“Aparelho para Cirurgia na Laringe”

Um novo aparelho para a realização de biópsias e cirurgias das doenças da laringe promete ser menos traumatizante para os pacientes. O equipamento, desenvolvido nos EUA, foi projetado e patenteado por Márcio Abrahão, chefe do setor de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Unifesp, e pelo pesquisador da disciplina de Otorrinolaringologia, Plínio Ferreira Morgado. O método utilizado atualmente, chamado laringosuspensão, necessita que um tubo reto seja introduzido pela boca e suspenso através de um suporte apoiado no peito e no maxilar superior do paciente, que permanecia deitado com a cabeça inclinada para oferecer um ângulo melhor durante a biópsia ou a cirurgia da laringe. “Pacientes com problemas na coluna cervical ou que não têm uma abertura suficiente da boca não conseguem realizar o exame”, explica Márcio Abrahão.

 

O novo equipamento, que possui uma curvatura de 60 graus na extremidade e, por esse motivo, recebeu o nome de endoscópio angulado de laringe, depende apenas do manuseio do cirurgião, evitando outras complicações como lesões na mucosa oral, garganta e laringe e a quebra do esmalte dos dentes dos pacientes ou fraturas em suas raízes. “Desenvolvemos um equipamento mais fácil para o médico manusear e que possibilita visibilizar o campo operatório de maneira mais dinâmica e abrangente”, explica o autor, que testou o método em 15 pacientes com o problema. “Nenhum deles apresentou qualquer complicação durante ou depois da cirurgia”, conta. Segundo Márcio Abrahão, a ideia de estudar um novo mecanismo que possibilitasse um diagnóstico mais preciso e menos traumatizante surgiu diante das dificuldades vividas não só pelo médico, mas também pelo paciente e por sua família. “É fundamental que em um paciente rouco seja realizado um exame da laringe e, se necessário, submetê-lo a uma biópsia para o diagnóstico correto da doença”, afirma.

De acordo com ele, o aparelho ainda não será comercializado. A empresa americana envolvida no desenvolvimento da parte óptica do aparelho está produzindo um novo protótipo para substituir uma parte da fibra óptica existente dentro do equipamento por lentes que ajudarão a melhorar ainda mais a imagem. “No momento ele será usado apenas para pesquisas e cirurgias em hospitais universitários.” Márcio Abrahão explica que o câncer de laringe, causado principalmente pelo tabagismo, representa a segunda maior incidência entre as doenças malignas nos pacientes consultados no ambulatório de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Unifesp, depois do câncer de tireoide. “De cada 10 pacientes com o problema, cerca de 70% são fumantes”, afirma Márcio.

A sobrevida do doente depende do diagnóstico precoce e de um tratamento adequado. Rouquidão, alterações na deglutição e dispneia (falta de ar) são alguns dos sintomas mais frequentes da doença. O diagnóstico tardio do câncer de laringe pode levar o indivíduo à morte ou exigir a extirpação radical da laringe, o que obriga ao paciente ser submetido a uma traqueostomia definitiva – realização de um orifício definitivo localizado no pescoço através do qual o paciente passa a respirar, excluindo a passagem de ar pelo nariz. “Noventa por cento dos pacientes têm um bom prognóstico, com chances de cura quando diagnosticados a tempo”, explica Márcio. Porém, nos casos graves a perda da qualidade de vida é significativa. Uma traqueostomia definitiva repercute na autoimagem, restringe algumas atividades físicas como a natação, por exemplo, altera a fisiologia respiratória, além de causar a perda de 100% da voz natural. Neste caso, o paciente precisa de auxílio fonoterápico ou a implantação de próteses fonatórias no interior da traqueia para amenizar a sequela.

 

Fonte:

http://www.unifesp.br/comunicacao/jpta/ed151/pesqui2.htm

 

Acesso em janeiro de 2003

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