Heparina Brasileira

Compostos com a mesma atividade da heparina, principal anticoagulante conhecido, foram encontrados em invertebrados marinhos. Conhecidos como heparina brasileira, os compostos são extraídos da ascídia, do pepino-do-mar e do coquille de Saint Jacques. À frente da pesquisa, que já dura 15 anos, está o bioquímico Mauro Pavão, do Laboratório de Tecido Conjuntivo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com vasta atuação, a heparina é utilizada na prevenção da trombose, em pacientes que fazem hemodiálise e em cirurgias nas quais o sangue circula fora do corpo, entre outros. Os resultados entusiasmaram o Instituto de Saúde Pública dos Estados Unidos que está investindo US$ 100 mil na ampliação das pesquisas sobre o novo medicamento pelos próximos três anos (2002-2005).

 

Os anti-coagulantes são utilizados no tratamento de doenças cardiovasculares – em especial depois de infartos – porque impedem o bloqueio da circulação sanguínea. O mais popular anticoagulante do mercado, a heparina, é feito a partir de compostos retirados de pulmões e intestinos de porcos e bois o que eleva o risco de contaminação por agentes patogênicos. Na Europa, por exemplo, o medo da vaca louca fez com que apenas a heparina de porco fosse utilizada. Em contrapartida, a heparina nacional, com já foi apelidada, não apresenta perigo de infecção. os copostos identificados pela equipe de Pavão em invertebrados marinhos como pepinos do mar, ascídias (ou batatinhas do mar) e coquiles Saint Jacques são os glicosaminoglicanos – da mesma família da heparina. Os cientistas não sabem exatamente qual é a função desses compostos nos organismos marinhos, mas tudo indica que tenham participação na formação da estrutura de seus corpos. A equipe vem estudando invertebrados marinhos nativos há 15 anos. 

Os cientistas identificaram as estruturas químicas sintetizadas pelos invertebrados marinhos e verificaram que alguns desses compostos apresentam estrutura semelhante à da heparina. Os testes com esses compostos foram feitos in vitro, a partir da indução experimental da trombose em animais após a injeção dos compostos dos invertebrados. Os resultados mostraram que esses compostos são capazes de prevenir a formação de trombos nas veias e artérias e de reduzir o sangramento — pior efeito colateral provocado pela heparina obtida do pulmão e do intestino de bovinos e suínos. Além disso, eles não são tóxicos, não se acumulam nos tecidos, possuem um efeito anticoagulante mais prolongado e, por sua origem, os riscos de contaminação viral são praticamente inexistentes. 

Recentemente, a equipe de Pavão realizou uma parceria com o Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía de Ilha Grande (IED-BIG), uma referência em maricultura do estado do Rio de Janeiro. Hoje, o instituto desenvolve metodologia para o cultivo de ostras, mexilhões e coquilles de Saint Jacques, mas o objetivo é cultivar também os outros invertebrados que contêm esse composto, como as ascídias e o pepino do mar. 

A parceria com o IED-BIG também tem um aspecto social: a idéia é oferecer cursos de cultivo artesanal para pescadores do estado do Rio de Janeiro, para que possam vender esses animais para indústrias. A fim de ratificar essa parceria, um curso sobre as recentes pesquisas desenvolvidas na área será promovido em setembro no Rio. A próxima etapa da pesquisa é partir para os testes clínicos e buscar financiamento das indústrias farmacêuticas para a produção e comercialização dos compostos.


Só existe um antitrombótico oral no mercado mundial, que tem a principal desvantagem de possuir dose tóxica quase tão alta quanto à terapêutica. Além disso o efeito só é obtido após um longo período de adminstração, limitando o uso em pacientes com trombose já instalada. Segundo Roberto Debom , diretor de pesquisa Desenvolvimento e Inovação do crsitália “com o envelhecimento da população mundial, cersce a necessidade de antotrombóticos. Um composto por via oral é uma alternativa vantajosa, porque gera conforto e maior adesão ao tratamento”. Ele lembra ainda que o uso de antitrombóticos endovenosos não pode ser feito fora do ambiente hospitalar e ainda traz o risco de sangramento, muito comum nas aplicações. A Cristália recebeu financiamento para o projeto inovador Pepino do Mar como antitrombótico oral em 2008. 

Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n441.htm 
http://www.geocities.com/jinhuahan/mauro/maurocv.html 
http://tollefsen.wustl.edu/personnel/personnel.html 
http://odia.ig.com.br/odia/ciencia/saudenatural.htm 
acesso em fevereiro 2002
Jornal O Globo de 06.05.2002 página 22 (Ciência e Vida) 
Inovação em pauta, n.2, maio 2008, FINEP, p. 56 

 

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