Olimpo

Com toda a possibilidade de informação que a internet permite, fica difícil pensar em uma pesquisa eletrônica sem a ajuda de um site de busca, como vários existentes na rede (google, cadê, yahoo). Agregando maior precisão e flexibilidade a esses aplicativos o Instituto Jurídico de Inteligência e Sistemas (Ijuris), composto por uma equipe do curso de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desenvolveu um mecanismo de recuperação de informações, o Olimpo, dedicado a selecionar informações do banco de dados do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Um dos diferenciais do Olimpo em relação aos outros aplicativos, explica Hugo César Hoeschl, um dos responsáveis pelo projeto, está na capacidade de caracteres aceitos para a pesquisa. Nos sites de busca tradicionais a pesquisa está limitada a 255 caracteres. Com o Olimpo é possível procurar por um bloco de texto de até 15 mil caracteres ou cerca de 2,5 mil palavras. “O resultado da busca é muito mais preciso, pois os documentos retornados são os que mais se aproximam do texto completo”, analisa Hoeschl.

 

Mas a grande diferença do Olimpo, salienta o pesquisador, está na estrutura do software baseada em preceitos da inteligência artificial. Com essas ferramentas – pesquisa contextual estruturada, recuperação textual e raciocínio baseado em casos do banco de dados – o Olimpo interpreta a busca considerando palavras, conceitos e a relação entre os mesmos. Num site de busca convencional, se usamos como palavra-chave o termo carro, ele só trará como resultado textos que contenham essa palavra. O Olimpo, ao estabelecer relação de conceito, também considerará textos com termos como veículo ou automóvel.

“Trata-se de um sistema baseado em conhecimento, que faz uma procura inteligente de documentos, comparando-os entre si e retornando ao usuário uma lista hierárquica por graus de semelhança”, define Hoeschl. Desenvolvido sobre plataforma Delphi e Smalltalk, o Olimpo utiliza ainda outros padrões tecnológicos como Java para otimizar seus resultados. O aplicativo foi eleito por dois anos, 1999 e 2001, um dos 20 melhores trabalhos científicos em Inteligência Artificial e Direito pela Conferência Internacional de Inteligência Artificial e Direito (Ical em inglês). A justificativa pelo prêmio exalta “a grande eficácia em fazer busca de documentos em grandes bases de dados, com alto grau de precisão”.

Segundo Hoeschl, a escolha pela ONU se deve ao caráter mediador e pacificador do organismo. “Queríamos também uma entidade em que o Olimpo tivesse maior utilidade, relevância e legitimidade”, justifica ele. O Conselho de Segurança da ONU já disponibiliza para consulta on-line suas resoluções, mas a consulta, informa Hoeschl, tem que ser feita pelos sites de busca disponíveis, o que a torna “lenta e limitada”, acrescenta. Com o Olimpo, garante, as decisões ficam mais rápidas e acessíveis. A equipe do Ijuris está em contato com o Governo Federal para que o software seja doado a ONU com a chancela governamental. O desenvolvimento de um software não constava do projeto inicial do grupo, que em 1995 iniciou fazendo pesquisa pura sobre leitura e interpretação eletrônica de textos. Em 1997, o avanço das pesquisas levou à criação de um protótipo do aplicativo, que devido à boa receptividade foi aprimorado, dando origem ao Olimpo. A empresa Webis, segmento comercial do Ijuris, possui outros softwares construídos com a mesma tecnologia do Olimpo, o AlphaThemis, que utiliza como banco de dados as súmulas dos tribunais superiores, e o I02 que realiza buscas baseadas em listas telefônicas.

Ao contrário da indústria do futebol, para onde são canalizados grandes investimentos e a divulgação é ampla, a tecnologia brasileira não costuma ter a atenção e os patrocínios necessários. É por essa dificuldade que o Olimpo representa um gol de placa fora das quatro linhas, com direito a drible habilidoso em velhos craques da área tecnológica. “Vamos aproveitar o momento para colocar a bandeira verde- amarela no topo”, comemora o mestrando da UFSC Eduardo Mattos, também membro do grupo catarinense. Na última conferência internacional realizada em Saint Louis (EUA), o Olimpo era o único aplicativo que funcionava na base da experimentação. “Não era um trabalho teórico, mas um projeto de implantação real, prático”, lembra Mattos, orgulhoso por ter projetado o país na vitrine internacional da C&T (ciência e tecnologia). Além do mérito de automatizar o “campo de batalha virtual”, possibilitando o acesso irrestrito às resoluções da ONU, o sucesso do sistema prova que o Brasil tem tecnologia de ponta para concorrer lado a lado com o produto externo.

“Ninguém acredita que o Olimpo tenha sido feito aqui!”, revela a mestranda da UFSC Tânia Cristina, que junto ao professor Hugo César Hoeschl costuma representar o Ijuris em conferências. No último evento, realizado em Saint Louis (EUA), a dupla foi assediada por uma autoridade norte-americana encantada pelo poder do aplicativo. De olho nas possibilidades, o senador propôs dar todo o suporte para futuras pesquisas. Porém, ele não sabia que o núcleo de estudos do Olimpo se situava em Florianópolis. Levou um susto! “Só lembrou da cidade quando falamos do tenista Gustavo Kuerten, o Guga. Diante da distância, o político nos convidou a trabalhar no exterior”, lembra Hoeschl. O fato, apesar de engraçado, descreve a distância cultural entre Brasil e Estados Unidos quando o assunto é ciência e tecnologia. Segundo Tânia, grande parte dos custos das conferências, acabam sendo pagos pelos pesquisadores, sem qualquer tipo de subsídio. “Economizamos meses para não perder a viagem. Essa é a situação de todo o pesquisador brasileiro”, desabafa Tânia. O sacrifício vale a pena porque são nessas vitrines que o produto nacional é reconhecido. “Quando você inscreve trabalhos, a presença é fundamental. Se os representantes não aparecem, perde-se a credibilidade”, explica a pesquisadora.

 

Fonte: http://virtualbooks.terra.com.br/ciencias/PesquisadoresdaUFSC.htm

http://www.posmec.ufsc.br/divulgacao_noticias.php?idnew=6

http://www.mic.ufsc.br/index.php?url=int_olimpo.htm

acesso em março de 2003

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