A fumaça preta dos caminhões e ônibus está com os dias contados. Hoje, só na região metropolitana de São Paulo, são lançadas, anualmente, cerca de 22,9 mil toneladas de fumaça preta oriundas da frota de ônibus, caminhões e caminhonetes movidos a óleo diesel, além de cerca de 1029 mil t/ano de monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos e óxidos de enxofre.
Mas uma equipe de pesquisadores de Engenharia Química da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE-UFRJ, pretende mudar este quadro com o desenvolvimento de um catalisador de oxidação, que utiliza molibdênio e sílica. O catalisador é capaz de abaixar a temperatura de combustão e “sequestrar” os particulados, compostos basicamente de pequenas unidades de carbono às quais se agregam partículas secundárias, resultantes da combustão incompleta do diesel e do óleo lubrificante. O novo catalisador ainda não resolve a emissão de dióxido de enxofre, causador da chuva ácida, sobretudo no caso do diesel brasileiro, que possui altos teores de enxofre.
Mas já diminui consideravelmente a fumaça preta, causadora de doenças respiratórias ou até fibrose (acúmulo de partículas nos alvéolos pulmonares, bloqueando sua função) e câncer (causado pela absorção, também através dos alvéolos, de hidrocarbonetos aromáticos polinucleares). A equipe de pesquisadores, coordenada por Martin Schmal, ainda considera os resultados preliminares e vai estudar melhor a reação catalítica e os resíduos produzidos. Mas uma das doutorandas envolvidas na pesquisa, Silvana Braun, já ganhou o segundo lugar do Prêmio Nacional de Pós-Graduação, oferecido neste mês de maio, pela Associação Brasileira de Engenharia Química (ABEQ) e pela OPP Petroquímica S.A., em São Paulo.
E também colocou o Brasil um passo adiante de outros países – industrializados inclusive – que há anos buscam um catalisador eficiente para motores diesel. A principal dificuldade, no exterior, ainda é o preço dos materiais nobres utilizados, tais como platina, cério e vanádio, todos mais caros do que o molibdênio adotado no Brasil. “Inventamos também um novo método de preparar o catalisador, que o torna mais estável e limpo”, comemora Schmal. O método está descrito num artigo, a ser publicado dentro de três meses, no Journal of Physical Chemistry, dos Estados Unidos.
Basicamente, os pesquisadores brasileiros conseguiram reduzir a temperatura da combustão, dentro de motores diesel, em 100°C, em relação a motores sem catalisadores, cujas temperaturas podem chegar até 300°C. “O material é resistente, aguenta altas temperaturas, não agride o motor e não tem perdas significativas, porém o nível de eficiência ainda não é suficiente”, acrescenta Schmal. O projeto de pesquisa da Coppe tem 2 anos e meio e conta com financiamento do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas, CNPq, da ordem de 20 mil reais para um ano.
O professor Martin Schmal, do Programa de Engenharia Química da Coppe, foi agraciado em 2002 com o Humboldt Research Award. Esta é a primeira vez que um pesquisador brasileiro recebe o prêmio da Fundação Alexander von Humboldt, da Alemanha, concedido a cientistas de reconhecido destaque internacional. O prêmio Humbold é conhecido no meio científico como um revelador de talentos na área. Para se ter uma ideia, 34 pesquisadores agraciados com esta premiação, criada em 1953, receberam posteriormente o prêmio Nobel. Coordenador do Núcleo de Catálise da Coppe, o prof. Schmal tem obtido excelentes resultados no desenvolvimento de catalisadores que filtram gases poluentes e material particulado (fumaça negra) provenientes de motores a diesel, responsáveis por sérias doenças respiratórias. Graças às pesquisas desenvolvidas na Coppe pelo professor, o Brasil ocupa um espaço de destaque entre os principais centros pesquisa do mundo que atuam neste setor.
As primeiras atividades de pesquisa em catálise no Brasil ocorreram no início de 1970 por iniciativa de Remolo Ciola, (atuante na época no Instituto de Química da Universidade de São Paulo e na Petroquímica União), de Leonardo Nogueira (no Cenpes-Petrobrás, Centro de Pesquisas da Petrobrás) e posteriormente por Martin Schmal (no Programa de Engenharia Química da COPPE, Universidade Federal do Rio de Janeiro, PEQ/COPPE). Embora os catalisadores venham sendo empregados industrialmente há mais de trinta anos no Brasil, a catálise é relativamente recente no cenário científico nacional. O Núcleo de Catálise, NUCAT, foi criado pela COPPE e pela FINEP, tendo como objetivo constituir-se em um centro de excelência para pesquisas fundamentais e aplicadas, visando formar pessoal altamente qualificado, prestar serviços relevantes à indústria química nacional e servir de apoio a grupos universitários e centros de pesquisa nacionais, na área de catálise.
Fonte:
http://www.planeta.coppe.ufrj.br/noticias/noticia000074.html
http://www.infolink.com.br/ambienteonline/catalisador.htm
acesso em março de 2002
http://www.peq.coppe.ufrj.br/areas/nucat/old/
http://www.deq.ufscar.br/~catalise/sbcat/historia.htm
http://www.peq.coppe.ufrj.br/pessoal/professores/schmal.html
acesso em novembro de 2002