O primeiro cartão telefónico público é italiano, de tecnologia magnética. Foi emitido em 1976, mas ninguém nessa altura poderia prever o sucesso da invenção. Estes cartões foram usados em máquinas distribuídas na Vila Borghese, na área de Roma. O que se torna interessante é o fato da firma que fabricou as máquinas não pertencer às telecomunicações – deu se o nome SIDA. Os cartões foram fabricados pela Pikappa, mas revelaram-se muito frágeis e facilmente se deterioravam, vindo assim a serem abandonados. Os cartões não tinham o valor facial inscrito, mas continham 50 Liras. Sendo parecido com o atual cartão europeu Urmet – já tinha o canto cortado e entrava na máquina na posição vertical, pois a fita magnética estava na perpendicular a esta posição.
O cartão indutivo, no início conhecido como ficha eletrônica, foi inventado entre 1976 e meados de 1978, pelo Eng. Nelson Guilherme Bardini, formado pela Universidade Mackenzie em São Paulo em 1962. Nesse início de desenvolvimento o inventor contou com a colaboração de Dalson Artacho, que depositou o pedido de patente em 28 de julho de 1978 no Instituto Nacional da Propriedade Industrial INPI, tendo a mesma sido concedida sob o Título de “SISTEMA DE COBRANÇA POR FICHA ELETRÔNICA”, expedida em 27 de Março de 1984. O engenheiro Bardini com pingos de solda (estanho e chumbo), prensados entre dois vidros planos fabricou as primeiras células indutivas. Mais tarde, tentou outra técnica. Um pedaço de solda era colocado entre duas folhas de papel vegetal e prensado em uma máquina de fazer macarrão até obter uma finíssima folha da liga de estanho e chumbo. O segundo passo era obter o contorno da célula, o que era conseguido estampando a mesma com uma lâmina de barbear dobrada no formato da célula. Os primeiros cartões, em papelão, tinham a dimensão de 36 x 66 cm2 e possuíam uma parte a ser destacada em cima, lembrando o monofone do símbolo Telebrás, para impedir a venda de um cartão usado. O cartão somente funcionaria se o monofone fosse destacado.
Durante a fase de desenvolvimento esses cartões eram fabricados de forma quase artesanal, unidade por unidade. Depois de desenvolvido o sistema industrial de fabricação, os cartões passaram a ser fabricados em conjuntos de 18 cartões. Com o aumento da demanda, foram produzidas máquinas que fabricam 36 ou 40 cartões por folha. O processo de fabricação envolve uma base de PVC sobre a qual é aplicada uma fina camada condutora de um foto-polímero fabricado pela Dupont, comercialmente conhecido como Riston. Depois esse polímero passa por um processo de foto exposição e revelação que forma as micro células que funcionam como pequeninos fusíveis que serão queimados pelos aparelhos telefônicos durante seu uso. Depois de feitos os cartões, eles recebem duas camadas de tinta Epoxi para proteger o foto-polímero, e recebem a impressão nos dois versos. A impressão no anverso é feita em policromia, enquanto a impressão no reverso é feita na cor preta. Quando a folha entra na impressora em posição trocada resulta nos chamados “reverso invertido”. Depois de impressas, as folhas passam pelo processo de corte. Se as folhas entrarem na máquina de corte fora de posição, resultam nos defeitos conhecidos por deslocamento do corte. Os cartões com reverso invertido e com deslocamento de corte são rejeitados pelos testes de qualidade.
O cartão indutivo constitui-se de diversas células (cada qual associada a um crédito). Essas células são esculpidas em uma lâmina metálica lembrando um anel, tendo o mesmo, uma região com um trecho diminuído, o qual irá constituir o fusível a ser aberto por indução. Esse anel é aproximado de uma bobina quando o cartão é introduzido no telefone público. Uma corrente adequada na bobina será capaz de induzir no anel uma corrente. Dependendo da intensidade e tempo de duração dessa corrente o fusível poderá ser rompido indicando célula aberta (crédito consumido). Uma corrente de menor valor na mesma bobina, é capaz de realizar a leitura da célula. Essa leitura só é possível uma vez que as situações de célula intacta e célula rompida são capazes de alterar as linhas de fluxo entre a bobina e o anel. A identificação de célula rompida ou intacta, se faz sem necessidade de efetuar qualquer movimento no cartão, visto que a bobina excitadora atua como primário no transformador, e a célula anel atua como secundário do transformador, de modo que uma célula rompida possa ser detectada a partir da impedância refletida no primário.
Nelson Guilherme Bardini nasceu em 1935 formou-se em engenharia civil em 1962 e engenharia eletrônica em 1963 pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. Fez estágio de mecânica na fábrica de refrigeradores Werner em Santo André durante o quarto ano do curso de Engenharia e estágio em eletrônica nos Laboratórios da Philips do Brasil no quinto ano. Após formado assumiu a chefia da seção de áudio no laboratório Philips do Brasil, fábrica situada em Guarulhos, onde teve a oportunidade de trabalhar com radiofones, gravadores, alto-falantes, toca -discos e caixas acústicas. Em novembro de 1966 Bardini ingressou na Philco Rádio e Televisão no cargo de engenheiro projetista de auto rádio, tomando parte no desenvolvimento do primeiro aparelho lançado no mercado brasileiro pela Philco. Em maio de 1967 ingressou na Ibrape onde trabalhou no grupo de laboratório do departamento de aplicações e desenvolvimento onde desenvolveu vários trabalhos entre os quais: amplificadores de áudio transistorizados, dissipadores de calor para transistores, amplificadores para telefone, circuitos de equalização, etc. Em setembro de 1973 ingressou na Bergman Produtos Eletrônicos como projetista eletrônico, atuando na área de sonorização de ambientes, alarmes, etc, em hotéis e estabelecimentos comerciais.
Durante julho de 1976 e abril de 1978, Bardini trabalhava na TELESP onde coordenava o setor de Seção de Aceitação de Aparelhos telefônicos desde outubro de 1977, que tinha como função o projeto de equipamentos de ensaios de aparelhos telefônicos. Inventado pelo Eng. Nelson Guilherme Bardini, o cartão telefônico brasileiro foi criado em 1978, em sua casa, durante suas horas de folga. Em 1982 o Eng. Nelson Guilherme Bardini desenvolveu o primeiro aparelho telefônico com cobrança dos serviços através da “Ficha Eletrônica”. Os primeiros Cartões Indutivos continham até 10 células, créditos ou fichas eletrônicas e que permitiam igual quantidade de chamadas locais. Com esse primeiro aparelho o Eng. Nelson Guilherme Bardini inscreveu-se no concurso patrocinado pela Telebrás na categoria pesquisador, tendo obtido o primeiro lugar e sendo agraciado com o PRÊMIO LANDELL DE MOURA.
Após essa fase o Eng. Bardini buscou parcerias para desenvolver seu invento, tendo em vista que a Diretoria do CPqD da Telebrás achava que o tipo desse invento não se enquadrava no perfil dos desenvolvimentos em andamento do CPqD. Em meados de 1984 Bardini estabeleceu uma parceria com a empresa “S” Eletro Acústica, onde trabalhava seu amigo Eng. Lauro Girardelli, tendo resultado dessa parceria o desenvolvimento de dois aparelhos telefônicos a cartão indutivo, um vermelho como os orelhões para chamadas locais e um outro azul, como os usados para chamadas DDD. Em abril de 1985 o Eng. Nelson Bardini, foi procurado por Mário Gualberto Pinto Ferraz, proprietário da empresa SIGNAL IND. COM. LTDA., fundada em 1976, que possuía uma fábrica em Manaus de aparelhos de Diversões Eletrônicas, operadas com fichas metálicas, semelhantes as usadas em telefones públicos e que desejava substitui-las por um cartão.
O resultado dessa parceria foi o desenvolvimento de uma leitora para os aparelhos de Fliperamas e o início da fabricação em série de cartões indutivos com 1 crédito para o funcionamento da primeira loja de Fliperama localizada em um Shopping Center, em Santo Amaro, a FlipperShop inaugurada em março de 1987, sendo esta a primeira aplicação comercial dos cartões indutivos, inventado pelo Eng. Nelson Bardini. Com a desistência da “S” Eletro Acústica da parceria feita anteriormente, a SIGNAL assumiu o desenvolvimento também de telefônicos públicos. Já em 1985 como resultado dessa parceria foram depositadas novas patentes pelo Sr. Dalson Artacho, parceria essa que em 1987 transformou-se em uma sociedade da qual o Sr. Dalson Artacho passou a deter 50% do capital da mesma e as patentes passaram a ser propriedades da empresa, que mudara sua denominação para SIGNALCARD. Bardini desligou-se da Telebrás em outubro de 1987, tendo ingressado como sócio da SignalCard em dezembro de 1989. Outros ex-funcionários da Telebrás vieram também a se desligar da empresa para ingressar na SignalCard, como Francisco Carlos Miguel e José Edmilson Canaes. Em fevereiro de 1996 Bardini desligou-se da SignalCard para fundar sua própria empresa de fabricação de cartões.
Em outubro de 1987 a SIGNALCARD em parceria com a Icatel desenvolveu um aparelho telefônico a cartão indutivo com 10 créditos e o apresentou na Feira Internacional de Genebra, chamada Telecom 87, onde obteve grande sucesso. O cartão usado nessa apresentação é hoje o cartão mais raro da Telecartofilia Brasileira. Em agosto de 1989 foram elaborados os primeiros documentos em caráter confidencial sobre o telefone público a Cartão Indutivo. Os primeiros testes de um aparelho telefônico com cartão indutivo de 50 créditos aconteceram em 1990, dentro do próprio CPqD, tendo culminado com a demonstração do primeiro protótipo ao ministro do Desenvolvimento Eng. Ozires Silva em 7 Dezembro de 1990.
O primeiro teste de um Telefone Público a cartão no Brasil foi em janeiro de 1990: era um modelo produzido pela inglesa General Electric Plessey Telecommunications, que funcionava com cartões magnéticos. Essa tecnologia, devido a fatores como custo benefício e segurança, foi descartada. O Sistema Telebrás adotou então a tecnologia indutiva, desenvolvida pelo seu CPqD, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, e que vinha sendo pesquisada desde 1987. Previamente conhecido como Plessey, os cartões magnéticos eram produzidos pela GPT ( GEC Plessey Telecomunications ), um consórcio formado pela Siemens e GEC ( General Electric Company ) desenvolveram ele próprios esta tecnologia de banda magnética. Este sistema entre a maioria dos colecionadores não é conhecido por GPT – mas sim por cartões tipo Mercury. Dois dos primeiros cartões teste para o Brasil, de 1987, estampam na face o jogador Romário e no outro cartão a imagem do Corcovado.
Em março de 1992 a TELEBRÁS realizou na cidade do Rio de Janeiro os primeiros testes públicos de seu aparelho telefônico já usando cartão de 100 créditos, que se tornou padrão. Esses aparelhos permitiam fazer ligações telefônicas, locais, nacionais e internacionais. O projeto TP-Cartão pela Telebrás iniciou suas atividades em 1987 quanto às especificações técnicas e terminando o teste de protótipo no primeiro trimestre de 1989.
o Grande Prêmio de Fórmula 1, no Autódromo de Interlagos, São Paulo, realizado em 1992, foi apresentado o primeiro telefone público a cartão brasileiro. O Telefone Público a Cartão foi oficialmente implantado no Brasil durante a Eco 92 – conferência mundial da ONU sobre meio ambiente – realizada no Rio de Janeiro em Junho de 92, foram feitos para o evento os cartões da série Ecologia que se tornaram raridade. Durante este evento, foi lançada a primeira série, composta de 7 modelos de cartões: Vitória-Régia, Tiê-Sangue, Jacaré, Arara-azul, Mico Leão Dourado, Pantanal e Tamanduá bandeira. Em São Paulo, o primeiro Telefone Público a Cartão foi instalado em outubro de 93 no MASP (Museu de Arte de São Paulo) e foi lançado um cartão comemorativo com a fachada do museu. Hoje os cartões indutivos desenvolvidos pela SIGNALCARD são usados nas mais variadas aplicações como: transporte coletivo, ingressos em estádios, eventos, exposições e como meio de pagamento em maquinas de venda, sendo inclusive exportados para diversos países como Chile, Venezuela, México entre outros.
Em 1998 com a privatização das Companhias e a com a grande variedade de cartões, o colecionismo tornou-se num grande passatempo e negócio, especialmente nos cartões com pequenas tiragens, como a que ocorreu em 2000, quando foi emitida uma série de 10 cartões com todos os detalhes da chegada de Pedro Alvares Cabral ao Brasil. Os primeiros cartões da série tinham um descomunal erro, citando a presença das caravelas Santa Maria, Pinta e Nina na chegada ao Brasil. Todos os cartões vieram a ser retirados e emitidos novamente com a verdade reposta.
“O inventor brasileiro está bastante abandonado”, afirma Bardini, que hoje tem uma pequena fábrica de cartões indutivos usados por empresas de transportes, chamada Move Card, em Campinas. Sua receita vem da venda dos cartões que produz, e não da propriedade intelectual. O País não tem dado o reconhecimento devido aos seus inventores. Bardini não move nenhum processo, afirmando que não tem dinheiro. Apesar disso, um ex-sócio, chamado Mário Gualberto Pinto Ferraz, processou a Telebrás. Segundo o inventor, Ferraz ficou com um lote de 30 patentes, ao comprar a empresa de qual eram sócios, chamada Signalcard. Bardini acusa a Fundação CPqD, que pertencia ao Sistema Telebrás e hoje é um instituto privado de pesquisa, de receber royalties pelo seu invento. O CPqD preferiu não comentar o assunto que, segundo sua assessoria, diz respeito à Telebrás, estatal que está para ser extinta. Só não o foi ainda porque cede funcionários à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O inventor foi funcionário do CPqD. Quando entrou no centro de pesquisas, porém, já havia registrado sua patente do cartão indutivo. Em 1992, ele cedeu o direito de uso à Telebrás, sem remuneração, de uma das patentes, que expirou no ano seguinte. Daí em diante, luta para receber seus direitos. Segundo Bardini, as operadoras o reconhecem como o inventor do cartão indutivo. Tanto que a Telemar lançou um cartão comemorativo com uma foto sua, que o inventor mostra com orgulho. A tecnologia do cartão indutivo é genuinamente brasileira e já foi exportada para países como a Colômbia e a Bolívia. Em dezembro de 1999 houve a introdução do sistema de cobrança por cartão indutivo Signalcard em Telefone Público em Oruro na Bolívia através da empresa ERICSSON.
Fonte: http://www.antunes.com.br/cart.htm
http://www.pantanal.com/telecard/HOMECOTAS/indutivo_esp.htm
http://galileu.globo.com/edic/103/com_cartoes2.htm
http://www.michelr.hpg.ig.com.br/hobbies/77/index_int_2.html
http://www.telemar.com.br/museu/acervo_main_01.htm
http://www.bardini.com.br (pagina em construção)
Catálogo Vieira – cartões telefônicos do Brasil , 1998, página 21
acesso em dezembro de 2001
http://www.ipcolecionismo.com.br/exibir_textos.php?noticia=236
http://www.geocities.com/paris/leftbank/3494/dicas.html#curiosidade3
http://7mares.terravista.pt/jass/portugues/04sistemas/index.html
http://7mares.terravista.pt/jass/portugues/04sistemas/page16.html
acesso em outubro de 2002
http://www.signalcard.com.br/conteudo.php?pagina=historia
acesso em setembro de 2004
JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO DATA: 31/02/04 ON-LINE Pai do cartão telefônico não recebe royalties
Agradeço a colaboração do inventor Nelson Bardini para elaboração do texto em outubro de 2002