“Controle Biológico do Ácaro da Mandioca”

Três espécies brasileiras de ácaro salvaram africanos de passar fome. Esses ácaros predadores foram introduzidos na Nigéria e no Benin para atacar seus primos que destruíam as culturas de mandioca, os ácaros verdes. E o sucesso não só salvou da fome os lavradores locais, como já pagou três vezes o investimento inicial. A importância do trabalho deve-se ao fato de a mandioca, uma planta nativa do Brasil, ser um dos principais alimentos da população da África negra. “E o arroz com feijão deles”, lembra o pesquisador Luiz Alexandre Nogueira de Sá, da Embrapa Meio Ambiente em Jaguariúna (SP).

Nogueira de Sá é o responsável técnico pelo laboratório do primeiro e único laboratório de quarentena do país para analise da introdução de organismos exóticos para controle biológico. O Laboratório de Quarentena Costa Lima foi criado em novembro de 91 e, desde então, já analisou a utilização de 106 espécies de organismos exóticos no país. Mas seu papel também está ligado á exportação desses organismos, como no caso africano.

 

O trabalho com o ácaro verde e seus predadores deve-se aos estudos de outro pesquisador, Gilberto de Moraes, segundo Nogueira de Sá. Foram localizadas cinco espécies de ácaros predadores no Mato Grosso, das quais três tiveram sucesso na África. Como não existem laboratórios comparáveis na Nigéria ou em Benin, o estudo de quarentena teve de ser feito na Holanda antes do envio para a África. O custo total do processo ficou em cerca de US$ 2 milhões, pagos pelos africanos -ou melhor, negociados em suas dividas externas.

Mas, diz Nogueira de Sá, a economia já feita pelo controle da praga da mandioca equivale a US$ 6 milhões, e os ácaros já estão espalhados por sete países. O controle biológico de pragas no Brasil está por trás de vários sucessos da agricultura do país. Um deles e o controle por vespas da broca da cana. Insetos criados em laboratório estão sendo usados no controle biológico de pragas das lavouras de cana-de-açúcar, algodão e milho. Para combater a broca da cana-de-açúcar, lagarta que causa a inversão da sacarose e diminui o rendimento industrial na produção de álcool, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, criaram em laboratório uma vespa da espécie Cotesia flavipes. A vespa, natural de Trinidad Tobago, na América Central, foi importada nos anos 1970 para controlar a praga. Na época, a infestação havia chegado a 10% e foi reduzida a 2% com a ajuda do inseto, cultivado nos laboratórios das empresas de cana. Como os laboratórios foram fechados, quando a infestação voltou a crescer, pequenas empresas passaram a fornecer a vespa. Outra forma de atacar a praga, é com vespas do gênero Trichogramma, usadas onde a Cotesia flavipes não se adapta. Além da cana-de-açúcar, o animal pode controlar as pragas do algodão, do milho e de hortaliças, como o tomate e o repolho.

Outro é o uso de ácaros predadores europeus para controle de pragas da maca. O controle biológico usando organismos de outros locais e uma maneira de reverter desequilíbrios no ambiente. A laranja, por exemplo, e cultura asiática, que não existia nas Américas. Importar um predador asiático que ataque uma praga da laranja e uma maneira de remediar o problema -a alternativa, fantasiosa, seria parar de produzir laranjas.

 

Fonte:

http://www.ifi.unicamp.br/jornal-da-ciencia/msg00748.html

acesso em fevereiro de 2002

http://revistagalileu.globo.com/Galileu/1,6993,ECT586175-1939,00.html

acesso em novembro de 2003

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