“Controle Biológico de Gafanhoto”

O Brasil é reconhecido internacionalmente como o maior exportador de tecnologia em controle biológico de pragas. O caso dos gafanhotos, que atacam lavouras no mundo todo, é exemplar. Pesquisadores da Embrapa descobriram um fungo que é inimigo natural dos gafanhotos e o reproduziram em laboratório. Pronta para ser lançada no mercado, a nova arma contra a praga é um fungo, reproduzido no laboratório do centro, que penetra pela “pele” do inseto quando ocorre o contato. Em poucos dias, esse fungo germina, ramifica e solta toxinas, destruindo os órgãos vitais do inseto e amadurecendo até lançar esporos (sementes) interna ou externamente. A morte do gafanhoto contaminado ocorre em nove dias, e a eficiência desse tipo de controle biológico é de 80% a 90%, comemoram os pesquisadores. A conta compensa: “Por dia, os gafanhotos podem comer 80 toneladas de plantação”, diz Bonifácio Magalhães, chefe-adjunto de pesquisa. A tecnologia hoje é exportada para dezenas de países.

 

Em 1993, o “Controle Biológico de Gafanhotos” foi encomendado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), que o financiou por um ano. A preocupação da entidade era a de encontrar um método natural para dizimar a praga, já que o controle químico, também financiado por ela em vários estados brasileiros, fatalmente trazia consequências ambientais negativas, além de contar com resistências de organizações ambientalistas. Quando grupos ecológicos do Rio Grande do Sul entraram com mandado de segurança contra o programa da FAO, tornou-se necessário buscar uma alternativa à aplicação dos agrotóxicos. O inseticida mais comumente utilizado nas lavouras até hoje é o Fenitrotion, que provoca a morte de animais, como pássaros, e intoxicação de mananciais de água, além de matar inimigos naturais do gafanhoto. Ao detectar a importância da continuidade dos estudos com o fim do contrato, a Embrapa decidiu mantê-lo. Hoje, é a própria empresa quem banca o projeto. O gafanhoto é considerado uma das piores pragas da agricultura brasileira. E também não é para menos, visto que pode chegar a causar danos em áreas de até dois milhões de hectares, como aconteceu no Mato Grosso, um de seus habitats favoritos. Além de gregário, já que só anda em bandos, esse inseto é bastante guloso (chegando a comer o correspondente a seu peso por dia) e tem uma dieta alimentar muito variada, que inclui desde gramíneas e pastagens – seus pratos prediletos – até roupas e móveis. E, por isso, não é à toa que o governo brasileiro, gasta anualmente cerca de um milhão de dólares em inseticidas químicos para controlar o gafanhoto.

Diante dessa situação, a Embrapa – Recursos Genéticos e Biotecnologia, situada em Brasília-DF, com o apoio da Empresa Agropecuária do Rio Grande do Norte – EMPARN, da Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT e da Delegacia Federal de Agricultura do Mato Grosso, vem desenvolvendo um projeto de pesquisa. O objetivo é controlar biologicamente o gafanhoto, através do uso de inimigos naturais da praga, principalmente fungos e protozoários. Esses são capazes de controlar o gafanhoto, sem causar danos ao meio ambiente e à saúde das populações. Além disso, é possível reduzir drasticamente os gastos necessários ao uso de produtos químicos.

O projeto desenvolvido pela Embrapa consiste basicamente no seguinte: os pesquisadores coletam os microrganismos na natureza, isolando-os e caracterizando-os em laboratório, para depois testar a sua capacidade de patogenicidade sobre os insetos. Atualmente, a equipe da Área de Controle Biológico da Embrapa – Recursos Genéticos liderados pelo pesquisador Bonifácio Magalhães, mantém três espécies de gafanhotos. Elas foram coletadas no Distrito Federal, Mato Grosso e Rio Grande do Norte (Rhammatocerus schistocercoides, Stiphra robusta e Schistocerca pallens,), locais onde há maior incidência dessa praga, apesar de ocorrer também em Minas Gerais, Tocantins e Rio Grande do Sul. Segundo Bonifácio, fungos de várias espécies têm sido testados para controlar o gafanhoto, como Metarhizium anisopliae, Metarhizium flavoviride e Beauveria bassiana. Entre esses, o que vem apresentando melhores resultados é o Metarhizium flavoviride, não só por sua virulência elevada e pela resistência a altas temperaturas, como também pelo fato de ser facilmente produzido em condições de laboratório.

O primeiro indício da existência de um agente biológico letal para os gafanhotos no Brasil foi descoberto pelo pesquisador Bonifácio Magalhães, chefe do projeto do Cenargen. Ao percorrer uma área atingida pela praga no Rio Grande do Norte, Magalhães achou alguns exemplares do inseto no solo, recobertos por uma espécie de mofo. As análises laboratoriais mostraram que a morte dos gafanhotos havia sido causada pelo ataque de um fungo do gênero Metarhizium, e a partir daí iniciou-se a pesquisa sobre a sua reprodução em laboratório, bem como a utilização e a eficiência na formulação de um inseticida biológico.

Apesar de dar preferência ao corpo dos gafanhotos para a sua reprodução, o fungo também se desenvolve bem em um substrato feito de arroz branco cozido assepticamente, explica o pesquisador Marcos Faria, membro da equipe de Magalhães. Inoculado no arroz, protegido de contaminação externa e sob temperatura controlada, o Metarhizium amadurece em cerca de 12 dias. Separados do substrato, os esporos, uma poeira fina de coloração verde-escura, são dissolvidos em uma mistura de óleo de soja e querosene, e, grosso modo, está pronto o inseticida biológico.

O Metarhizium não elimina os insetos imediatamente, como o pesticida. A morte ocorre apenas nove dias depois da contaminação pelo fungo, mas no terceiro os gafanhotos já param de comer. Mais caro que o uso dos produtos químicos, o controle biológico tem a grande vantagem de livrar o meio ambiente, os produtores e os consumidores dos efeitos dos agrotóxicos. “No mercado internacional isso está se tornando cada vez mais importante. A Austrália, por exemplo, já adotou o controle biológico como bandeira nacional, e o Brasil não pode ficar para trás”, diz Magalhães. Segundo os pesquisadores do Cenargen, o inseticida biológico para controle de gafanhotos está pronto para ser produzido comercialmente, e a Embrapa já está negociando a fabricação com indústrias interessadas. O controle dos gafanhotos através do fungo Metarhizium deve ocorrer na fase em que os insetos acabaram de eclodir dos ovos. A aplicação do inseticida biológico é igual ao do produto químico – com pulverizadores manuais –, e deve ser feita tanto sobre os insetos quanto nas áreas suscetíveis ao ataque, nesse caso quando for detectado algum bando nas proximidades.

 

Fonte:

http://globorural.globo.com/barra.asp?d=/edic/185/rep_nova_tec1a.htm

http://www.snagricultura.org.br/artigos/artitec-gafanhotos.htm

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/205/negocios/205_brasil_hi_tech.htm

http://www.radiobras.gov.br/abrn/c&t/1996/materia_050496_1.htm

Patentes: Onde o Brasil perde, Sindicato da indústria de Artefatos de papel, Papelão e Cortiça no Estado de São Paulo, dez/93, pg 9

acesso em abril de 2002

http://www.biotecnologia.com.br/bio/bio22/22_3.htm

acesso em janeiro de 2003

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