O grampo P é uma invenção brasileira e ponto de partida de nossa cultura de montanha. Sua utilização e desenvolvimento ao longo do século XX representam a afirmação de uma forma de conquistar e escalar própria. O grampo P foi criado pelo conquistador do Dedo de Deus, José Teixeira Guimarães, em 1912, como proteção fixa. Os europeus, mais precisamente os alemães, só criaram seu grampo fixo na década de 1940. Até esta data eles usavam pitons, vindo a fabricar a chapeleta para escalada em rocha muito tempo depois dos brasileiros terem criado o grampo, ainda que fossem na época os melhores escaladores do mundo. Alguns dos 22 grampos do ferreiro pernambucano Teixeira Guimarães fixados no Dedo estão ainda sendo utilizados por todos que repetem a via de conquista, há exatamente 88 anos, sem quebras ou mortes.
O grampo é uma barra de aço medindo 1/2″ de diâmetro e cerca de 9cm de comprimento, com um olhal de 3/8″ soldado a uma das extremidades. O grampo é martelado em um furo pouco feito na rocha, com uns 15º de inclinação e com diâmetro pouco menor do que o da peça, até o olhal encostar na superfície. Em geral, o comprimento do P que fica para dentro do furo é de cerca de 4,5 cm. Os grampos são, em sua maioria, trabalho artesanal de serralheiros, variando muito quanto ao diâmetro, formato, material etc. Podem ser encontrados nas vias brasileiras grampos de 1/4″ (somente para progressão artificial), 3/8″, 1/2″, 5/8″ ou 1″ (!!!!); grampos de aço 1020 ou de aço inox; grampos galvanizados; grampos com olhal soldado ou dobrado; grampos cortados de chapas de aço; grampos com olhal para cima (a maioria) ou com olhal para baixo.
O grampo tem como grande vantagem sobre as chapeletas em geral o preço e a possibilidade de rappel sem abandono de equipamento. Chapeletas são placas de metal, fixadas à rocha por meios de spits ou parabolts, com anel que permite o trabalho com mosquetão e fita. Devido à sua pequena espessura e bordas agudas, não se pode usar cordas em chapeletas. Só é possível rappelar em vias protegidas com chapeletas em pontos especiais em que há um anel de rappel preso à chapeleta, ou com o abandono de fita ou mosquetão. Recentemente foi desenvolvida por um empresa brasileira uma chapeleta que permite o rappel.
Os grampos brasileiros foram sendo produzidos em serralherias à medida do crescimento das conquistas, notadamente a partir da década de 1940, quando livre da inicial influência européia, no CERJ, o grupo de Sílvio Mendes dá forma à escalada brasileira tanto do ponto de vista técnico como tecnológico. Os grampos de ½ ou de 5/8 polegadas passam a ser usados como proteção nos lances em livre e para progressão em artificial, e os guias sobem com corda de sisal na cintura. Brackmann, primeiro historiador do montanhismo brasileiro com livro de 1965, chamou esta técnica brasileira de Gesteinbohrtechnik. Assim, Sílvio Mendes conquistou em menos de uma década a Chaminé Rio de Janeiro, no Corcovado; a Stop, no Pão de Açúcar; A Travessia dos Olhos, na Pedra da Gávea; o O Pico Maior, o Capacete e a Caixa de Fósforos em Friburgo (Salinas); o Pico do Itabira e a Freira no Espírito Santo.
É certo que a tecnologia usada na fabricação de nossos grampos é basicamente a mesma, mas houve melhorias no controle do aço e das soldas. O uso cada vez mais intensivo das furadeiras tem melhorado a fixação das proteções, evitando o emprego de palhetas. Os grampos de aço inoxidável (Pellegrini e Stumpf), galvanizados (Santa Cruz) representam um avanço acentuado quanto à sua durabilidade. Os brasileiros continuam a fabricar grampos de forma artesanal, por serralheiros que não tem na fabricação deste produto sua principal fonte de renda. Não temos um mercado de escalada que justifique a implantação de um setor industrial como há na Europa e Estados Unidos. Assim, a pesquisa tecnológica neste campo praticamente não existe, o que não significa necessariamente um atraso, uma vez que os nossos grampos tem atendido às nossas necessidades, isto é, não há registros de acidentes fatais devido à sua quebra.
O nosso mercado é tão pequeno que o maior fabricante, o Chiquinho de Petrópolis, não faz mais do que 1.500 grampos por ano, mesmo diante do crescimento mundial da escalada na década de 1990, e da abertura da economia brasileira aos produtos importados. Essa abertura levou ao desenvolvimento de um mercado em São Paulo, assentado principalmente em muros e falésias, de onde tem partido as principais críticas aos grampos. Os defensores das chapeletas são principalmente escaladores jovens, sem tradição de montanha e com pouco ou quase nenhum conhecimento histórico.
Recentemente alguns escaladores, particularmente a nova geração de São Paulo, lançaram dúvidas quanto à confiabilidade da proteção em grampos. Entre seus argumentos, destacam-se os seguintes: os grampos são fabricados por serralheiros de fundo de quintal sem rigorosos padrões e controles de qualidade; não são homologados por entidades internacionais; não dispõem de mecanismo de expansão para fixação na rocha.
O teste dos grampos realizado por Marcelo Roberto e Miguel Freitas, na PUC – Rio, foi o primeiro no Brasil e surgiu da necessidade de verificar o quanto eram seguras as originais proteções brasileiras. Foram testados grampos feitos pelo Chiquinho, os inox de Wanderley Stumpf e os fabricados pelo Unicerj, provavelmente na UFRJ. O alpinista José Ivan Calou Filho, do CEC – Clube Excursionista Carioca, argumenta: “Os resultados do teste que podem ser obtidos na home page do CEC, mostraram que o grampo de pior ‘performance’ suportou até 1.400 kg quando começou a romper. Os detratores dos grampos argumentam que é pouco, que as chapeletas suportam muito mais. Mas, porque então as homolgadas chapeletas, seus spits e parabolts tem rompido? Os 1.400 kg de nossos grampos não são suficientes? Quanto suporta o corpo humano? Porque temos que aceitar os padrões de homologação da UIAA e CE? Os testes mostraram também – e os detratores não divulgam – que os nossos grampos fixados com olhal para baixo, suportam mais de 4.000 kg, ainda que as soldas não sejam de boa qualidade.”
Os números também depõe contra os detratores dos grampos. Embora haja registro de quebras de grampos, não se sabe no Brasil de nenhuma ocorrência de morte por falha de proteções. Já nos EUA, Europa e restante do mundo, os mais avançados spits e parabolts são arrebentados por chapeletas homologadas pela UIAA e CE, provocando mortes documentados em revistas especializadas. Há muitos casos de acidentes com chapeletas em paradas duplas.
Os testes recomendam melhorias na fabricação dos grampos P: 1) A solda do olhal deve ser melhorada para se obter maior penetração. O ideal seria que a peça fosse forjada inteira, mas como isso não parece economicamente viável, uma boa alternativa seria “cunhar” o olhal antes para permitir à solda uma maior área de contato; 2) O fabricante deve colocar uma marca no grampo. Isto é fundamental para manter um padrão de qualidade, principalmente porque não é possível inspecionar a qualidade da solda externamente; 3) recomenda-se então que a colocação do grampo seja invertida, ou seja, que ele seja batido com o olhal para baixo. Nesta configuração a resistência do grampo é muito maior do que com o olhal para cima, tornando o grampo um equipamento seguro para prática de escalada. Não é recomendada a colocação de grampos de qualidade de solda desconhecida com o olhal para baixo, uma vez que todo o esforço será exercido nesta.
Nasceu o Montanhismo como esporte no último quartel de século XVIII, sob a denominação de “Alpinismo”, por ter começado na famosa cordilheira dos Alpes, em plena Europa Central. Foi portanto seu marco inicial a escalada ao ‘Mont Blanc’, no ano de 1786, considerada como o início da prática do chamado “Nobre Esporte das Alturas”, esporte que viria a ser praticado no Brasil com o nome de Montanhismo. No Brasil, as primeiras manifestações montanhistas, se é que podemos chamá-las assim, surgiram no Rio de Janeiro no início do século XIX, com a escalada da Pedra da Gávea por um membro da esquadra inglesa. Em 1832, uma expedição promovida pelo Instituto Histórico e Geográfico do Brasil repetia a façanha para tentar decifrar supostas inscrições fenícias lá gravadas. O Pão de Açúcar também foi visitado nessa época, primeiro por um marinheiro inglês, que lá hasteou a bandeira do seu país, e em seguida por um português que, a mando de seu imperador, trocou a bandeira inglesa pela da Coroa Imperial.
Em 1839, ainda no Pão de Açúcar, foi a vez da italiana América Vespucci. Mais tarde, em 1851, o dentista Burdell, seu filho Louis, duas mulheres e dois marinheiros, (todos americanos), lá passaram a noite e hastearam as bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e da Inglaterra. Mas o montanhismo brasileiro, tal como é reconhecido hoje, teve como ponto de partida histórico a conquista, em 1912, do Dedo de Deus, (1695m), em Magé, RJ. No início daquele ano, um grupo de alemães veio ao Brasil com o intuito de escalar o Dedo de Deus, atraído provavelmente pelo desafio da conquista e pela sua inegável beleza. Contrataram como guia o caçador profissional Raul de Sá Carneiro, profundo conhecedor daquela região.
Provavelmente o verão tropical, com muita chuva e condições adversas àquelas que eles, europeus, estavam acostumados a enfrentar, impediu-os de conseguir seu intento. Antes de retornarem à Alemanha, segundo registros da época, eles teriam dito que o Dedo de Deus era “invencível” e posto que eles, “profissionais do esporte”, não haviam conseguido, “nenhum brasileiro o faria”. Raul Carneiro não viu as coisas de mesma forma. Convidou então um amigo, o pernambucano José Teixeira Guimarães, e três teresopolitanos, (os irmãos Américo, Acácio e Alexandre de Oliveira), para tentarem chegar ao cume. José Teixeira, ferreiro de profissão, fabricou em sua oficina os grampos e outros apetrechos rústicos que eles viriam a usar na escalada. Em abril do mesmo ano seguiram para o Dedo de Deus. Com a colaboração do menino João Rodrigues de Lima, que levava alimentos até a base da escalada e carregando cordas de sisal, bambus e ferragens após planejarem minuciosamente a expedição, levaram ao todo seis dias para atingir o cume. Montanha símbolo do montanhismo no Brasil, o Dedo de Deus possui hoje diversas vias de escalada e é muito freqüentado. A via original, batizada de “Paredão Teixeira”, é mais usada atualmente para descida. Os seus grampos, que ainda fixam as cordas, são os mesmos fabricados no verão de 1912 pelos conquistadores, na oficina de José Teixeira Guimarães.
Fonte: http://sites.uol.com.br/osrj/artigo2.html
http://dominiun.hypermart.net/expedicoes/estudo_de_protecoes_fixas.html
http://www.guanabara.org.br/boletins%20antigos/Agosto2001.htm
http://www.escaladamaxima.hpg.ig.com.br/dedo.htm
http://360graus.terra.com.br/montanhismo/geral.asp?did=408
http://www.webspace.com.br/cia-escalada/historia/f-hist.htm
acesso em março de 2003
http://www.companhiadaescalada.com.br/artigos/historia/historia03.htm
acesso em fevereiro de 2009
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