Língua Eletrônica

O tradicional métier dos degustadores de vinho pode encontrar um forte concorrente dentro de um ano. Deve estar disponível no mercado a ‘língua eletrônica’, aparelho que permite avaliar sabores com precisão muito maior que a humana. Criada pelos doutores Luiz Henrique Capparelli Mattoso e Antônio Riul Júnior, do centro de Instrumentação Agropecuária da Embrapa, em parceria com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), a língua eletrônica recebeu em novembro de 2001 o Prêmio Governador do Estado de São Paulo na categoria invento brasileiro. Os inventores são experts em filmes ultrafinos e dispositivos eletrônicos de polímeros condutores e trabalharam com o Prêmio Nobel de Química de 2000, Alan MacDiarmid. A dupla dedica-se há mais de seis anos, à pesquisa de sensores poliméricos para a agroindústria. O equipamento pode também ajudar no controle ambiental, monitorando os níveis contaminação por metais pesados e pesticidas em rios e mananciais, e no saneamento básico, controlando a qualidade da água nas estações de tratamento. Na indústria alimentícia, a língua eletrônica pode aumentar o rigor do controle de qualidade na fabricação de bebidas, por meio do monitoramento contínuo. Por enquanto, o equipamento está apto para operar com vinhos, café, e água mineral, mas os pesquisadores já estão desenvolvendo sensores específicos para análise de leite, suco de uva e de laranja.

 

O dispositivo é um sensor gustativo para avaliação de líquidos, capaz de reconhecer substâncias doces e salgadas a partir de 5 milimolar — a língua humana só identifica o doce a partir de 10 milimolar e o salgado a partir de 30 milimolar. A língua eletrônica detecta também o sabor azedo, amargo e umami (relativo a frutos do mar e comidas asiáticas), além de identificar a mistura entre eles. O sistema diferencia ainda, bebidas de mesmo paladar, como variedades distintas de café ou água mineral. Testes preliminares demonstraram a aplicabilidade do invento também para aromas, mas a análise de alimentos sólidos permanece distante. A língua eletrônica consiste em um conjunto de unidades sensoriais que devem ser mergulhadas no líquido analisado. Essas unidades são eletrodos metálicos recobertos por uma finíssima camada de diversos polímeros inteligentes — plásticos sensíveis às substâncias presentes na bebida. Os eletrodos geram padrões de sinais elétricos que variam em função da bebida avaliada. “Como os polímeros inteligentes conduzem eletricidade”, Mattoso esclarece, “eles transformam a interação entre as unidades sensoriais e a bebida em sinais elétricos que são captados por um software apropriado, treinado para fazer a conversão para os paladares conhecidos por meio da inteligência artificial.” O funcionamento do sensor gustativo utiliza o conceito da língua humana, conhecido como seletividade global, ou seja: o sistema biológico não identifica uma substância específica, mas agrupa toda a informação em padrões que o cérebro decodifica. Assim, o ser humano reconhece o paladar do café, mas não reconhece que ele é composto por mais de mil moléculas diferentes. “O sensor artificial trabalha da mesma forma, fornecendo uma resposta global (impressão digital) para caracterizar e reconhecer certa substância”, explica Dr. Mattoso.

A rapidez na resposta e o menor custo tornam o invento altamente vantajoso em relação a equipamentos de laboratórios de análises químicas e físicas. Segundo Dr. Mattoso, esta é a primeira vez que os polímeros condutores são utilizados neste tipo de aplicação, cuja boa sensibilidade oferecida pelos filmes ultrafinos depositados nas unidades sensoriais aumenta de maneira significativa o potencial de aplicação do invento. O projeto da língua eletrônica foi lançado em dezembro de 2001 e seu protótipo será testado por empresas do ramo. Além do emprego evidente nas indústrias de bebidas e alimentos, a língua eletrônica servirá também às indústrias farmacêuticas no teste de sabor de remédios, ou na detecção de impurezas e aditivos no monitoramento da qualidade da água.

Hoje, os testes para avaliação do paladar de bebidas são feitos por degustadores, enquanto que a avaliação de água é feita por análise química em laboratório e são bastante demorados. Com a Língua Eletrônica é possível fazer testes contínuos na linha de produção em tempo real e em segundos. O equipamento é uma ferramenta para auxiliar o degustador, permitindo medidas contínuas e de maior precisão. A Língua Eletrônica é formada por um conjunto específico de plásticos que conduzem eletricidade e que são sensíveis às substâncias responsáveis pelos diferentes tipos de paladar. Este sistema está sendo automatizado em parceria com o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação e o Instituto de Física da USP de São Carlos, utilizando inteligência artificial (redes neurais), o que vai permitir a qualquer usuário, com conhecimento básico em computação, operar a Língua Eletrônica.

 

 

Fonte: http://www.uol.com.br/cienciahoje/chdia/n515.htm

Acesso em fevereiro de 2002

http://www.plastivida.org.br/bibliote/jornal/072-73/pag05/pg05.htm

Acesso em janeiro de 2003

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/010110020829.html

Acesso em março de 2003

http://www.cnpdia.embrapa.br/menuleft_desenv_publicacoes_series_documentos/RelGestPQGF2002.pdf

http://www21.sede.embrapa.br/noticias/artigos/folder.2005-02-02.1550581232/artigo.2005-07-13.9733795235/mostra_artigo

Acesso em julho de 2005

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