Gol

Na segunda metade dos anos 70, a VW brasileira deparava-se com a necessidade de desenvolver um sucessor para o Fusca. Os mais modernos Fiat 147 e Chevette começavam a tirar mercado da marca. Na linha européia da empresa havia duas opções abaixo do médio Passat: o pequeno Polo e o médio-pequeno Golf.

No Brasil, embora desde 1974 existisse o Passat, considerado um “anti-VW” por suas características mecânicas totalmente diversas, o restante da linha era baseada no conceito de motor traseiro refrigerado a ar. No contexto de hoje, para lançar um carro da classe do Gol, seria natural escolher um dos modelos europeus — Polo ou Golf — e produzi-lo aqui numa nova fábrica, que acabaria sendo construída em Taubaté, SP. Mas havia alguns problemas.

As condições das estradas daqui e os hábitos dos motoristas brasileiros exigiam uma plataforma mais forte do que as alemãs. A Engenharia da empresa, instalada na Fábrica II onde funcionava a antiga Vemag, no bairro paulistano Vila Carioca, passou então a desenvolver uma nova estrutura com base na plataforma do primeiro Polo. Esta fora projetada anos antes, na Alemanha, exatamente pela equipe de Philipp Schmidt, que agora era diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Volkswagen brasileira.

A estratégia de desenvolver modelos no Brasil, embora bem-sucedida no caso do Brasília, havia resultado em insucessos como o SP-2 e o TL (outro, a Variant II, nasceria em 1977), sendo por isso contestada pela matriz alemã. Mas venceu a determinação de Schmidt e o projeto BX começou a nascer, em maio de 1976. O primeiro protótipo ficou pronto em dezembro do ano seguinte. Desenvolvido no final dos anos 70 pela engenharia da Volkswagen do Brasil, o Gol teve como inspiração dois dos melhores Volkswagen alemães da década de 70: o esportivo Scirocco e o pequenino Polo. Dessa fusão de estilos e com uma pitada do tempero brasileiro, nasceu o Gol, com a ingrata missão de substituir dois carros de uma tacada só: Fusca (que sobreviveu até 1986) e a Brasília (descontinuada em 1982), além de servir de base para uma família de novos modelos, chamada de linha BX, e que seria composta por uma versão três volumes (Voyage), uma perua (Parati) e uma picape leve (Saveiro).

Diferenças significativas entre o projeto nacional e seus “primos” alemães estavam na mecânica. Em vez da posição transversal de motor e câmbio, a VW do Brasil optou pela consagrada longitudinal. E — o que se constituiria em erro –, no lugar da refrigeração líquida usada lá fora e também no Passat, foi escolhido para o Gol o motor boxer (cilindros horizontais opostos) arrefecido a ar de 1,3 litro do velho Fusca. A potência líquida passava de 38 para 42 cv por conta da turbina de arrefecimento, que não precisava de tanta vazão, pois o motor recebia ar direto por estar na dianteira. Esse conceito básico, embora nunca aplicado aos modelos europeus da marca, já existia na Alemanha em 1969, quando a VW desenvolveu o projeto EA-276. 

Equipado inicialmente com motor de 1.300 cm³ à gasolina (em 1980) e depois à álcool (em 1981) – ambos tinham só um carburador. Devido a isso o carro tinha um rendimento sofrível, o que se refletiu na vendas: 46.733 em 80 e 38.595 em 1981. O Gol só ganhou um pouco de força mercadológica em 1982, com o lançamento da versão equipada com motor de 1.600 cm³ de dupla carburação, ainda refrigerado à ar. Ainda em 1982 é lançada a série especial Copa. Nesse ano foram vendidas 57.014 unidades do Gol. As versões eram L e LS, sendo que em 1983 a logotipia foi alterada. Em maio de 1980 o Gol chegava ao mercado, nas versões básica e L, produzido na nova fábrica em Taubaté. Seu nome, associado a esportes como outros da VW (Golf, Polo, Derby), lembrava a paixão brasileira pelo futebol. No entanto, apesar dessas qualidades, o carro não correspondeu às expectativas. O motor refrigerado a ar, além de destoar da concepção moderna do Gol, tinha potência insuficiente para suas pretensões. A VW deve ter acreditado que o carro só poderia vingar, especialmente no interior do País, com o consagrado coração do Fusca. Por outro erro de avaliação, a marca priorizou a economia de combustível e optou pela versão de 1.285 cm3 com um só carburador, quando o próprio Brasília vinha com 1.584 cm3 e, desde 1976, dupla carburação.

As vendas logo apontaram a falha e os engenheiros da Volkswagen tiveram de agir rápido. Em fevereiro de 1981 chegava ao mercado o Gol S e LS de 1,6 litro, ainda refrigerado a ar, mas com dupla carburação, potência líquida de 56 cv e torque máximo de 11,3 m.kgf. Como os dois carburadores ocupavam mais espaço, o estepe teve de ir para o porta-malas, reduzindo-o em boa parte. Mário Ferreira, dono da concessionária Condor, na capital paulista, percebeu então que bastava montar o pneu com a face externa para cima para que ele se encaixasse sobre o carburador direito. A idéia, simples mas genial, foi logo adotada pela VW.

A família Gol foi projeto brasileiro, mas isso não impediu que fosse — e ainda seja — vista e comprada em muitos países mundo afora. Na Argentina, onde é fabricado inclusive motores diesel 1,6-litro de 50 cv e 1,9 de 64 cv, o hatch foi o carro mais vendido, chegando a vencer a preferência local pelas quatro portas na época em que não oferecia essa conveniência. O Voyage recebia lá os nomes Gacel e depois Senda, enquanto no Peru, Chile e Guatemala era Amazon. Já o Gol e a Parati no mercado mexicano chamam-se Pointer, nome bem conhecido por aqui. 

O feito mais importante da linha, porém, foi chegar ao mercado norte-americano, em 1987, como Fox (Voyage de duas e quatro portas) e Fox Wagon (Parati). Vendidos como opção inferior ao Golf, tiveram o motor 1,8 limitado a 81 cv de potência e 12,8 m.kgf de torque, apesar do emprego de injeção — importada com fim exclusivo de exportação, devido à lei de reserva de informática. Outros recursos que aqui não existiam eram catalisador, pára-choques resistentes a pequenas colisões, cintos de três pontos no banco traseiro e faróis recuados para maior proteção — abolidos na reestilização de 1991. Neste mesmo ano foram adotados cintos dianteiros com faixa diagonal automática e protetores de joelhos em caso de colisão.

No total, foram mais de 2.000 modificações para adaptá-los à legislação e às preferências locais, como ar-condicionado redimensionado e suspensão mais macia. O câmbio de apenas quatro marchas trazia a última bem longa (3+E), para compensar a falta de um automático (um de cinco marchas chegou como opcional em 1988). Permaneceram no mercado canadense até 1992 e nos EUA até 1993, tendo a Wagon sido suprimida já em 1990. O Fox chegou também ao Iraque, no Oriente Médio, substituindo o Passat exportado até 1988, mas a venda encerrou-se com a Guerra do Golfo.

Em 1984 foi lançado o Gol GT 1.8, com câmbio de 4 marchas e equipado com o motor AP 800S, o mesmo que equipava o Santana, mas com comando, carburação e regulagens diferentes, que lhe aumantavam a potência em regimes de rotação mais alto. O Gol passa a ser equipado com o motor AP 600. São alterados faróis, piscas e grade, os pára-choques passam a ser pintados na cor cinza e as polainas agora são maiores. A versão LS ganha friso horizontal na tampa traseira. A versão com motor refrigerado à ar continua a ser produzida, agora como versão BX. Em 1985 foi introduzido o câmbio de cinco marchas na linha Gol. Em 1986 é lançada a série Plus. O Gol BX deixa de ser produzido. No final de 1986 veio a primeira alteração estética (face-lift) do Gol, já como linha 1987: foram alterados a dianteira (novo capô, pára-lamas, grade, faróis e piscas), além de ganhar pára-choques envolventes, e as lanternas traseiras, que se extenderam até a placa. Muda também a nomenclatura da linha, passando a serem identificados pelas siglas C (existia somentes “pro governo ver”, nas palavras de um concessionário), CL, GL e GTS.

Em 1987 o Gol alcançou o posto de carro mais vendido no país, desbancando o Monza. Desde então o Gol mostra quem é que manda nas paradas. No final do mesmo ano ocore uma nova mudança, sai o velho painel, derivado da Variant II e entra o do Santana. A versão GTS recebe um painel diferenciado, com comandos ao redor do painel (painel satélite), além de receber comandos elétricos nos vidros e espelhos. A trava elétrica é a primeira a ser utilizada pela VW (O Santana já possuía trava central, mas era pneumática). Mudam também os espelhos retrovisores, agora maiores, iguais ao do Santana. O final de 1988 reservava um marco, tanto para o Gol como para a indústria automobilística brasileira: o lançamento do Gol GTi (modelo ’89), equipado com motor AP 2000, com injeção eletrônica Bosch LE-Jetronic, produzido num tom exclusivo de azul, o azul mônaco, além de ter pára-choque pintados de cinza. Em 1989 a versão CL passa a ser equipada com o motor AE 1600 , ex-CHT 1600 (Isso devido à joint-venture firmada entre Volks e Ford, a Autolatina – na minha opinião, a pior coisa que a Volks já fez). É também lançada a série especial Star, com motor 1.8. Tratava-se de um ensaio para o lançamento da versão GL com esse motor. 

Em 1990 o Gol GL passa a ter o motor AP 1800, numa versão mais mansa (mas não menos fera) daquela que equipava o GTS. O Gol GTi passa a ser produzido na cor azul astral. No final de 1990 (já como modelo ’91), nova mudança estética. Mudam dianteira (capô, grade, faróis, piscas e pára-lama) e a tampa traseira, que passa a ser lisa. Com essas mudanças o Gol passa a ser conhecido como “chinesinho”. O Gol GTi ganha nova opção de cor, a cinza nimbus. A versão CL passa a ter como opcional o motor 1.8. Em 1992 o Gol GL passa a ter o mesmo painel satélite dos Gol GTS e GTi. Em 1993 os pára-choques passam a ser na cor cinza. O carburador passa a ser eletrônico. A Volkswagen se toca e volta a usar o motor AP 1600 na versão CL. É lançado o Gol 1000, equipado com o motor AE 1000 (outra burrada da Volks, que insistia no uso desse motor, de concepção antiga – tinha comando de válvulas no bloco, varetas e balancins – e baixo rendimento). O Gol GTi ganha novas opções de cores: amarelo sunny, vermelho colorado e branco dakar (perolizada).

Em 1994 a direção hidráulica passa a ser item opcional. É relançado o Gol Copa. Em 1995 surge o novo Gol, conhecido como família AB9. Para os íntimos era o Gol “bolinha”, devido às suas linhas arredondadas. Os motores ganham injeção eletrônica single point, modelo EEC IV, produzida pela FIC. O Gol GTI (com “i” maiúsculo mesmo), que era equipado com injeção multipoint Bosch, também passa a ter injeção FIC. O Gol 1000 continua a ser produzido com sua carroceria antiga. Sai a série especial Rolling Stones, devido à passagem da banda pelo Brasil. Quem comprasse o carro levava a fita do álbum “Voodo Lounge”. Desaparece a versão GTS. Em 1996 é lançado o Gol GTI 16V, com motor que rendia 145 cavalos de potência e levava o carro a mais de 200Km/h. Era facilmente identificável pelo capô, que possuía um ressalto, necessário para acomodar o motor com duplo comando, pela cor, vermelho dakar, e pelas rodas de aro 15. Também é lançado o Gol Atlanta, série especial em comemoração às Olimpíadas de Atlanta e que tinha opções de motores 1.6 e 1.8. Surge o Gol TSi, com motor 1.8, sucessor do GTS. O Gol 1000, em sua caroceria antiga é extinto.

Em 1997 todos os modelos ganham injeção multipoint da Magnetti Marelli. O Gol TSi passa a ter motor AP 2000. O Gol é eleito “O carro mais querido do Brasil” na pesquisa feita pela revista “Carro” junto a leitores e consumidores de todo país. Em 1998 o Gol ganha opção de quatro portas, um imposição do mercado, além de dispor de airbag como opcional nas versões mais luxuosas. São lançados o Gol 1000 16V, o Gol GLS e a série especial Star, com motor 1.6. O Gol TSi deixa de ser produzido. Em 1999 é lançado o Gol Geração III. A parte dianteira e traseira são modificadas, bem como o interior. Em dezembro de 1999 o Gol atingiu a marca de 3.000.000 unidades produzidas. Marca muito próxima das 3.037.190 unidades do Fusca produzidas no Brasil de 59 a 86 e de 93 a 96. Em 2000 o Gol completa 20 anos de sucesso no mercado brasileiro e, pela 13ª vez consecutiva, é o carro mais vendido no país. Em maio de 2000 é lançado o Gol Série Ouro 1.0 16V, em comemoração as Olimpíadas de Sidney. Em junho de 2000 é lançada a versão 1.0 16V Turbo. Esse motor desenvolve 112 cv de potência máxima. Mais uma vez a tecnologia Volkswagen fala mais alto.

Em dezembro de 2000 o Gol GTI 16V deixa de ser produzido, deixando órfãos muitos fãs do modelo que era o mais veloz da linha Gol. Janeiro de 2001 – Após balanço de vendas, o Gol fecha o ano de 2000 como o carro mais vendido do país, com 243.115 unidades comercializadas. Pelo 14º ano consecutivo, deu Gol na cabeça! Fevereiro de 2001 – O Gol 1.0 16V Turbo aumenta sua participação no mercado e provoca o fim da versão 1.6 a gasolina. Maio de 2001 – É lançada a série especial Fun, com motor 1.0 16V e 4 portas. Conta, ainda, com direção hidráulica, rodas de liga leve exclusivas, faróis e lanternas de neblina e moldura dos faróis duplos pintados na cor do veículo. Tudo de série. Julho de 2001 – O motor 16V passa a ter 76cv de potência, passando a ser o motor 1.0 aspirado mais potente do mercado. Os modelos equipados com esse motor já são da linha 2002. Outubro de 2001 – Surgem as versões Power e Trend (série especial da versão 1.0 8V, que no pacote básico conta com direção hidráulica, aerofólio com terceira luz de freio, faróis com duplo defletor, rodas de aço de 14 polegadas, pneus 185/60, vidros verdes escurecidos, banco dianteiro com porta-celular, lanternas traseiras parcialmente fumês e preparação para som sem alto-falante. O ar-condicioando é opcional. Já versão Power chega para substituir a série especial Fun, lançada em Maio, sendo idêntica em acabamento.

Dezembro de 2001 – É lançada a série especial Highway, que vem de série equipado com direção assistida, faróis de duplo refletor com máscara negra (como no Turbo), spoiler traseiro com terceira luz de freio, preparação para áudio com antena no teto, 4 alto-falantes e 2 tweeters, lanternas traseiras fumês e vidros escurecidos. A intenção é produzir 9.000 unidades até fevereiro de 2002. Os opcionais são: aquecimento, ar-condicionado, bolsas infláveis, ajuste elétrico dos retrovisores, alarme com comando a distância e comando elétrico do porta-malas, além do módulo Light (espelho iluminado nos dois pára-sóis e faróis de neblina). Janeiro de 2002 – O Gol, pela 15ª vez consecutiva, é o carro mais vendido no Brasil. Fevereiro de 2002 – É lançada a série especial Sport, em comemoração à Copa do Mundo. Abril de 2002 – O Gol 2.0 deixa de ser produzido, em razão do lançamento do Polo no Brasil. Isso aconteceu para que as versões mais baratas do Polo não concorressem com o Gol 2.0 em preço. Julho de 2002 – As versões 1.1.6 álcool do Gol também saem de linha, devido ao lançamento da versão 1.0 16V (motor de 79 cavalos) do Polo.

Agosto de 2002 – Sem criar alarde, a VW lança a versão 2003 do Gol, que recebeu um “face-lift” na dianteira, para deixá-lo apto a enfrentar a concorrência até meados de 2005, quando o seu substituto deverá ser lançado. Setembro de 2002 – A versão 2003 é lançada sem alarde, trazendo de volta o motor 1.6 (gasolina e álcool). Mudam pára-choques dianteiros e traseiros, além da grade, que perde um friso. Janeiro de 2003 – Três Gols Power 1.6 batem recordes mundiais de Endurance no Autódromo de Interlagos, quando rodaram 5.000, 10.000 e 25.000 km, respectivamente. O recorde foi homologado pela FIA. Janeiro de 2003 – Mais uma vez o Gol foi o carro mais vendido no Brasil, pelo 16º ano consecutivo. Março de 2003 – É relançada a versão Highway do Gol. Março de 2003 – É lançada a versão TotalFlex, primeiro carro nacional a funcionar com álcool e gasolina. Julho de 2003 – O Gol atinge a marca recorde de 4 milhões de unidades produzidas no país!! 

Fonte: 
http://www.uol.com.br/bestcars/classicos/gol-1.htm
acesso em janeiro de 2002
http://volksextreme.coolfreepage.com/index.php?page=hist_gol
 
acesso em dezembro de 2003
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