Pesquisadores do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR -, órgão do Sistema SEAB, são o primeiro grupo no Brasil a transformar uma variedade comercial de laranja com gene para resistência à bactérias. Esse trabalho abre todo um novo campo de pesquisas para obtenção de variedades resistentes à Xanthomonas axonopodis pv. Citri, causador do cancro cítrico. O combate à doença consumiu, somente em 99, recursos da ordem de R$ 33 milhões em campanhas de erradicação . Anualmente, o cancro causa prejuízos de aproximadamente R$ 300 milhões em razão de sua disseminação nas regiões produtoras. Para o presidente do IAPAR, Florindo Dalberto, o avanço obtido pela equipe de pesquisadores “sintetiza a visão de futuro e os esforços do instituto na busca de parcerias para manutenção e desenvolvimento de uma pesquisa de qualidade, com aplicação não apenas no Paraná, mas forte contribuição para o agronegócio de todo o país”.
Luiz Filipe P. Pereira, pesquisador do IAPAR, explica que o grande avanço obtido nas pesquisas desenvolvidas nos laboratórios do instituto foi dominar uma técnica (protocolo) eficiente de regeneração e transformação genética a partir de tecidos vegetais maduros e de cultivares comerciais de laranja. O domínio dessas técnicas, com essas características, é único no Brasil e está restrito a poucos grupos de pesquisadores em todo o mundo. Além disso, o trabalho realizado foi o primeiro a produzir cultivares de laranjas com gene para resistência a bactérias. Vários trabalhos de transformação de espécies vegetais com genes, codificando peptídeos (pequenas proteínas) contra bactérias, foram realizados nos últimos anos, principalmente em batata e tabaco. Os resultados até agora relatados indicam que estes peptídeos antibacterianos têm grande potencial para serem usados no melhoramento vegetal visando o aumento da resistência contra bacterioses. Em citros, esta linha de pesquisa foi considerada pelo Grupo de Consultoria Técnica em Cancro Cítrico, durante o Workshop Internacional de Pesquisa em Cancro Cítrico (Flórida, EUA, junho de 2000), como altamente prioritária devido ao seu potencial de impacto e probabilidade de sucesso no controle da doença.
Através de acordo com o National Institute of Agrobiological Resources (Tsukuba, Japão), foi possível utilizar, para o processo de transformação, vetores contendo o gene stx IA, que codifica um peptídeo antibacteriano com alta atividade inibitória in vitro contra diversas bactérias e, especialmente, contra Xanthomonas axonopodis pv. citri. O próximo passo, segundo os pesquisadores, será multiplicar e testar as plantas geneticamente transformadas, em condições de laboratório e casas de vegetação. O pesquisador do IAPAR, Luiz Gonzaga Esteves Vieira, ressalta, neste sentido, que todos os experimentos vêm sendo conduzidos dentro das normas de biossegurança, estabelecidas pela CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – , para verificar os efeitos da introdução do gene na planta e os relacionados à segurança alimentar e ambiental. A perspectiva, segundo o grupo de pesquisa, é que, até o ano 2004, se mantido o financiamento e a equipe do projeto, uma grande quantidade de informações possa ser obtida para utilizar essa tecnologia no combate ao cancro cítrico de maneira eficiente e segura. O domínio da técnica de transformação genética, pioneira no Brasil, “vem em um momento oportuno”, segundo os pesquisadores. “Porque poderá facilitar as aplicações práticas dos resultados obtidos nos projetos de genoma de bactérias que vem sendo financiados pela FAPESP – Fundação de Pesquisas do Estado de São Paulo.
A equipe é composta pelos pesquisadores doutores Luiz Gonzaga Esteves Vieira e Luiz Filipe P.Pereira, do IAPAR, além dos bolsistas do CNPq/RHAE, Adilson K. Kobayashi e João C. Bespalhok Filho. Não é a primeira vez que os pesquisadores do IAPAR vencem desafios impostos pela barreira do cancro cítrico. Na final da década de 80, conseguiram romper com décadas de proibição de plantio comercial de laranja no Paraná ( fixadas por portarias do Ministério da Agricultura e CANEC – Campanha Nacional de Combate ao Cancro Cítrico) a partir da definição de tecnologias para convivência com a doença, viabilizando a citricultura no Estado, e possibilitando a implantação de agroindústrias desse setor. Agora, na busca de uma solução definitiva para o problema, o grupo de pesquisadores da Área de Biotecnologia do IAPAR também encarou e venceu o desafio de desenvolver e dominar uma metodologia eficiente de transformação genética em variedades comerciais de laranja.
O projeto de pesquisa foi iniciado no Laboratório de Biotecnologia Vegetal do IAPAR em 1998. Dominados os conhecimentos da obtenção da variedade geneticamente transformada, passou-se à confirmação da presença dos genes resistentes ao cancro, através de análises moleculares. O que se busca nesta linha de pesquisa biotecnológica, segundo a equipe de pesquisadores, é possibilitar uma rápida avaliação das características agronômicas da planta, reduzindo o tempo de avaliação do cultivar em campo, uma vez que do plantio da muda até obtenção de planta adulta para avaliação agronômica, e de características comerciais, leva-se, em média, de 5 a 8 anos. Maior produtor mundial de citros, o Brasil responde pela metade da produção de suco concentrado em todo o planeta. A receita do produto gera um faturamento anual superior a 1,5 bilhão de dólares e cerca de 400 mil empregos diretos. O suco de laranja é o quarto produto na pauta de exportações do Brasil, com 1 milhão 176 mil toneladas, antecedido apenas pela soja, café e carnes.
O Paraná cultiva, atualmente, 23 mil hectares e produz em torno de 420 mil toneladas da fruta.. Os principais Estados brasileiros produtores de laranja são: São Paulo, com produção de 16 milhões 146 mil t.; Bahia, com 571 mil t., seguido de Sergipe, com 509 mil t. e Minas Gerais, com 459 mil toneladas, segundo dados de IBGE e Secex, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A constatação de novos focos de cancro, especialmente no Estado de São Paulo, vem gerando dúvidas sobre a possibilidade de manter os pomares livres da doença, de maneira definitiva, e os prejuízos causados pelo cancro, somente nos últimos dois anos, chegam a cerca de R$ 300 milhões/ano em razão do aumento da incidência da doença. O cancro cítrico, afeta toda parte aérea da planta, causando lesões em frutos, folhas e ramos. Os frutos afetados são depreciados para o comércio e caem precocemente, reduzindo a produção da planta, inviabilizando o consumo da fruta in natura, a produção de sucos e exportação. Em decorrência, prejuízo de milhões de dólares ao País.
Em algumas regiões do Brasil, os bactericidas têm sido utilizados para controlar o cancro cítrico. Os compostos à base de cobre são os únicos que mostram alguma eficiência quando aliados a outras práticas de controle. No entanto, o uso frequente desses produtos pode resultar em aumento da resistência da doença a esses compostos. Além de não serem curativos, este modo de controle, na maioria dos casos, não se mostra econômico em casos de incidências severas da doença. A pesquisa agronômica tem buscado obter medidas adicionais de para tentar viabilizar a produção econômica de citros na presença do cancro cítrico. Dentre elas, o emprego de cultivares resistentes, que é o método mais desejável. Entretanto, cultivares de laranja doce, agronomicamente aceitáveis não apresentam níveis elevados de resistência ao cancro. Além disso, o melhoramento de citros é um processo longo, principalmente pelos aspectos botânicos dessa espécie. O potencial de melhoramento genético através da engenharia genética de plantas perenes, como a laranja doce, é bastante grande e, recentemente, tem sido alvo de intensos estudos. A transformação genética, segundo os pesquisadores, pode ser uma alternativa para diminuir o tempo de desenvolvimento de novas variedades. Por esta razão é que a introdução de genes para peptídeos antibacterianos ( proteína antibacteriana ) pode ser uma alternativa para obtenção de plantas mais resistentes às principais doenças causadas pelas bactérias nessas culturas.
Fonte: http://www.pr.gov.br/iapar/ni08_01.html
http://www.biotecnologia.com.br/noticias/19_04_01.htm
acesso em março de 2003