Alexander Graham Bell inventou o telefone em 1876, mas coube a seu assistente Thomas Watson – famoso por ter recebido o primeiro telefonema – a invenção da cabine telefônica. Os primeiros TPs (telefones públicos), na área da CTB, foram instalados na cidade de Santos (São Paulo) a partir de março de 1934, com utilização de moedas de 400 réis. Em 1935, a antiga CTB instalou o primeiro posto público do Rio de Janeiro, na antiga Galeria Cruzeiro, hoje Edifício Avenida Central. Em 1945, devido à escassez dessas moedas a Companhia modificou o dispositivo interno dos aparelhos que começaram a funcionar com duas moedas de 20 centavos.
Mais tarde foram instalados telefones públicos em bares, farmácias e mercearias. Visando facilitar o uso, devido as trocas de moedas, algumas companhias introduziram as fichas. No entanto essas fichas eram exclusividade de cada companhia de cada localidade. Em 1964 foi introduzido o sistema padronizado na área CTB e , em 1970, foi implantado já pela Telebrás, o sistema em todas as companhias do Brasil. Novos postos públicos foram inaugurados no Aeroporto Santos Dumont (1959), Copacabana e Ipanema. No Galeão e Madureira (1963) e na rodoviária (1966). Em 1971, a CTB lançou um plano-piloto, instalando em diferentes pontos da cidade 25 cabines cilíndricas. Elas tiveram curta duração, devido à fragilidade do material empregado e de pouca aceitação do público.
Até meados de setembro de 1971, no Brasil, não eram usados TPs nas calçadas, apenas em interiores. Nesta época, na cidade de São Paulo, foram realizados experiências com cabines circulares de fibra de vidro e acrílico. O resultado foi desastroso devido ao uso inadequado e as ações de vândalos. Para substituição a CTB- São Paulo, desenvolveu um projeto também em fibra de vidro que, apelidado carinhosamente pela população de orelhão, passou a ser utilizado em grande escala, ganhando as ruas do Brasil. Em 20 e 25 de janeiro de 1972, quando as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo respectivamente comemoravam sua fundação, a empresa lançou um novo tipo de cabine em fibra de vidro, formato de concha e cor laranja, logo apelidados de orelhão, como até hoje são conhecidos. Tiveram excelente aceitação por parte do público e esse número vem sendo continuamente ampliado.
Hoje, os orelhões fazem parte da paisagem, oferecendo através da tecnologia de cartões telefônicos serviços de DDD (Discagem Direta à Distância), DDI (Discagem Direta Internacional) e ligações locais a cobrar, além de aparelhos comunitários voltados para o público de baixa renda (também receberem chamadas). Até agosto de 1982, no Brasil não era possível receber chamada através dos TPs. Com a inauguração do primeiro orelhão comunitário em São Paulo, na favela de Vila Pinheiros, os aparelhos começam a tocar, e com a introdução dos TPs cartão, em 1997 dá-se a implantação generalizada, no Estado de São Paulo, de TPs que recebem chamadas.
Clovis Silveira, esposo da inventora falecida em 1997, informa que os filhos elaboraram um site sobre a invenção em www.orelhao.arq.br e detalha em matéria no Jornal do Brasil: “A criadora foi a conhecida arquiteta paulista Chu Ming Silveira, nascida em Shangai, naturalizada brasileira, formada em Arquitetura na Faculdade Mackenzie em São Paulo, em 1964. Ela era Chefe da Engenharia de prédios da CTB – Companhia Telefônica Brasileira em São Paulo, em 1971, quando criou o projeto do orelhão, o que foi amplamente publicado pelos jornais da época, em especial por O Estado de São Paulo. Sua criação foi espontânea, oferecida à empresa e ao público e muito bem aceita, tanto pela CTB quanto pelo público. De fato, foi no Rio em 20 de Janeiro e em São Paulo em 25 de Janeiro (respectivas datas de fundação) que, em 1972, foi iniciada pela CTB a implantação dos novos protetores para telefones públicos.
Os modelos externos, de fibra de vidro, naquela ocasião eram chamados simultaneamente de CHU-2, de Tulipa, de Capacete de Astronauta e de Orelhão. Os modelos internos, transparentes, já haviam sido instalados experimentalmente na CTB, à Rua Sete de Abril em São Paulo, e levavam, carinhosamente, o nome de CHU-1. Além desses modelos, a arquiteta Chu, desenvolvera também outros modelos, que foram instalados em postos de gasolina e outros locais. O Estado de 1/2/1972 noticiou, por exemplo, na matéria “CTB ensina a usar o orelhão”: “A arquiteta Chu Ming Silveira, que o criou, partiu da forma acústica mais perfeita – o ovo – que foi ao mesmo tempo a mais econômica”. A citação dos “orelhões”, um sucesso internacional, foi saudada pela imprensa, “sponte sua” ou mediante matérias pagas pela própria CTB, tendo sido inúmeras as matérias publicadas sobre esse tema. Em meu arquivo, possuo tudo o que eu mesmo consegui reunir, na ocasião e também posteriormente, sobre esse fenômeno que foi, e continua sendo, o orelhão. Alguns marcos interessantes, para citar resumidamente, foram os seguintes.
A CTB depositou no INPI – Instituto Nacional da Propriedade Industrial, em 12 de Maio de 1972, sob números 2966/72 e 2967/72, dois pedidos de patente de modelo industrial dos referidos protetores de telefones públicos, o externo e o interno, indicando como inventora a arquiteta Chu Ming Silveira. Esses pedidos se converteram em patentes (hoje já perderam suas vigências, passando a integrar o domínio público). Na I Bienal de Arquitetura, ocorrida em São Paulo, de 8 a 30 de junho de 1973, no Parque do Ibirapuera, mostra promovida pela Fundação Bienal de São Paulo, Instituto dos Arquitetos do Brasil e Banco Nacional da Habitação, a arquiteta expôs os projetos de sua autoria relativos aos protetores para telefones públicos – os orelhões. Também em 1973 o jornal ARQUITETO n.9, do Instituto dos Arquitetos do Brasil e Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo, publicou extensa matéria na seção DESIGN com entrevista da arquiteta, intitulada “Chu Ming, autora do projeto orelhão, conta como encontrou no desenho a solução para o problema do telefone público no Brasil” , tendo exibido, nessa matéria, os desenhos originais da autora.
O mesmo projeto, objeto de inúmeras reportagens no Brasil e no exterior, inclusive na China, foi também exposto na mostra “Design e Comunidade”, ocorrida de 6 a 25 de maio de 1980, no prédio da Fiesp-Ciesp, em exposição promovida pelo NDI – Núcleo de Desenho Industrial, para a qual a arquiteta Chu Ming Silveira foi convidada a expor seu projeto “Cabina Telefônica – o Orelhão”. Em 1983 foi publicada, pelo Instituto Walther Moreira Salles e Fundação Djalma Guimarães, em dois volumes com 1100 páginas, a HISTÓRIA GERAL DA ARTE NO BRASIL, sob coordenação de Walter Zanini. Um compêndio da criação intelectual nos diversos campos da criação artística brasileira, cujo capítulo sobre Desenho Industrial, elaborado por Júlio Roberto Katinsky, apresenta, à página 940, em Equipamentos Urbanos, foto do orelhão em frente à Faculdade de Arquitetura da USP e o desenho original do projeto assinado pela arquiteta, com as indicações “Implantação urbana e elevação do orelhão, projeto de Chu Ming Silveira”. O livro “O DESIGN NO BRASIL – História e Realidade” organizado pelo MASP, Museu de Arte Moderna Assis Chateaubriand, em colaboração com o NDI Núcleo de Desenho Industrial teve que corrigir, através da errata “autoria de Chu Ming Silveira, arquiteta” a página que, equivocadamente, indicava como autor um fabricante dos ditos orelhões.
Em 1997, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Mackenzie, na Exposição Comemorativa de 50 anos, ocorrida no Museu da Casa Brasileira, selecionou diversos arquitetos que foram homenageados por seus relevantes trabalhos. A Arquiteta Chu Ming Silveira foi convidada, em vida, e foi homenageada (postumamente) e por seu mais famoso projeto – o Orelhão – apresentado por seu filho. A autoria do projeto do orelhão, pela arquiteta Chu Ming Silveira, é fato inquestionável e virou história, não podendo ser esquecida ou desvirtuada.”
A simplicidade das formas do orelhão apenas disfarça as dificuldades de se conseguir soluções originais para problemas do tipo telefone público. As antigas cabinas além de serem fácil e sistematicamente depredadas, custavam caro, perto de 3 mil cruzeiros por unidade. Para Chu Ming a questão era colocada em termos de “encontrar uma solução de design e acústica para protetores de telefones públicos que apresentem uma relação custo performance melhor do que as já existentes e que se adequem as nossas condições ambientais”. Pelo menos foi assim que descreveu em seu memorial. O problema era novo: a resposta tinha que ser original. As soluções empregadas até então traziam muitos inconvenientes para o público e eram insatisfatórias: os telefones não tinham proteção, eram simplesmente instalados em farmácias, em paredes de base e de forma muito concentrada, colocados em postos de serviço localizados em edifícios e praças. A autora partir então de dois critérios. Primeiro tomar como ponto principal a funcionalidade. Segundo esquecer tudo que tinha visto em termos de proteção de telefones e procurar formas essencialmente novas.
Uma forma que garantisse proteção do telefone e do usuário, baixo custo de manutenção e fabricação, durabilidade e resistência as intempéries e danificação provocada, boa acústica e boa estética. Tudo isso e mais a necessidade de ser atraente ao público, de ter uma modularidade para atender pontos de diferentes concentrações e de projetar uma boa imagem do serviço da CTB junto ao público. A partir das necessidades foi feita uma pesquisa de materiais, até chegar a um que satisfez a todos os requisitos: o acrílico. As respostas encontradas variavam de acordo com a natureza do ambiente. Para ambientes fechados foi projetada a orelhinha, de pequenas dimensões, para ser fixado em paredes e pequenos postes, adaptável a vários tipos de suportes. Transparente para aumentar o espaço visual, o acrílico da orelhinha reflete parcialmente grande parte do ruído externo incidente e projeta o restante, que entra pela abertura frontal para seu foco, que se encontra deslocado do ouvido do usuário médio, oferecendo uma boa eficiência na faixa de 30 a 50 decibéis.
O projeto para protetores semiabertos foi concluído na mesma época. Eles também são feitos em acrílico, com forma de concha e eficientes na faixa de 50 a 60 decibéis de ruído. O princípio de funcionamento é o mesmo da orelhinha. Já o orelhão apresentava maiores dificuldades pelas condições desfavoráveis de uso: aplicação externa a todo tipo de público, alto nível de ruído nas vias públicas e reduzido espaço disponível nas calçadas movimentadas. Foi escolhido um material ainda mais resistente e durável que o acrílico: o fiberglass não transparente. Seu funcionamento também é idêntico ao da orelhinha, só que a eficiência chega de 70 a 90 decibéis. Atualmente a forma mais utilizada tem sido a cabina dupla para as ruas e tripla para as praças. E prevista para entrar definitivamente na paisagem urbana carioca e paulista, a altura dos orelhões é baseada na estatura média do homem das cidades brasileiras na década de 70, ou seja, 1,75m.
Chu Ming projetou variantes do orelhão, tais como o “orelhinha” (o protetor público interno de acrílico que até hoje encontram se instalados em todos os aeroportos brasileiros, por exemplo), a “concha” que foi a variante instalada em postos de gasolina e – o que foi o mais importante para esse mobiliário urbano nas vias públicas – as variações modulares dupla e tripla .
Fonte: http://www.accioly.hpg.ig.com.br/telecomunicacoes.htm
http://www.giro2000.com.br/br/giro426p.htm
http://www.barbante2000.com.br/Paginas_Itu/turismo.htm
http://lsinzelle.free.fr/bresil/salvador-2.htm
http://www.ogrupo10.hpg.com.br/introducao.html
acesso em março de 2003
ARQUITETO nº 9 de Julho de 1973 – DESIGN “Orelhão: quando o design resolve o problema” disponível em www.orelhao.arq.br (documento 6)
Agradeço a Clovis Silveira ([email protected]) pelo envio da matéria do Jornal do Brasil em 09.02.2004