Economizar energia tem sido um dos maiores deveres dos brasileiros. Ao sair de uma sala, apagar as luzes já se tornou um gesto instintivo. Entretanto, as prefeituras não podem deixar as lâmpadas de ruas e avenidas apagadas para não comprometer a Segurança Pública. É justamente desta necessidade que surgiu o projeto Luz Espelhada, genuinamente desenvolvido no Acre para o Brasil. Quem sabe até ao mundo. A ideia já recebeu aprovação em âmbito local, estadual e até nacional, deixando cidades ansiosas pela sua economia e alavancando a criação de uma empresa: a Callil & Valle Ltda
Mas no que a tal Luz Espelhada pode ajudar a reduzir o consumo da Iluminação Pública? Em muita coisa. A proposta consiste em evitar o aumento de energia para se conseguir uma intensidade de luz maior. O princípio adotado é o de que não é preciso produzir mais calor e sim aumentar a luz. Em outras palavras, seria a mesma qualidade de luz, com menores quantidades de energia. Por exemplo, enquanto uma lâmpada de vapor de sódio (mais comum) consome 250 watts, a da Callil & Valle gastaria apenas 85w (isso mesmo, 165w a menos) para conseguir o mesmo grau de intensidade de luz.
Com base nisso, dá vontade de comprar a luz e colocá-la em casa agora mesmo. De acordo com Hélio Campelo, diretor comercial da firma, no atual estágio, o projeto é voltado apenas à Iluminação Pública. Se depender da vontade dos criadores e dos avanços adquiridos, em breve ela poderá ser adaptada ao ambiente interno.
E as expectativas de crescimento do projeto não se limitam ao campo de atuação ou ao segmento. Daqui a 30 dias, os empresários têm planos para concluir um fábrica em Rio Branco. Ela será instalada na Boulevard Augusto Monteiro, em um galpão que já está quase acabado, só faltam alguns acertos na parte elétrica. A estimava inicial de produção não é tão modesta à realidade acreana: serão 150 peças/dia. Caso o projeto tome as dimensões esperadas, a meta terá de ser repensada. Somado a um provável modelo de linha interna, então, sabe-se lá até aonde a Callil & Valle poderá chegar.
Tão brilhante quanto a Luz Espelhada só a praticidade que ela incita no seu funcionamento. De forma simples, trata-se de uma luminária feita em aço, revestida internamente com um jogo de espelhos comuns. É colocada uma lâmpada fluorescente normal dentro da luminária, sem o reator de praxe em lâmpadas de postes públicos convencionais, caracterizando-o como um processo frio. Os espelhos refletem a luz, multiplicando a sua intensidade, mas sem alterar em nada a quantidade de energia gasta.
“O processo em si não é o ponto revolucionário. A ideia da invenção sim. Na verdade, o que queríamos é luz e não calor. Desta forma, conseguimos poupar em mais de 80% do total de energia que é gasto pelas lâmpadas convencionais de Iluminação Pública. A manutenção também é mais barata, já que a lâmpada usada é fria, quando queima é só subir no poste e trocá-la por uma nova, igual a como se faz em casa. Outra economia é em relação ao reator, já que ele custa mais do que a própria lâmpada em si, e é um item que a nossa luminária dispensa”, destacou Hélio.
A última vantagem é que não ter um reator faz com que a lâmpada fluorescente tenha riscos menores de danificações ao entrar em contato com a água. O calor gerado pela peça aumenta a chance de danos com a umidade, por exemplo, de uma chuva. Conforme os dados da Avaliação de Iluminação, feita neste mês pela empresa Projetos, Engenharia e Consultorias (PEC), se uma luminária de vapor de sódio de 160w fosse utilizada por um poste de iluminação por 12 horas diárias, durante 30 dias, ela consumiria 57.600 watts de energia. Se a mesma situação fosse aplicada à de vapor de mercúrio, mas utilizando os 250w necessários para atingir a mesma luminosidade, o consumo final seria de 90.000w. Já a lâmpada fluorescente compacta espelhada consumiria (com os 85w) 30.600w. A conclusão do relatório aponta que a última teria 88,2% de economia sobre a de sódio e 294,1% em cima da de mercúrio. Uma prova de como vale a pena investir numa boa ideia.
Segundo Hélio Campelo, o projeto foi idealizado por Alceste Arlindo de Castro, durante a leitura de um artigo de revista com um modelo semelhante de poupar energia. O empresário insistiu no princípio “mais luz, menos calor” e em 2006 fez uma parceria com a Funtac (Fundação de Energia do Acre) para inscrever o projeto no prêmio nacional Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). O resultado não poderia ser outro. A Luz Espelhada ficou em 3º lugar a nível nacional e em 2º da região Norte.
A partir daí, Arlindo Castro começou a desenvolver o protótipo e fazer todos os tipos de testes, no pátio da Funtac e do Deracre.
Só na Feira de Exposições, Hélio contou que a prefeitura de Porto Acre comprou 1.500 luminárias (capital emprestado pelo governo). Para não restar dúvidas do sucesso, a Ufac também já estaria interessada em uma proposta de compra, para substituir a iluminação interna do campus. “Além disso, temos recebido contatos de prefeituras de fora do Estado. Campinas, por exemplo, já nos procurou para se informar melhor sobre o projeto”, acrescentou.
No ritmo que vem seguindo, a Luz Espelhada chamou muita atenção, inclusive do representante da Eletrobrás no Consórcio Madeira Mamoré, Sibá Machado. Hélio Campelo comentou o papel essencial do ex-senador no processo de estímulo e divulgação. “Ele tem feito muitos contatos com a Eletrobrás, Eletronorte e Ministério de Luz e Energia. Agora, estamos marcando uma audiência com os ministros em Brasília, DF, para apresentar o trabalho”, declarou. A audiência provavelmente será marcada neste ou na próxima semana e a Callil & Valle já está quase totalmente preparada para mostrar a todo o Brasil o poder luminoso de uma grande ideia acreana, com direito a todos os componentes exigidos. Inclusive, a valorização de um ponto indissociável da Amazônia: o critério sócio ambiental, com menores gastos de energia e aquecimento criado por reatores.
Fonte:
Luz Espelhada: um projeto do Acre para todo o Brasil, A Gazeta (AC), 17-08-2009
http://www.agazeta-acre.com.br/Web/Noticias.do?ID_Not=21205
acesso em agosto de 2009