Em 1932 cientistas descobriram que seria possível bloquear a dor, agindo sobre os receptores de acetilcolina, responsáveis pelo bloqueio da transmissão dos sinais de dor pelos neurônios, contudo nenhum progresso foi feito para encontrar uma substância que agisse sobre os receptores de acetilcolina. Até que em 1976 John Daly (National Institute of Diabetes and Kidney Diseases) descobriu a epibatidine – extraído da pele de um sapo encontrado na floresta amazônica, o Epipedobates Tricolor, capaz de bloquear a dor em ratos com uma eficiência cerca de 200 vezes superior a morfina. No entanto a obtenção da substância in natura não era viável, tendo-se desenvolvido técnicas para sua sintetização especialmente após 1986 quando foi possível conhecer a estrutura da epibatidine por medidas de espectroscopia por ressonância nuclear magnética.
Em 1823 um explorador britânico na Colômbia, registrou o uso pelos índios da Amazônia, de venenos extraídos de sapos como meio de atingir os inimigos. Os índios eram conhecidos por estressar os sapos e colocá-los próximo ao fogo, de modo que estes liberassem a toxinas por sua pele. Então, os índios enrolavam as pontas de suas flechas na pele do sapo, e tais flechas permaneciam envenenados por até um ano.
Mais tarde, na década de 60, John Daly foi ao Panamá com um amigo herpentologista coletar sapos. Inicialmente seu interesse se restringia a estudar a evolução dos sapos. Logo Daly percebeu que muitos destes sapos produziam substâncias alcalóides, que os índios usavam em suas flechas. Os alcalóides de cada espécie foram coletados e um extrato injetado em ratos para determinar o efeito. Quando o extrato do Epipedobates tricolor foi testado, foram descobertos seus efeitos analgésicos
Muitos problemas impediram John Daily de prosseguir com as pesquisas. Em primeiro lugar, o Epipedobates tricolor era uma espécie em extinção devido a devastação de seu habitat natural. Em segundo lugar sapos criados em laboratório não produziam a dita toxina alcalóide. As pesquisas somente prosseguiram após a década de 80, com a determinação da estrutura da epibatidine através de espectrometria por ressonância núclera magnética, o que abriu caminho para sintetização da substância. Segundo alguns grupos ecológicos, os cientistas pegaram – ilegalmente – 750 rãs da espécie, sem a permissão necessária. A organização “Acción Ecologica” de Equador requer a revogação da patente: “Esta patente é um ato de agressão contra nossa soberania nacional e nossa diversidade biológica.”
A epibatidine pura foi considerada excessivamente tóxica para uso, e além disso seus efeitos analgésicos causavam aumento na pressão sanguínea e paralisia. Os laboratórios Abbot testaram diversas variações sintetizadas e chegaram finalmente a ABT-594, sem os efeitos colaterais citados. A “ajuda” do sapo amazônico ao Abbott vai muito além do tubo de ensaio. Ele deu ao grupo vantagem estratégica sobre a concorrência, que há pelo menos uma década mantém pesquisadores no oeste da Amazônia caçando sapos e catalogando suas secreções. Apostavam na pele do P. bicolor, ou Phyllomedusa bicolor, coletado em áreas indígenas na fronteira do Brasil com o Peru. Nessa milionária disputa da indústria farmacêutica mundial, o Abbott saiu na frente: registrou a patente do analgésico.
Fonte: http://www.abdn.ac.uk/chemistry/abt/
http://wwwusers.imaginet.fr/~thiell/frogs/dendrobates/tricolor/tricolor1_f.html
http://www.bio.davidson.edu/biology/kabernd/seminar/studfold/MUVT/MNVT2.html
acesso em janeiro de 2002
http://www.amazonlink.org/biopirataria/biopirataria_casos.htm
acesso em março de 2003