Herpesan

Hoje, estima-se que 30% da população brasileira tenha herpes e que 85% tenha o vírus, mas não apresente nenhuma manifestação da doença. Em uma família, quando um membro adquire herpes praticamente todos os outros serão contaminados, mesmo que não apresentem manifestação, que só se manifestará num momento de baixa imunológica do corpo. O remédio mais utilizado no combate a doença é o Zovirax, cujas vendas alcançam 4 bilhões de dólares por ano no mundo inteiro. Uma pesquisa feita em conjunto com a UFPB, UFPE, UFRJ e Unicamp iniciada há dez anos, resultou num novo medicamento para o combate a doença. Do lado da iniciativa privada, a Phytoquímica, pequena empresa de João Pessoa da Paraíba especializada em fitoterápicos e criada em 1991,investindo custou em torno de 500 mil reais. 

Numa primeira etapa do trabalho os pesquisadores desenvolviam testes com plantas em busca de moléculas antimicrobianas e antivirais. Testaram mas de 400 plantas e encontraram uma no Nordeste, com um princípio ativo, que foi identificado, isolado e sintetizado, dispensando o uso da planta para sua produção. <>I”O processo de síntese está completamente dominado e foram feitos testes pré-clínicos e estudos clínicos em mais de 100 pacientes”, afirma Marçal de Queiroz Paulo, do Laboratório de Química de produtos Naturais, da UFPB, um dos pesquisadores que trabalhou no projeto. Os testes foram realizados na UFPB e em outras universidades como UFPE, UFRJ e Unicamp. O herpesan tem muitas diferenças de seu principal concorrente, o Zovirax. A começar pela estrutura molecular que difere dos outros remédios, por pertencer a uma nova classe de fármacos antivirais: os neoflavonóides, que são substâncias sintetizadas pelas plantas para defesa e coloração.

Para o paciente a vantagem do Herpesan é que ele tem a mesma potência dos outros medicamentos. É menos tóxico e melhor absorvido pelo organismo. Enquanto o Zovirax exige que o paciente tome oito doses, de três em três horas, para surtir efeito, o Herpesan precisa ser tomado apenas três vezes. Durante o estudo do novo produto, um dos aspectos verificados foi a toxidade com análise da possibilidade de problemas de peso, complicações renais ou estomacais nos pacientes que o utilizassem. O princípio ativo do Herpesan foi inicialmente extraído de uma planta utilizada na medicina popular da região, o que ja é um indicativo de que a toxidade não é alta. A toxidade do Zovirax é muito alta. Na utilização tópica do produto não há grandes problemas, mas sim nos casos em que o paciente apresenta um quadro muito grave e precisa receber o remédio oralmente. A quantidade de remédio tomada pelo paciente tem que ser alta porque a absorção é pequena e o paciente deve ficar hospitalizado, em observação. O medicamento pode ocasionar necrose e morte do paciente. As seqüelas do tratamento podem ser vômitos, dor de cabeça e problemas digestivos por muito tempo. 

A herpes não tem cura e os remédios servem apenas para controlar e inibir sua apresentação. Outra característica da doença é que o vírus adquire resistência ao medicamento, portanto são necessários novos produtos. “Durante os testes o herpesan resolveu o problema de pacientes com herpes há dez, doze anos que não obtinham mais resultados com o Zovirax. Poartnato já estava na hora de surgir outro produto menos tóxico e mais eficaz”, afirma Paulo. O novo medicamento atua no herpes simples I, que aparece na região da face, herpes simples II, que surge na região genital e herpes zoster também conhecida como cobreiro por sua extensão, intensidade e gravidade. 

Mas se a tecnologia foi desenvolvida, o produto tem uma série de vantagens e está pronto para produção em larga escala, falta uma empresa de porte que possa fabricá-lo e distribuí-lo nacionalmente. A Phytoquímica bancou a pesquisa durante estes anos e agora procura parceiros para iniciar a fabricação em larga escala. Por enquanto o Banco do Nordeste S/A está encarregado de procurar parceiros interessados no novo fármaco. “mesmo tendo sido desenvolvido em uma região desprovida de meios, a pesquisa chegou a excelentes resultados. E o produto tem um enorme potencial de mercado”, diz Pedro Trombetta, da Phytoquímica. Apesar de ainda não estar sendo comercializado o herpesan foi patenteado em 69 países, inclusive no Brasil. De acordo com o professor Queiroz Paulo, a formulação do medicamento é um fato marcante para o Brasil, que está muito atrasado nesse campo “Só existem dois ou três medicamentos genuinamente brasileiros”, finaliza

Fonte: 
Tecnologia & Inovação para a indústria, SEBRAE, 1999, página 34
 
acesso em julho de 2003

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