Ripper Filho projetou e construiu, no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1961, um computador brasileiro, apelidado de “Zezinho”. O projeto e construção deste primeiro computador no Brasil, foi realizado como Trabalho Individual de graduação em Engenharia Eletrônica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). A experiência pioneira teve a ajuda financeira do CNPq. Os quatro alunos do ITA em São José dos Campos, José Ellis Ripper, Fernando Vieira de Souza, Alfred Wolkmer e Andras Vasarheyi, orientados pelo chefe de Divisão de Eletrônica do ITA, Richard Wallauschek, projetaram e construíram o Zezinho utilizando apenas componentes nacionais. Não foi possível determinar com segurança como funcionava e operava essa indústria nacional de transistores. Ao que tudo indica ela não era de bom nível, pois, como constataram os membros da equipe: “as características de cada transistor eram tão diferentes, que se tornava impossível tentar definir um conjunto de parâmetros capaz de fazer funcionar os circuitos eletrônicos de cada bit da memória”.
No entanto, os estudantes persistiram nos seus intentos de só utilizarem transistores nacionais e com muito esforço o Zezinho foi construído. Era um computador simples, sem muito recurso de memória, porém muito útil do ponto de vista didático; ele teve vida curta e a experiência morreu entre as quatro paredes da instituição. Isto porque a iniciativa que se pretendia ver abraçada por alguma empresa privada mesmo pelo interesse do governo para sua fabricação em série acabou caindo no esquecimento, e o Zezinho seria desmontado, tendo seus componentes reutilizados para outros fins. O papel desempenhado pelo ITA, sobretudo na década de 50, foi fundamental para capacitação de um grande número de engenheiros e tecnólogos para a formação dos quadros iniciais da informática, tanto no setor acadêmico como no industrial. É bem verdade que no começo, nos anos 50 e 60, os engenheiros eletrônicos, formados pelo Instituto, tinham pouca opção de trabalho, uma das quais era ser vendedor da IBM. Aqueles que tinham interesses tecnológicos não tiveram outra escolha a não ser o caminho da pós-graduação, principalmente no exterior, na esperança de tempos melhores.
Vera Dantas relata a epopeia da construção do primeiro computador brasileiro. Desde que chagaram de uma viagem de três meses à Europa, José Ellis Ripper, Fernando Vieira de Souza e Alfred Wolkmer e Andreas Vasarhelyi decidiram construir um computador. Viajando de carona num avião da FAB que levava suprimentos para as tropas do Brasil no canal de Suez, puderam passar três meses visitando empresas em diversos países, sempre acompanhados pelo chefe de Divisão de Eletrônica do ITA, o professor Richard Wallauschek. Ao chegar à francesa Bull, não contiveram o entusiasmo ao verem em detalhes todas as etapas do projeto e fabricação de computadores ainda a valvulados. O primeiro computador comercial aparecera nos Estados Unidos, em 1953 fabricado pela Sperry, há oito anos apenas.
Embora não conhecessem em profundidade a tecnologia de transistores, desenvolvida nos laboratórios da Bell, decidiram usá-la na construção do seu computador. Wallauschek conseguiu um auxílio do CNPq. Os recursos disponíveis não permitiam construir um computador com grande capacidade de memória. Mas nada os impedia de realizar um projeto avançado, embora simples: um computador didático para uso em laboratório. Definido o projeto começaram a trabalhar com auxílio de um técnico cedido pelo ITA em tempo integral na montagem dos circuitos. Decididos a utilizar apenas transistores nacionais os quatro tiveram trabalho dobrado. Logo puderam ver que o controle de qualidade desses componentes, que começavam a ser fabricados no país, deixava a desejar. As características de cada transistor eram tão diferentes, que se tornava impossível tentar definir um conjunto de parâmetros capaz de fazer funcionar os circuitos de cada bit de memória. Para não recusar a maior parte dos transitores, a equipe decidiu adaptar cada circuito, bit a bit, as características dos componentes. Foram utilizados cerca de 1500 transistores.
O Zezinho tinha capacidade de fazer vinte operações. Seu painel com dois metros de largura por um metro e meio de altura dividia-se em três partes. A primeira reproduzia a memória do computador através de pares de ilhoses que representavam as unidades de informação, os 0 e 1, e os abre e fecha da corrente elétrica. Para programá-lo bastava tocar com uma caneta elétrica alguns daqueles pontos. Para atender ao objetivo de mostrar, didaticamente como a informação se processava dentro do computador, permitindo que os alunos se familiarizassem com a máquina empregaram duas formas de representação, ocupando as demais partes do painel. Em uma, um conjunto de lâmpadas neon, acendendo e apagando em ciclos de dois segundos, mostrava as informações sendo processadas em ritmo lento. No terceiro painel, o processamento era reproduzido na velocidade normal, podendo ser acompanhado em um osciloscópio.
Embora um sucesso, o Zezinho não sobreviveu durante muito tempo. Foi canibalizado pelos alunos das turmas seguintes, que utilizaram seus circuitos para novas experiências. Tampouco foi considerado um trabalho superior ao de outros alunos da mesma turma, como um sistema FM estéreo que gerou uma patente, ou um sistema de circuito fechado de televisão. Ganhou entretanto um lugar na história como o primeiro computador projetado e construído no Brasil.
Fonte: http://www.santista.com.br/fundacao/galeria/exatas/pagina.htm
acesso em março de 2002
História da Técnica e da Tecnologia no Brasil, Milton Vargas, Ed. Unesp, página 381.
Guerrilha Tecnológica, Vera Dantas, Livros Técnicos e Científicos Ltda,1988, pg 24