O açaí é uma palmeira do norte do País. É conhecido pelos indígenas como “içá-çai”, a fruta que chora. Sendo típico da Amazônia, espalha-se por toda a região, chegando ao Maranhão, Guiana e à Venezuela. As utilidades da planta vão desde o tradicional “vinho do açaí”, até cremes, sucos, sorvetes, picolés, licores, mingau (com farinha de tapioca, peixes, banana etc). O caroço pode ser usado para produzir artesanato e adubo orgânico de excelente qualidade. O cacho serve para fazer vassoura e adubo orgânico, e quando queimado produz uma fumaça que é utilizada como repelente de insetos como o carapanã e maruim. O palmito é bastante empregado no preparo de saladas, recheios e cremes e serve também como alimento para os animais. As raízes combatem a hemorragia e verminoses.
O açaí foi objeto da tese de mestrado em Ciências Farmacêuticas, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, de Gracilene Barros dos Santos, sob a orientação do professor Fábio de Sousa Menezes, do Departamento de Produtos Naturais e Alimentos da universidade. Os resultados alcançados pela dupla foram surpreendentes, para não dizer fantásticos. “Inicialmente, nosso objetivo era apenas conhecer mais profundamente a química e a farmacologia geral do açaí. Mas assim que começamos a trabalhar, percebemos a enorme riqueza química de suas folhas, cachos, flores e, em especial, frutos”, diz o professor.
Fábio de Sousa Menezes conta que, num primeiro momento, surgiu a ideia de comparar o extrato da Euterpe oleracea com o da Saw Palmeto (nome científico Sabal serrulata), palmeira norte-americana pertencente à mesma família e que é utilizada para a fabricação de um comprimido para tratamento da hiperplasia prostática. Bastante comum, a doença se caracteriza pelo aumento da próstata. “Na época, não conseguimos encontrar parceiro para fazer o teste farmacológico; por isso, tivemos que nos contentar em comparar quimicamente o extrato do açaí com um preparado à base do comprimido extraído da palmeira norte-americana. O resultado evidenciou claramente que, como a composição química de ambas as plantas é praticamente a mesma, provavelmente a atividade farmacológica também será bastante semelhante”, explica o professor. “Ou seja, em vez de gastar fortunas com a importação do comprimido feito da palmeira americana, o Brasil pode vir a desenvolver um produto similar genuinamente nacional do extrato do açaí que substitua ou, pelo menos, se torne uma alternativa a mais ao produto desenvolvido nos Estados Unidos”, entusiasma-se Fábio Menezes.
Ele lembra que, como os estudos mostraram que o açaí possui baixíssima toxidez, há segurança mais do que suficiente para produzir medicamentos a partir do extrato do fruto. Segundo o professor, com a publicação da tese já foi encontrado um parceiro e, em breve, serão iniciados os estudos farmacológicos que comprovarão definitivamente a atividade do extrato do açaí no tratamento da hiperplasia prostática, doença que vem atingindo homens cada vez mais precocemente. “Hoje em dia, os urologistas já estão relatando casos de hiperplasia da próstata a partir de 40 anos de idade”.
Outra conclusão de extrema relevância diz respeito à propriedade comprovada pela pesquisa de o extrato do açaí exterminar o caramujo Biomphalaria grablata, que é o hospedeiro intermediário na esquistossomose. Como possui um ciclo evolutivo bem definido, caso este ciclo seja interrompido _ no caso, com a morte do caramujo_ a doença deixa de existir. “A forma infectante da esquistossomose vem do caramujo; se o açaí mata esse caramujo, impede a disseminação da doença”, explica Fábio Menezes. De acordo com o professor, os testes realizados comprovaram que os caramujos tiveram a sua capacidade de reprodução interrompida e, num prazo de três meses, 90% deles havia morrido. Passado esse período, os 10% que sobreviveram voltaram a se reproduzir.
As propriedades antioxidantes e antimicrobianas do açaí também ficaram comprovadas graças ao estudo dos pesquisadores. “Constatamos que o açaí possui uma capacidade antioxidante cinco vezes maior pelo teste do DPPH do que a do Gingko biloba, produto fitoterapêutico que hoje é muito conhecido e utilizado no mundo inteiro”, conta o professor. Por outro lado, a pesquisa provou a atuação antimicrobiana do extrato do fruto, principalmente frente ao Staphylococcus aureus, principal bactéria encontrada na pele humana. “A união das capacidades antioxidante e antimicrobiana pode levar à produção, por exemplo, de um creme ou gel contra o envelhecimento da pele que, paralelamente, previna infecções dermatológicas”. Todos os testes farmacológicos realizados para o açaí foram fruto de convênios que Fábio Menezes mantém com outros professores da Universidade do Brasil/UFRJ.
Por fim, uma má notícia para os consumidores fiéis de sucos e preparados à base da polpa congelada do açaí. O estudo feito na UFRJ comprovou que as polpas industrializadas possuem quase nenhuma similaridade química com a fruta. “Além de possuírem enormes quantidades de aditivos químicos, conservantes e estabilizantes, que dão as características de odor e sabor do açaí, esses produtos têm zero de atividade antioxidante. Ou seja, de açaí, mesmo, eles parecem só ter o gosto e o cheiro”, finaliza o professor.
A potencialidade para os mercados no exterior é grande e já existem várias marcas para a comercialização do produto. Geralmente, estas marcas são conjuntos de palavras que, entre outras palavras, contem o nome da planta, como por exemplo “Amazon Açaí” ou “Açaí Power”, Porem, desde março de 2001, o próprio nome da planta “Açaí” se tornou marca registrada na União Europeia. Nos Estados Unidos, a marca “Acaí” (neste sistema, a letra “ç” não é valida) foi registrada em março 2001 e abandonada em março 2002. A marca está disponível.
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n405.htm
http://www.ufrj.br/materia.php?cod=126
http://www.informam.ufpa.br/acai/main.htm
http://www.terra.com.br/istoe/1672/medicina/1672_frutinha_poderosa.htm
acesso em fevereiro de 2002
http://www.amazonlink.org/biopirataria/acai.htm
acesso em março de 2003
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4723545D4
acesso em setembro de 2009