais importante iniciativa voltada à divulgação científica desenvolvida no Brasil até os nossos dias. Segundo Krasilchik (20), uma das convicções dos professores do IBECC, na época, era a de que seria possível modificar a atitude do professor em relação ao ensino de ciências, tornando-o mais efetivo e relevante, através do aluno. 

Acreditavam que as crianças e adolescentes que tinham acesso a um material experimental poderiam, através de seu interesse e entusiasmo, contagiar professores e outros estudantes. Além disso eles “acreditavam também que era importante que a população em geral tivesse uma visão apropriada do processo de desenvolvimento científico”. Estas foram algumas das idéias básicas que levaram à elaboração de “Os Cientistas” que se constituiu numa coleção de 50 kits contendo cada um a biografia de um cientista, um manual de instrução e material para a realização de experimentos. A escolha do cientista-tema de cada kit dependia de sua importância na história da ciência, da possibilidade de realização de experiências em casa e da preocupação em abordar as principais áreas da Física, Química e Biologia. 

Uma associação entre a FUNBEC e a Editora Abril viabilizou o projeto que, sob o ponto de vista editorial, foi um grande sucesso: sua primeira edição, Newton, vendeu 200.000 kits, as outras edições tiveram uma redução, normal nesse tipo de empreendimento, até atingir um patamar estável de vendas de 50.000 kits. Para Krasilchik, “este fato indica um interesse latente pela ciência, que nem sempre é adequadamente explorado pelos educadores na explicação do que realmente constitui o verdadeiro papel da ciência” . A partir de 1980, o IBECC e a FUNBEC tiveram suas atividades gradativamente reduzidas, destacando-se apenas a publicação, iniciada ainda em 1980, da Revista de Ensino de Ciências, hoje extinta, e o projeto de difusão de Centros Interdisciplinares de Ciências, a que vamos nos referir mais adiante. De qualquer, forma o impacto de sua atuação propiciou, certamente, o aparecimento de outras iniciativas do gênero.

Fonte: http://br.groups.yahoo.com/group/ciencialist/message/12654 
acesso em agosto de 2003
MUSEUS E CENTROS DE CIÊNCIAS -CONCEITUAÇÃO E PROPOSTA DE UM REFERENCIAL TEÓRICO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FACULDADE DE EDUCAÇÃO, tese doutoprado de ALBERTO GASPAR, 1983
 
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