A clonagem de árvores teve o poder de revolucionar a produção de papel e celulose no Brasil. O plantio tradicional, através de sementes, culmina em florestas irregulares. Por outro lado, ao se produzir clones das melhores árvores, mais qualidade e produtividade em várias frentes. Por terem o mesmo diâmetro e a mesma altura, sua colheita mecanizada é mais rápida e mais econômica. Pelos mesmos motivos, ela pode ser considerada uma matéria-prima uniforme. Assim, todos os detalhes da fábrica podem ser programados com mais facilidade. O ganho também é maior porque as árvores mãe escolhidas têm as propriedades mais adequadas a determinado tipo de papel. A tecnologia da clonagem vem sendo desenvolvida no Brasil desde 1973, inicialmente pelo Departamento de Ciências Florestais da ESALQ/USP e Instituto de Pesquisa e de Estudos Florestais (IPEF), de Piracicaba, SP. Foi implementada em escala industrial pela Araracruz Celulose.
Em 1996 um grupo de pesquisadores do IPEF/ESALQ-USP iniciaram estudos com mudas originárias da macropropagação, a mesma técnica da microestaquia, porém em recipientes maiores e ambientes protegidos, utilizando sistema hidropônico fechado. Vários sistemas hidropônicos foram testados: floating, calha de fibra de vidro com substrato tipo resina fenólica, piscina de fibra de vidro ou tubos de PVC com substrato do tipo areia grossa ou resina fenólica. Este sistema foi denominado de minijardim clonal.
Calcula-se que hoje cerca de 80% dos plantios florestais são feitos por clonagem. Numa evolução das técnicas de clonagem, o próprio IPEF desenvolveu o minijardim clonal para produção de mudas de eucalipto. Nele, a produção de mudas é feita em uma área muito menor que a convencional. As mudas têm melhor qualidade e necessitam de menos insumos e produtos químicos. Com a nova técnica, ganhou-se tempo e dinheiro. A Lwarcel Celulose e Papel adotou o minijardim clonal em 1998. Com ele, a clonagem passou a representar 20% de sua produção de mudas de eucalipto. Foram produzidas três milhões de mudas. Constantino Barros Lordelo Neto, da Lwarcel, diz que no minijardim o aproveitamento é de 80% das mudas, contra 65% do outro sistema. Isso fora outros custos, como área infinitamente menor, menos mão-de-obra e redução do ciclo de produção.
Para se imaginar as diferenças entre as técnicas, basta começar imaginando as áreas necessárias para cada uma delas. No tradicional, o espaço entre os brotos varia de 40 por 40 centímetros até 1 metro por 1 metro. No mini a plantação é em 10 x 10 centímetros e assim maior produção por metro quadrado. Em média, para uma produção equivalente, o minijardim pode ter uma área 20 vezes menor que a tradicional. Por serem cobertos por plásticos, os viveiros de mudas podem até ser climatizados. Um outro aspecto que otimiza a produção é o cultivo pelo sistema hidropônico. As plantas são submetidas a uma solução nutritiva. O sistema é semelhante ao utilizado para cultivar hortaliças. O sistema possibilita também melhor controle nutricional e fitossanitário das touças. “Existe facilidade em determinar as exigências específicas, tanto nutricionais quanto de manejo dos materiais genéticos”, diz o pesquisador Edson Namita Higashi, um dos coordenadores do projeto. O desafio dos pesquisadores do IEPF foi justamente acertar todos os parâmetros. Tiveram de descobrir desde os espaçamentos mais adequados até qual era a melhor formulação para a substância nutritiva. O juste fino para o mehlor ganho demorou cerca de um ano para ser considerado concluído. O uso em empresas começou em setembro de 1997.
As grandes empresas que estão optando pelo sistema ficam mais perto das certificações ambientais. Elas são muito importantes para o setor de celulose e papel. Trata-se de um setor exportador. A atividade pode causar alto impacto ambiental. Os países importadores costumam impor barreiras não tarifárias, como as certificações emitidas por entidades internacionais acreditadas. A mais famosa delas é a ISO 14000. Boa parte dessas exigências deve-se à competitividade do produto brasileiro no exterior.
Fonte:
http://www.ipef.br/
http://www.ipef.br/publicacoes/ctecnica/nr194.pdf
acesso em julho de 2002
Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 54