As caixas de leite tipo ‘longa vida’ podem ser reaproveitadas para a confecção de material de construção como isolante térmico de telhados. Quem garante é o engenheiro civil industrial Luis Otto Faber Schmutzler, também pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Além de reaproveitar um material poluente (uma embalagem de leite pode levar até cem anos para se decompor), a proposta de Schmutzler soluciona de forma econômica o problema das altas temperaturas em construções que usam telhas de cimento-amianto, como casas populares, oficinas e escolas públicas.
A partir de caixas de leite previamente abertas e unidas umas às outras, o engenheiro desenvolveu uma manta que é colocada sob as telhas a uma distância média de dois centímetros destas. O alumínio das caixas reflete até 95% da radiação infravermelha do Sol. A face de alumínio das caixas fica voltada para baixo, por motivos estéticos, mas o mesmo resultado é obtido se ela estiver voltada para cima. Com a técnica, é possível diminuir em até 10oC a temperatura do interior das casas – o que representa um conforto razoável.
Geralmente, casas populares de famílias de baixa renda são construídas com telhas de cimento-amianto que, além de mais baratas que as telhas cerâmicas, requerem uma estrutura de madeira reduzida, o que também barateia a construção. No entanto, essas telhas absorvem muito calor e, expostas ao sol, podem atingir até 70oC, superaquecendo o interior das casas. “A população economiza na construção, mas não imagina os transtornos do calor e a péssima qualidade de vida que ele gera”, diz Schmutzler. Segundo ele, o problema pode se tornar ainda mais crônico com a presença das lajes. “O calor que vem das telhas é absorvido pelo concreto das lajes e mantém o ambiente interior abafado durante toda a noite.”
A curiosidade foi a principal arma do pesquisador para idealizar o novo isolante. Ao abrir uma embalagem, Schmutzler percebeu que o material da caixa lembrava outro, caro e importado, que ele havia utilizado para proteger do calor sua casa de praia. Uma caixa de leite é composta por quatro camadas de polietileno (tipo de plástico), uma de papelão e uma de alumínio, e foi este último que se tranformou no grande trunfo do engenheiro, já que o material importado é composto por 95% de alumínio. “O custo de uma manta, que desempenha função semelhante à do material importado, é muito inferior, pois ela é feita a partir de embalagens destinadas ao lixo.”
Além de desenvolver conceitualmente seu experimento, Luis Schmutzler pretende agora divulgá-lo junto a prefeituras. A idéia é estabelecer um sistema de coleta seletiva e ensinar a população a construir por si só as mantas isolantes.
A difusão de sua utilidade como material de construção, acredita, contribuirá para aliviar o acúmulo de lixo urbano. “É nosso objetivo que as caixinhas sequer cheguem ao lixo”, diz. Schmutzler defende a criação de sistemas específicos de coleta pelas prefeituras ou por organizações ligadas às comunidades carentes, e o incentivo para que o trabalho de limpeza e colagem das embalagens seja feito em centros comunitários. Isso pode garantir, ainda, ganho econômico para catadores ou desempregados que se dedicarem à tarefa.
Atualmente, segundo o pesquisador, a Tetra Pak reprocessa 15% das embalagens, destruindo-as e vendendo os resíduos para fábricas de plástico e de papelão. Essas seis bilhões de unidades poderiam, se reaproveitadas, garantir 400 mil metros quadrados de isolante térmico, o suficiente para 40 mil pequenas moradias. Para cada metro quadrado de manta são necessárias 16 caixinhas de leite. “O país não pode se dar ao luxo de descartar esta preciosidade, em prejuízo não só do bem-estar da população como do meio ambiente”, ressalta Schmutzler.
O “Projeto Forro Vida Longa” que utiliza a embalagem “longa vida” como isolante térmico na construção civil – foi contemplado com o Diploma Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil.
Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n272.htm
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jan2001/pagina3-Ju158.html
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/jan2001/fotojan.html
acesso em fevereiro de 2002
envie seus comentários para [email protected].