O trabalho da bióloga Margareth Caturro, do Departamento de Microimunologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) partiu da ideia de que uma das formas para combater a malária é atacar o vetor, no caso o Anopheles, inseto transmissor da doença. Mas a pesquisadora não quer acabar com o mosquito. Ela pretende alterar o código genético do inseto, acrescentando ao seu genoma um gene, criado por ela em laboratório, com “pedaços” de genes de mosquitos, de camundongos e de um vírus.
O primeiro passo foi contaminar o roedor com o parasita Plasmodium gallinaceum, que causa a malária em galinhas, semelhante à humana. “Com isso, o sistema imunológico do camundongo produz anticorpos para combater a doença”, explica Margareth. “Em seguida, peguei a parte do anticorpo que reconhece o parasita, clonei-a e a usei como um dos componentes para montar o gene híbrido. As outras partes do gene são um vírus e pedaços de gene do próprio mosquito.”
No segundo passo, ela pegou o gene sintético e acrescentou ao genoma do mosquito, criando um inseto transgênico. “O vírus com o gene fabricado produziu anticorpos que impediram o plasmódio de penetrar nas glândulas salivares do mosquito”, conta a pesquisadora. “Consegui reduzir em 99,9% a quantidade do protozoário na saliva, meio pelo qual o inseto transmite a malária.”
O objetivo final da pesquisa é criar linhagens desses mosquitos transgênicos e soltá-los no meio ambiente. Com o tempo eles se misturariam aos mosquitos comuns e transmitiriam os genes antimalária aos seus descendentes. A pesquisadora desenvolveu o estudo como trabalho de pós-doutorado em Irvine, na Califórnia (EUA), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a colaboração da Fundação Oswaldo Cruz, da Universidade do Estado do Colorado (EUA) e da Universidade da Califórnia. “As próximas etapas do trabalho são produzir os mosquitos transgênicos e realizar testes que confirmem o bloqueio da transmissão da malária”, diz Margareth.
Fonte: http://www.estado.estadao.com.br/editorias/2001/06/11/ger683.html
acesso em fevereiro de 2002