A Embrapa Caprinos trabalha com o método da criopreservação, que é a congelação e manutenção de sêmen no nitrogênio líquido. De um grupo de 100 cabras inseminadas, com dose única, 80 ficam prenhes e reproduzem normalmente. Este índice é considerado excelente em nível de propriedade, segundo um estudo. O pesquisador Aurino Alves Simplício, coordenador da área de reprodução, traça um paralelo entre o uso convencional de sêmen e o de forma congelada, adotado pela Embrapa Caprinos. Ele cita que o sêmen tanto caprino como ovino pode ser usado fresco, diluído ou não; diluído e resfriado, ou congelado. Segundo ele, as duas primeiras modalidades, mesmo sem exigirem grandes investimentos financeiros com instalação de laboratórios e implementação de um programa de inseminação artificial, são de uso limitado. “O pouco tempo que a célula espermática mantém o poder fecundante em sua plenitude, é um dos grandes gargalos do processo”, garante o pesquisador.
Com o uso da água de coco como diluidor e conservador de sêmen caprino e ovino, a Embrapa divide com o professor José Nunes Ferreira, da Universidade Estadual do Ceará, a primeira patente biológica do Brasil. De fácil aplicação, o método vem sendo divulgado por ser de baixo custo e porque a água de coco é encontrada em todas as regiões do País. Segundo o professor José Nunes, que é pesquisador da área de reprodução animal, 70 a 75% dos animais nascidos de inseminação artificial com o uso da água de coco como diluidor, são fêmeas. Ele explica que para o preparo da solução diluidora é preciso apenas citrato de sódio, água destilada e água de coco, não sendo necessária a lavagem do sêmen coletado. A diluição pode ser feita em nível de campo. O sêmen na água de coco, a quatro graus centígrados, resiste por 60 horas, contra um máximo de 24 horas para as soluções tradicionais. Além de mais eficiente, a água de coco é muito mais barata. De um litro de água de coco retira-se 200ml de solução. Cada frasco do novo produto custará entre R$ 3 e R$ 4, enquanto as substâncias com as mesmas propriedades hoje disponíveis no mercado custam em média US$ 50 por frasco. O Brasil poderia ser o detentor de 100% dos royalties sobre essa tecnologia, mas ficou apenas coma metade. O patenteamento foi feito no exterior e os direitos serão divididos entre a Embrapa, onde José Nunes trabalha, e o Instituto de Pesquisas Agropecuárias da França, na qual o cientista fez seu pós-doutorado. “Ainda assim, é a primeira patente biológica do país”, comemora o inventor. Sua água de coco milagrosa já vem sendo produzida na França, para ser vendida aos EUA, Canadá, Japão, Austrália e toda a América do Sul. Nunes porém corre o risco de ficar apenas com a glória científica, embora a Embrapa e o instituo francês recebam cerca de US$ 6 milhões de royalties por ano: “Como sou funcionário com dedicação exclusiva, segundo a Embrapa, meu salário de R$2200 líquidos mensais é o pagamento pela descoberta”, lamenta o pesquisador. Enquanto isso os dois cientistas franceses que pegaram carona na sua descoberta vão ganhar R$ 300 mil.
A inseminação artificial é um método de reprodução pelo qual é coletado o sêmen do macho e por meio de uma seringa especial, introduzida diretamente dentro do útero (madre) ou da vagina da fêmea, conforme a espécie, acontece à fecundação sem que tenha havido qualquer tipo de contato entre os animais. O sêmen pode ser utilizado “ao natural” ou diluído, para maior rendimento e conservação. Foi descoberto, no Brasil, o uso da água de coco para a diluição do sêmen de bode, a ser empregado no processo de inseminação artificial, ficando comprovado que, além do seu baixo custo, a água de coco concorre para maior número de inseminações positivas e para o nascimento de um número maior de fêmeas.
A inseminação artificial possui diversas vantagens: evita a transmissão de doenças tanto aos machos quanto às fêmeas; um único macho pode ser utilizado para dezenas e até centenas de fêmeas, por ano. Um touro, por exemplo, pode fecundar, por inseminação artificial, mais de 1.000 vacas por ano; permite grande economia a aquisição e manutenção de machos, pois o número de reprodutores necessários é muitas vezes menor; possibilita obter filhos de reprodutores cuja importação de outros países seria impossível, mas cujo sêmen possa ser adquirido; uma grande uniformidade de tipo pode ser obtida, em pouco tempo, devido ao grande número de filhos que podem nascer de um mesmo reprodutor; muitas fêmeas tidas como estéreis podem ser fecundadas pela inseminação artificial e ter crias, normalmente; o sêmen, pelos modernos métodos de conservação (congelamento), pode ser conservado indefinidamente, bem como transportado com facilidade, inclusive em longas viagens internacionais; como o sêmen pode ser estocado indefinidamente, mesmo depois de morto, um reprodutor poderá ter filhos durante muitos anos, até acabar o estoque de sêmen. Para a inseminação artificial, no entanto, só devem ser empregados sêmens de reprodutores de alto padrão zootécnico e somente por pessoal especializado.
Fonte: http://www.semenbrasil.com.br/art0003.html
http://www.capritec.com.br/art23.htm
Acesso em março de 2003
Revista Isto é, de 25.10.1995 página 62