O violão normal tem seis cordas. Para facilitar o fraseado de bordões (com as três cordas graves, as mais grossas) requerido por choros e sambas, um violonista chamado Tute colocou na década de 40 a sétima corda em seu violão. Surgia um dos mais brasileiros dos instrumentos urbanos de corda. Tute era violonista do conjunto ‘Os Oito Batutas’, liderado por Pixinguinha. No estilo ‘choro’, o violão se caracteriza por frases de contraponto geralmente em escala descendente, utilizando-se somente as cordas graves. Daí o nome ‘baixaria’. Tute sentia necessidade de algumas notas mais graves, daí a idéia de colocar uma corda a mais nos bordões. Ele idealizou, desenvolveu e tocou o ‘7 Cordas’ até 1950, quando faleceu. Nesta época o violonista ‘Dino’, integrante do conjunto de Benedito Lacerda, resolveu continuar a idéia de Tute. Ele não só continuou, como criou uma maneira mais técnica e pessoal de tocar, praticamente reinventando o instrumento. Dino foi o principal divulgador do 7 cordas. Influenciou várias gerações de violonistas.
O violonista Luis Filipe de Lima, autor da tese de doutorado “Comunicação intercultural: o choro, expressão musical brasileira” comenta: “o que define o violão de sete cordas – que tem origem obscura e até hoje ainda não devidamente investigada, ligada provavelmente aos ciganos russos que se reuniam no bairro carioca do Catumbi, em meados do século XIX – não é a corda ‘a mais’, mas sim sua singular maneira de tocar; a principal característica do sete cordas é o emprego das ‘baixarias’, frases de contracanto improvisadas nos bordões e que são utilizadas no samba, no choro e em outros gêneros. Pois Dino é o principal criador desse estilo, ao inventar uma nova e arrojada linguagem para o instrumento, oferecendo-lhe lugar de destaque na música brasileira. Dino, que já tocava violão desde 1935, passou para o sete cordas apenas em fins de 1952. Foi a partir dessa época que o instrumento se popularizou, e Dino se tornou a mais importante referência para todas as gerações de instrumentistas que vieram depois dele.”
A inspiração para a sétima corda veio do violonista Tute (Artur de Souza Nascimento), que tocava nos conjuntos liderados por Pixinguinha (Oito Batutas, Grupo da Guarda Velha, Orquestra Victor). Antes de Tute, não há praticamente referências ao violão de sete. Segundo o violonista e pesquisador Luis Filipe de Lima, autor de uma tese de doutorado sobre choro, o violonista Otávio Vianna, o China, irmão de Pixinguinha e integrante dos Oito Batutas, também tocava sete cordas. “Há uma foto de 1910 em que China empunha o instrumento. O que não quer dizer que ele tenha sido de fato o primeiro. Afinal, ele e Tute eram da mesma geração e tocavam nos mesmos grupos”, diz Lima. Dino freqüentava os lugares onde Tute tocava só para vê-lo em ação com o sete cordas. “Eu achava lindo o Tute tocando aquele violão, mas não queria que ele pensasse que eu o estava imitando, então só comecei a tocar sete cordas depois que ele morreu”, conta, referindo-se à primeira metade da década de 50. Dino encomendou um violão de sete cordas com o luthier Silvestre na loja Bandolim de Ouro e passou a estudar o instrumento, usando como sétima uma corda de violoncelo, procedimento adotado até hoje. Já então o Regional de Benedito Lacerda virara Regional do Canhoto, comandado pelo cavaquinista, e o som que Dino fazia com o novo violão, que tinha a corda extra afinada em dó, fez sucesso.
Dino não largou mais o violão de sete cordas, e ao longo das décadas desenvolveu uma verdadeira linguagem para o instrumento, definindo um papel diferente para o violão de seis e o de sete cordas dentro do conjunto regional de choro e samba. Na década de 60, foi chamado por Jacob do Bandolim (a quem já conhecia desde a década de 30) para integrar o Época de Ouro, conjunto de que faz parte até hoje. Até então conhecido apenas como Dino, foi Jacob quem o convenceu a incorporar o 7 Cordas ao nome artístico. Mas para suas composições, usa o nome de batismo, Horondino Silva. “O compositor é Horondino, o violonista é Dino”, explica, citando Isaurinha Garcia, Orlando Silva, Déo e Silvio Caldas como intérpretes favoritos para suas músicas. Pouca gente entende tanto de baixaria como Horondino José da Silva. Mais conhecido como Dino 7 Cordas, o violonista não inventou o instrumento que lhe serve de sobrenome artístico, mas foi o principal responsável pelo desenvolvimento de sua técnica e de sua linguagem – que passa necessariamente pelo que se chama nas rodas de choro de “baixaria”, uma espécie de contraponto melódico nas cordas mais graves do violão. Mais que isso, Dino criou uma escola de sete cordas na música brasileira. “Dizem que eu criei uma escola. Acho isso formidável. Quando se fala em violão de sete cordas, fala-se do Dino”, diz o mestre, referindo-se naturalmente a si mesmo na terceira pessoa.
Fonte: http://www.cliquemusic.com.br/br/Servicos/ParaImprimir.asp?Nu_Materia=1879
http://epoca.globo.com/edic/20001127/cult5a.htm
http://cliquemusic.uol.com.br/br/resgate/resgate.asp?Nu_Materia=1880
acesso em março de 2003
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