Milho Híbrido

O milho é originário das Américas, provavelmente do México, tendo sido desenvolvido nos últimos oito mil anos. Os povos primitivos que habitavam a América Central conseguiram domesticar o milho e ao mesmo tempo, por seleção, produzir um número grande de raças. Quando Colombo descobriu a América em 1492 ele encontrou o milho cultivado pelos índios, no interior de Cuba e milho muito antigo foi encontrado nos túmulos do México e do Peru. No Brasil, entre os milhos indígenas, a maioria era constituída por milhos de grãos farináceos (amarelos e brancos), muito moles, que se prestavam à moagem e à produção de farinha. No entanto, havia ainda os de pipoca (redondos e pontudos) e os de grãos duros (laranjas e brancos). Esses foram os principais milhos desenvolvidos pelos índios no Brasil, Uruguai e Paraguai, e tiveram grande importância no melhoramento genético atual, principalmente o milho cateto (duro de cor laranja).

 

A história do melhoramento do milho no Brasil demonstra um caso de similaridade com aquilo que de melhor se praticava no início dos programas de genética de milho nas universidades americanas. Assim, as equipes que aqui se formavam puderam praticar e transmitir conhecimentos que construíram o suporte de metodologias e recursos humanos dos programas de melhoramento até hoje em andamento no Brasil.

A Escola Agrícola de Lavras – MG, atual Universidade Federal de Lavras, teve grande participação no melhoramento de milho no Brasil na década de 20, o que culminou com a publicação de dois livros, sendo o primeiro sobre a cultura e melhoramento do milho no Brasil, e o segundo sobre genética e melhoramento de plantas, publicados por Hunnicutt (1924) e Paiva (1925).

O Instituto Agronômico de Campinas e a Universidade Federal de Viçosa iniciaram o estudo dos cultivos de milho brasileiros e introduzidos por imigrantes, e também introduziram variedades e mesmo linhagens obtidas nos Estados Unidos. É interessante observar o intercâmbio de germoplasma entre essas duas instituições, conforme relatado em Bragantia, publicação do IAC. Por envidarem esforços em tipos diferentes de milho, ao intercambiarem e promoverem cruzamentos entre linhagens, estabeleceram essas instituições um padrão comercial de milho híbrido que persiste até hoje como preferencial no mercado. Mais tarde, o Instituto Agronômico de Campinas desenvolveu linhagens e híbridos de grande importância para a manutenção da estabilidade da produção do milho no estado de São Paulo e áreas adjacentes. Destaque-se também, mais recentemente, o trabalho do Dr. Luiz Torres de Miranda, da Seção de Milho e Cereais Diversos na área de mapeamento de tolerância a “stress” ambiental, estudando uma raça de milho introduzida do México.

Por seu turno, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, principalmente pelo trabalho desenvolvido por Ernesto Paterniani, João Rubens Zinsly e Roland Vencovsky, desenvolveu estudos sobre métodos de melhoramento e mesmo cultivares comerciais, tendo coletado, avaliado e preservado uma imensa coleção de raças e variedades de milho, até que essa coleção foi agregada à EMBRAPA. (ressalte-se também que o trabalho de Marcílio Dias e Cyro Paulino da Costa na área de melhoramento de hortaliças e introdução e avaliação de germoplasma)

Os trabalhos de melhoramento com milho híbrido no Brasil tiveram início em 1932 no Instituto Agronômico de Campinas – IAC, no Estado de São Paulo, e em 1935 na Universidade Federal de Viçosa – UFV, em Minas Gerais, sendo o Brasil o segundo país a adotar o milho híbrido. No IAC, Carlos Arnaldo Krugg e colaboradores inicialmente conduziram trabalhos procurando a obtenção de linhagens de milho cateto, porque ele era o mais popular entre os agricultores, sendo que os primeiros híbridos conseguidos a partir de 1939, não foram muito produtivos, embora fossem bem mais produtivos do que o milho cateto. Na UFV os professores Gladstone de Almeida Drummond e Antônio Secundino de São José Araújo resolveram iniciar um programa de produção de híbridos obtendo linhagens de cateto e de milhos dentados e pela primeira vez, obtive-se um híbrido meio-dente, sendo este muito mais produtivo do que aqueles obtidos apenas com linhagens cateto. A partir destes resultados o programa do IAC também passou a adotar a mesma linha, obtendo também linhagens de milhos dentados e produzindo híbridos meio-dentes

Desde o início do trabalho na UFV, com os professores Gladstone Drummond e Antônio Secundino de São José, o melhoramento de milho procurou atender as necessidades do agricultor brasileiro e estabelecer as bases de um programa de produção de sementes.

O milho híbrido foi o marco de uma das transformações mais profundas da agricultura, razão de ter sido tema de reportagem das Seleções, publicação internacional de nomeada, na época. Em 1938, Secundino organizou um departamento de genética vegetal, em Viçosa, escolhendo como assistente o recém-formado Gladstone Almeida Drummond. Confiantes nos resultados de pesquisa e com experiência nas linhagens puras de milho, iniciaram os testes. O trabalho começou com meio quilo de uma variedade do Texas, mais o milho catete, comum em nosso país. Após oito anos, em 1945, acontecia a fundação da Agroceres, quando veio a lume o primeiro híbrido comercial brasileiro. Hoje a Agroceres é um dos maiores grupos privados atuando em produção de sementes. Do conhecimento e da valoração dos recursos genéticos coletados e avaliados no país, construiu essa empresa um “portfolio” de híbridos de milho que atende a todos os nichos edafoclimáticos aptos à prática da cultura do milho no Brasil. O desenvolvimento de trabalhos de melhoramento de populações de milho no Brasil teve início na década de 60, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz -ESALQ, sendo as primeiras variedades lançadas na década de 70 (Centralmex, Dentado Composto e Flint Composto). O IAC também deu considerável contribuição ao melhoramento de populações.

Mais recentemente, além das empresas internacionais atuantes no mercado de sementes de milho no país, diversas empresas de porte médio ou pequeno possuem também programas de melhoramento próprios, e valem-se dos recursos genéticos preservados e desenvolvidos principalmente pela EMBRAPA, para o desenvolvimento de suas cultivares.

Considerando o papel do Estado na produção de sementes de milho, é o relevante papel da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, baseado no programa de genética e melhoramento do IAC, nas décadas de 50 e 70. Mais recentemente, a EMBRAPA juntou-se a essa atividade, gerando linhagens parentais, testando-as em híbridos, e licenciando esse material genético para comercialização via um grupo de empresas privadas de produção de sementes, de porte médio e pequeno, grupo conhecido como UNIMILHO. Na década de setenta, mesmo uma instituição de ensino com a ESALQ/USP produzia em quantidades limitadas suas próprias sementes de milho e algumas hortaliças, distribuindo-as no mercado consumidor mediante canais informais.

 

Fonte:

http://www.bdt.fat.org.br/publicacoes/padct/bio/cap11/joahis.html

http://www.vicosa.com.br/Vicosa/Secundino.htm

http://www.nucleoestudo.ufla.br/gen/publicacoes/revista/semi00s/odairbison.htm

 

acesso em março de 2002

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