Levar a bicicleta para uma viagem de férias ou entrar em um elevador sem ficar constrangido deixou de ser um problema. A invenção, prestes a ser comercializada, foi patenteada e é uma criação genuinamente brasiliense, da empresa incubada Excentric, do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da UnB e apoio do Sebrae-DF. A bicicleta – é de liga de alumínio, pesa nove quilos, tem banco e freio inovador, além de caber dentro de uma mochila. Flávio Duarte, inventor da bicicleta, se desdobra em explicar como surgiu a idéia. “Como eu gosto de pedalar, quando viajava não tinha como levar a bicicleta”, conta. Da idéia até o produto final foram três anos de estudos, testes e mais de R$ 300 mil gastos. O grande orgulho do criador, que tem seu irmão como sócio, é o banco (selim). Ele garante que sua criação não provoca impotência sexual ou câncer na próstata. De acordo com pesquisas, os selins-padrão podem causar a impotência. “O banco é ajustado ao corpo, não tem o bico frontal, que pressiona a região perineal”, explica. “Experimentamos em academias, durante as aulas de spinning e muitos alunos chegaram a brigar para ficar na bicicleta com o nosso banco”, conta. O custo da bicicleta deve ser mais alto do que as comuns pelo diferencial. Os fabricantes gostaram do produto, mas ainda resistem ao pagamento dos royalties aos inventores. “Além disso, como é uma inovação, as empresas temem em ser pioneiras, investirem alto e não emplacarem, mas fizemos muitos contatos”, afirma. Durante anos o hobby dele foi inventar. “Criei um protótipo da bicicleta que tinha banco com encosto. Não criei coisas inúteis”, garante. “Não sou tão ambicioso e não espero ganhar royalties internacionais. Meu negócio é melhorar as coisas que estão aí”, explica.
Os irmãos Flávio e Wagner Duarte há muito tempo eles vinham trocando impressões sobre como melhorar ainda mais um invento que é reinventado praticamente todo dia pelas grandes empresas: a bicicleta. Nessas conversas freqüentes, os Duarte imaginaram um sistema de freios que não desse aquele baque forte no momento da frenagem brusca. Sonharam com um mecanismo que interrompesse o movimento das rodas suavemente, de forma a evitar a queda do ciclista. O problema do administrador de empresas Flávio e do técnico em informática Wagner era o mesmo de todo inventor iniciante: como fazer? O obstáculo foi superado. O freio já existe de forma experimental e funciona como o planejado. Os dois irmãos criaram a empresa Excentric Tecnologia e Pesquisa e ampliaram seu portfólio de possíveis produtos: passaram a desenvolver selins anatômicos — capazes de não machucar as nádegas dos ciclistas. ‘‘Sem a UnB a gente não teria conseguido’’, diz Flávio Duarte, que tem o ciclismo como seu hobby. De fevereiro para cá, eles passaram horas confinados em uma sala de 25 metros quadrados do CDT aperfeiçonado suas criações. E não estavam sozinhos. Outras 13 empresas de segmentos tão diversos como biotecnologia e informática também estão ‘‘incubadas’’ na UnB, desenvolvendo seus projetos. No ano passado, essas empresas juntas faturaram cerca de R$ 13 milhões.
Com apenas 20 cm de largura, 90 de comprimento e 65 de altura quando dobrada, a bicicleta é bem diferente dos modelos maleáveis lançados até agora. “A roda dianteira é maior que a traseira (aros com 26 e 20 polegadas de diâmetro respectivamente), o que aumenta o torque e diminui a velocidade”, afirma Flávio. “Em compensação, colocamos um sistema de marchas que deixa a bicicleta em iguais condições de desempenho se comparada às tradicionais.” Outra diferença é a posição das suspensões. Por uma questão de conforto, os inventores preferiram colocá-las na coluna do banco, enquanto na maioria das bicicletas ficam junto ao garfo (a forquilha das rodas). Além disso, os irmãos acoplaram um banco plano de espuma desenvolvido por eles mesmos chamado ‘Sentta’, para garantir pedaladas sem incômodos.
Alguns conhecimentos de mecânica e bastante criatividade foram requisitos básicos para Flávio e Wagner acharem uma solução prática a fim de montar a nova bicicleta. “Ela pode ser projetada em alumínio ou fibra de carbono — materiais bem leves e que não enferrujam”, conta Flávio. Como está em fase de testes e ainda não chegou ao mercado, é difícil ter uma perspectiva de preço neste momento. No entanto, Flávio acredita que, a princípio, a bicicleta custe cerca de mil reais. “Por mais que pareça cara, é bem mais vantajosa que as importadas dobráveis, que custam por volta de três mil reais e são maiores”, diz. Os sistemas de dobrar, de suspensão e o banco já foram patenteados. Segundo Flávio, duas empresas nacionais e uma argentina mostraram interesse pelo produto, que deve ser finalizado apenas em abril de 2004. Enquanto fazem os últimos ajustes, os irmãos pensam em um nome para essa bicicleta, que tem tudo para tornar os feriados mais divertidos.
Fonte: http://www2.correioweb.com.br/cw/2000-07-09/cab_1252.htm
http://www2.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n988.htm
acesso em fevereiro de 2004
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