Pesquisadores do Programa de Engenharia Nuclear da COPPE acabam de desenvolver um método inédito para tornar mais rápido o reconhecimento de bactérias. A pesquisa utiliza a neutrografia para identificar a bactéria pelo formato. Trata-se de uma radiografia com fonte de nêutrons capaz de detectar, em até cinco horas, os microrganismos presentes no ambiente. Pelo novo método não é necessário esperar o pré-cultivo da colônia de bactérias. A principal vantagem desta técnica é a redução do tempo, um elemento crucial no combate às bactérias.
Como as principais vítimas são pessoas doentes e debilitadas, a rapidez na conclusão do diagnóstico pode ser vital em casos de emergência. Para se ter uma ideia, os métodos convencionais levam em média 72 horas para obter a identificação, como é o caso do vibrião da cólera, e, dependendo do tipo de microrganismo, o resultado pode demorar semanas. No caso da Mycobacterium tuberculosis, responsável pela tuberculose, o diagnóstico pode demorar até 15 dias para ser concluído.
A pesquisa vem sendo realizada pela aluna de doutorado da COPPE, Joana D’Arc Ramos Lopes, sob a orientação da professora Vergínia Reis Crispim. De acordo com o método desenvolvido na COPPE, as amostras da bactéria são literalmente dopadas com uma composição de boro e expostas a um feixe de nêutrons. A submissão a esse verdadeiro bombardeio provoca uma reação nuclear onde são liberados lítio e partículas alfa. Estas partículas causam danos num detector plástico, conhecido como CR-39, e passam a ser visualizadas através de um processo de revelação química. Pelo formato, os pesquisadores identificam na imagem o grupo ou família a que pertence à bactéria, o que já possibilita ao médico prescrever o tratamento para combatê-la. “Essa é uma informação importante, pois para cada grupo de bactéria prescreve-se um antibiótico específico. Por exemplo, se for uma imagem em forma de bastão, sabemos que é um bacilo”, afirma Joana. Aliando esta informação aos sintomas apresentados pelo paciente, o médico dispõe de dados suficientes para tratá-lo, antes mesmo de se conhecer exatamente o tipo de bactéria que está provocando a infecção.
A pesquisa prevê ainda a utilização de redes neurais para a análise das imagens. Esse programa de inteligência artificial é capaz de reconhecer, de forma precisa, o formato da bactéria. “Trata-se de um procedimento complementar capaz de evitar qualquer erro na identificação puramente visual. Isso porque uma aglomeração de bactérias pode escamotear o verdadeiro formato, impedindo um diagnóstico correto”, explica.
A tese é fruto de quatro anos de pesquisa no Laboratório Neutrongrafia em Tempo Real (LNRTR) da COPPE, sob a coordenação da professora Vergínia Reis Crispim. A ideia surgiu do interesse da professora em desenvolver um método eficiente de controle da qualidade da água. “A aplicação da engenharia nuclear pode trazer muitos benefícios à sociedade. É preciso desmistificar o assunto, chamando a atenção para as potencialidades das técnicas”, acredita Vergínia. O Brasil vivia, em 1998, um surto de cólera e a professora estava revoltada com o anacronismo do mal: “Não é possível que com toda a tecnologia desenvolvida – lembra que pensou – estejamos convivendo com uma doença do século passado” . O próximo passo da pesquisa é a confecção de um irradiador transportável com uma fonte de amerício-berílio para possibilitar a irradiação das amostras num laboratório de análises clínicas. Além disso, o sistema é competitivo com os procedimentos tradicionais de análises laboratoriais, se comparado aos valores dos equipamentos mais modernos utilizados nesses laboratórios, custando cerca de R$ 15 mil.
Os testes para a pesquisa são realizados no reator do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN) e no Laboratório de Radiobiologia, do Instituto de Biologia da UFRJ.
Fonte:
http://www.planeta.coppe.ufrj.br/noticias/noticia000123.html
Acesso em março de 2002
http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cidade/2001/11/10/jorcid20011110009.html
Acesso em outubro de 2002