Medicamento à Base de Isoflavona Aglicona

Os obstáculos são vastos mas não impedem projetos bem-sucedidos em universidades. Em menos de um ano, a Agência de Inovação da Unicamp (Inova) estruturou todo o departamento e iniciou o processo de licenciamento das patentes da universidade. Desde janeiro, foram fechados quatro contratos, e outros cinco estão na fase final de negociação. A Unicamp tem 300 pesquisas patenteadas. Um dos contratos iniciais foi firmado com a Steviafarma, empresa especializada em produtos fitoterápicos. O laboratório utilizará um método desenvolvido na universidade para extrair isoflavona da soja. O estudo foi feito pelo pesquisador Yong Kun Park, do Laboratório de Bioquímica de Alimentos, na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.

De acordo com o presidente da Steviafarma, Fernando Meneguetti, o objetivo é fabricar um medicamento natural para substituir a terapia de reposição hormonal com estrogênio. “Pagamos R$ 14 mil para explorar a patente. O contrato firmado é exclusivo por 15 anos e pagaremos ainda 6% da receita líquida da venda do produto a título de royalties. Criamos uma usina-piloto para desenvolver o medicamento, com investimento de R$ 100 mil. A previsão de lançamento do produto é em janeiro de 2005”, diz.De acordo com a legislação, o titular da patente é a universidade, e o pesquisador figura apenas como autor da pesquisa. Os recursos obtidos com os contratos, porém, beneficiam tanto a universidade quanto o pesquisador. Segundo a diretora de propriedade intelectual da Inova/Unicamp, Rosana Di Giorgio, um terço dos royalties é destinado ao pesquisador ou ao grupo responsável pela tecnologia patenteada. O restante do dinheiro é investido em melhorias na infra-estrutura da universidade.

A isoflavona aglicona, com grande concentração na soja, exerce, no organismo, uma atividade biológica importante. Tem propriedade anticancerígena, de mama e próstata, é antioxidante quando neutraliza as ações dos radicais livres e reduz níveis de colesterol ruim que se acumulam em artérias. Mas o plano de negócios da Steviafarma prevê o encaixe deste produto em outro mercado, o de reposição hormonal como substituto do estrógeno, hormônio feminino usado por mulheres durante o período da menopausa. A estratégia comercial para o uso da isoflavona aglicona como base para tratamentos de reposição hormonal em mulheres estará assentada na condição de medicamento fitoterápico. Há controvérsias hoje em relação aos efeitos da reposição hormonal com hormônios sintéticos. Há suspeitas que estes embutem o risco de desenvolvimento de cânceres. 

O contrato de licenciamento prevê que 6% da receita líquida da venda do produto seja revertida para a academia. O valor, ainda desconhecido, será dividido em três partes iguais, entre o pesquisador Yong Kun Park, a Faculdade de Engenharia de Alimentos e a Unicamp. O produto, como qualquer outro medicamento, terá que ter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) antes de ser comercializado. O consumo de soja como reserva de isoflavona tem se tornado corrente no Brasil, principalmente entre mulheres a partir da meia idade. A soja tem alta concentração de proteínas e é um produto até recomendado. A questão está no fato de que os benefícios terapêuticos da isoflavona são diminutos quando ocorre a ingestão da soja. Este é o principal benefício do processo industrial desenvolvido na Unicamp para a extração da isoflavona da soja. A Steviafarma poderá após a extração comercializar a substância concen-trada em cápsulas, o que potencializa os efeitos no organismo. A patente assegura domínio brasileiro do processo industrial. O grão é esmagado. O óleo é retirado e a farinha recebe um solvente para a retirada da isoflavona. A mistura é destilada. A isoflavona passa então por uma conversão, de glicosiladas para agliconas no processo de fermentação. 

O pedido de patente PI0004237 refere-se a “PROCESSO DE EXTRAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DE ISOFLAVONAS GLICOSILADAS DE SOJA EM ISOFLAVONAS AGLICONAS”.utilizado para propiciar a extração de isoflavonas glicosiladas com etanol e sua transformação, com enzima microbiana, em isoflavonas agliconas. O processo consiste das seguintes etapas: extração das isoflavonas glicosiladas, com etanol 60%, a partir de farinha de soja desengordurada na indústria; obtenção da enzima <225>-glicosidase de Aspergillus oryzae por fermentação semi-sólida e tratamento do extrato etanólico com a enzima fúngica. O pedido PI0502309 refere-se a “PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE ISOFLAVONAS AGLICONAS A PARTIR DE SUB-PRODUTOS E RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DE PROTEÍNAS CONCENTRADAS E ISOLADAS DE SOJA E MICROORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS”. A presente invenção se trata de um processo de recuperação de isoflavonas conjugadas de resíduos e sub-produtos de indústrias alimentícias baseadas na utilização de soja e seus derivados. Trata-se também das isoflavonas assim obtidas, de composições alimentícias contendo as isoflavonas e do fungo modificado geneticamente utilizado neste processo, o Aspergillus oryzae ATCC 22786 (RIB 430). Mais especificamente, a presente invenção trata-se de um processo de conversão das isoflavonas conjugadas, na forma de malonatos e acetatos de isoflavona, em isoflavonas glicosiladas, que por processos fermentativos e enzimáticos são transformadas em isoflavonas agliconas. Os produtos obtidos deste processo, passam a apresentar uma promissora aplicação terapêutica conforme descrito anteriormente bem como alimentícia, podendo ser utilizado como alimento funcional ou ingrediente funcional. 

Apesar disso, o uso das isoflavonas na reposição hormonal ainda gera controvérsias. “Pela semelhança com o estrogênio natural, a isoflavona da soja pode diminuir a intensidade e a freqüência dos sintomas climatéricos em aproximadamente 50% a 60% das mulheres na menopausa”, afirma Eliana Aguiar Petri Nahás, do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu. Vicente Renato Bagnoli, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de São Paulo (USP), faz ressalvas. “Até o momento, não existem estudos conclusivos sobre o tema. Os mais bem realizados sugerem efeito semelhante ao placebo, isto é, pouco alívio dos sintomas”, avalia. “A maioria das observações sobre o uso da isoflavona da soja para o alívio das ondas de calor – diz Nahás – é baseada em estudos realizados em regiões de alto consumo de soja, como o Japão e a China, onde a utilização da isoflavona é muito antiga”. Segundo ela, menos de 25% das mulheres japonesas e 18% das chinesas apresentam ondas de calor, porcentagem que chega a 85% das americanas e 70%-80% das européias. “Atribui-se estas diferenças, em parte, à dieta”, explica. Ela completa informando que a população asiática ingere de 40 a 50 mg de isoflavona de soja ao dia, enquanto que a média de consumo nos Estados Unidos não passa de 3 mg ao dia.

Fonte: 
JORNAL DO COMMERCIO DATA: 08 & 09/08/04 ON-LINE País dá passos tímidos na transferência tecnológica, Flávia Arbache 
Unicamp inova ao criar remédio para menopausa Volta, Correio Braziliense, Paloma Oliveto, 12/09/2007
http://www.seagri.ba.gov.br/noticias.asp?prt=true&qact=view&exibir=clipping¬id=2076 
http://www.inovacao.unicamp.br/report/news-aglicon-soy.shtml 
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=1566&bd=1&pg=1&lg= 
acesso em agosto de 2007 
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=36140 
acesso em setembro de 2007 
http://www.inovacao.unicamp.br/report/news-isoflavona.shtml 
http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/BDNUH/NUH_8874/NUH_8874.html
http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/junho2004/ju254pag11a.html 
acesso em outubro de 2007 
Medicamento controverso para reposição hormonal chega ao mercado volta Mídia eletrônica: Com Ciência http://www.comciencia.br Por Marina Mezzacappa 12/11/2007 

 

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