O Laboratório Hebron, de Caruaru, Pernambuco, encaminhou em janeiro de 1999 ao ministério da Saúde pedido de registro para comercialização do Nofertil, primeira pílula anticoncepcional masculina não hormonal do mundo, lançada no Congresso Mundial de Contracepção realizado em Salvador, na Bahia. O medicamento é feito a partir do gossipol, uma substância natural extraída da semente do algodão, que desativa a enzima responsável pelo amadurecimento dos espermatozóides. Os efeitos contraceptivos do gossipol foram descobertos pelo professor Elsimar Coutinho, do Centro de Reprodução Humana da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFB).
Diferente da pílula feminina, a masculina não contém hormônios e quase não apresenta efeitos colaterais. É feita de uma substância extraída da semente do algodão chamada gossipol. O produto foi descoberto na China, há 20 anos, quando pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) começaram a estudar uma população que apresentava baixos índices de fertilidade e cujos hábitos incluíam a ingestão de grande quantidade de pasta da semente de algodão. A pesquisa acabou sendo conduzida apenas pelo pesquisador baiano Elsimar Coutinho. Ele descobriu que o gossipol desativa a enzima responsável pelo amadurecimento do espermatozóide. “Por isso ele não se desenvolve”, explica Josimar Henrique da Silva, presidente do Laboratório Hebron, em Caruaru, responsável pela fabricação da Nofertil. Ele ressalta, no entanto, que a pílula não é recomendável para homens que não tenham filhos porque ela agrava casos em que há tendência à infertilidade. Se aprovada pelo Ministério da Saúde, a pílula do homem representará um avanço inédito na contracepção.
O contraceptivo masculino Nofertil, que é produzido e testado pelo laboratório Hebron, em Caruaru, foi utilizado em 1998 em pacientes portadores de câncer no Hospital de Nova York, nos Estados Unidos. O laboratório vai enviar para os pesquisadores norte-americanos uma remessa de 15 mil comprimidos do produto, feito a partir da substância gossipol, extraída da semente do algodão. O interesse em utilizar o gossipol em pacientes com câncer foi despertado pelo estudo, realizado por uma equipe do Instituto Nacional da Saúde da Criança e Desenvolvimento Humano, em Maryland. Há quatro anos, os cientistas deste instituto aplicaram o gossipol em pacientes com câncer nas glândulas supra-renais em fase de metástase, obtendo uma regressão de até 50% no volume do tumor canceroso. Ao tomar conhecimento que o Hebron havia purificado e estabilizado a substância, os cientistas de Nova York resolveram reiniciar a pesquisa. O uso do gossipol como contraceptivo masculino começou a ser pesquisado há 15 anos pelo professor Elsimar Coutinho, da Universidade Federal da Bahia. A substância desativa uma enzima responsável pelo amadurecimento do espermatozóide. O Nofertil já foi testado em cerca de mil homens, que, segundo Coutinho, após um mês de tratamento, tornaram-se inférteis.
Segundo o pesquisador baiano que desenvolveu a droga, Elsimar Coutinho, o Nofertil também poderá ajudar no tratamento da AIDS. Coutinho inicia, este mês, na Bahia, uma pesquisa com pacientes infectados pelo HIV, onde testará o potencial antivirótico do gossipol. “Ainda é muito cedo para falar sobre a pesquisa. A droga inibe a reprodução celular, portanto reduz a produção de espermatozóides e a reprodução de diversos vírus. Os riscos de transmissão da doença podem diminuir com sua ação, e a resistência do paciente aumentar”, explicou. O Hebron – única indústria farmacêutica do país que utiliza apenas matérias primas nacionais – também está estudando, em parceira com cientistas da universidade do Porto (Portugal), a fabricação do Nofertil na forma transdérmica (adesivos, onde a droga é absorvida pela pele). O professor Rui Morgado, presidente da Comissão da Farmacopéia Portuguesa e membro da Comissão Permanente da Farmacopéia Européia, coordena as pesquisas em Portugal. O início da comercialização dos comprimidos de Nofertil no Brasil aguarda apenas a liberação do ministério da Saúde. A procura para comercializar a droga no exterior é intensa, mas Pianowiski garante que o laboratório só entra no mercado internacional após iniciar a venda do Nofertil no país.
Enquanto aguarda a liberação do ministério da Saúde para comercializar o Nofertil, o laboratório Hebron recebe propostas de empresas farmacêuticas e revendedores de remédios de todo mundo. Mais de 25 países das Américas, Europa, Ásia e Oceania já entraram em contato com a empresa. Duas assessorias internacionais foram criadas para administrar os pedidos. “A maior procura são laboratórios que querem representar o Nofertil para os países asiáticos. Mas queremos primeiro nos firmar no mercado local. Enquanto isso, estudamos com calma as propostas que chegam”, comentou a assessora de comércio exterior do Hebron, Wedja Henrique. O anticoncepcional masculino é o grande chamariz da empresa caruaruense. Mas os outros 25 medicamentos produzidos pelo laboratório também estão despertando o interesse das empresas internacionais. “Produtos naturais são a base de todos os medicamentos”, garantiu o diretor industrial Luiz Francisco Pianowiski. Drogas como o Florax, Giamebil e Fitoderme são as mais requisitadas. Ainda no primeiro semestre, representantes da empresa visitam o Food and Drogs Administration (FDA – departamento que controla a comercialização de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos) para entrar no mercado americano.
Através da parceria com a Universidade do Porto, o mercado europeu também está na mira do Hebron. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil registra baixos índices de uso de métodos masculinos de contracepção. Em documento sobre a prevenção à gravidez indesejada, a entidade mostra que em países com a Etiópia e o Irã, o uso de camisinhas é mais comum. Preservativos e vasectomia representam menos de 4% do uso total de contraceptivos no país. No mesmo documento, pode ser observado que as brasileiras têm mais trabalho em prevenir uma gravidez indesejada. Métodos contraceptivos como pílulas, dispositivo intra-uterino (DIU) e injeções de hormônio são usadas por 57% das mulheres do país. A pílula contraceptiva masculina pode modificar os costumes da população. O preço médiode cada frasco com quarenta comprimidos deve ficar em torno de R$ 10.
Fonte: http://www.radiobras.gov.br/ct/1999/materia_311299_1.htm
http://www2.uol.com.br/JC/_1998/1903/cm1903d.htm
http://www.zaz.com.br/istoe/comport/152119a.htm
http://www.dpnet.com.br/anteriores/1998/03/29/urbana8_0.html
http://www.dpnet.com.br/anteriores/1998/03/29/urbana8_1.html
acesso em abril de 2003
http://www.hebron.com.br
acesso em setembro de 2004