Expedito Parente relata como inventou a máquina de leite de soja: “Naquela época, o Nordeste enfrentava um período de seca que já durava cinco anos, com o povo morrendo de fome no interior”. Então mudei o foco: por que, em vez de pensar em combustível para máquina, eu não vou pensar num combustível para gente, que é o alimento? Aí eu passei a me interessar pelo leite de soja. Um fato que me inspirou foi que nessa época eu adotei uma menina. Eu só tinha filho homem, então adotei uma menina, a Lívia, que tinha um ano e meio. Ela tinha sido abandonada pelos pais na época da seca e estava morrendo de fome. E foi por causa dela que eu me voltei para o problema. E eu comecei a pensar na solução. Eu desenvolvi uma máquina para fazer leite de soja que eu chamei de vaca mecânica. Já existia uma na Universidade de Campinas (SP). Nós apresentamos um modelo aperfeiçoado, que fazia não só leite de soja, mas sopas e sucos de qualquer matéria-prima alimentícia. Eu fiz essa máquina e nós viajamos pelo interior. Eu tirei férias e fomos até os Inhamuns, que era a capital da fome. A gente saiu levando a máquina a reboque no carro. Não era muito grande, media 2,2m por 0,8m. E se chamava Amélia, “a mulher de verdade”, que alimentava gente. Usávamos um quilo de soja para fazer oito litros de leite. Dava pra fazer leite para 1.500 pessoas num dia. Nós fomos até Picos, no Piauí. O problema é que, quando nós chegamos lá, estava todo mundo esperando, o prefeito tinha anunciado. Tinha 30 mil pessoas para ver a máquina. E só tinha leite pra 3 mil pessoas. Aí invadiram o recinto, quebraram a máquina e a gente acabou virando assunto de uma reportagem do Gervásio de Paulo, com o titulo “Amélia nos Pais da Fome”. Franco Montoro, que era governador de São Paulo, na época, me convidou para implantar o projeto, para a merenda escolar. Eu transferi a tecnologia para uma metalúrgica, a Ceil, do Ceará, que passou a produzir esse equipamento. Eles faziam 30 equipamentos por mês. Aí o projeto se espalhou pelo Brasil. Nós produzimos cerca de 700 máquinas. E exportamos umas 50. Só em São Paulo, segundo nosso controle, chegaram a tomar leite de soja cotidianamente 3 milhões de crianças. Eu posso dizer que nós introduzimos o leite de soja no hábito alimentar brasileiro. Depois eu fui para o Piauí, a convite do governador Alberto Silva. Lá, nós montamos uma fábrica de alimentos que fazia cerca de 700 mil merendas escolares por dia. A gente fazia oito tipos de produtos que compunham a merenda: macarrão, sopas desidratadas. Foi uma grande experiência, que infelizmente acabou quando terminou o governo do Alberto Silva … Esse foi o grande problema da vaca mecânica. E é o que sempre acontece. Os governos que se sucedem abortam os projetos do governo anterior. “É um grave erro da administração brasileira, e você pode denunciar isso.”
Fonte:
http://www.radiobras.gov.br/materia_i_2004.php?Materia=240553&editoria
Acesso em setembro de 2007