Pau Rosa

O pau-rosa – árvore nativa da Amazônia incluída pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) na lista de espécies sobre risco de extinção – pode ser salvo. O químico paraense Lauro Barata, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), descobriu uma tecnologia capaz de obter óleo essencial da planta sem que seja necessário derrubar uma única árvore, como infelizmente acontece atualmente. O estudo de Lauro Barata é aparentemente banal: tem como objetivo estabelecer bases para o cultivo, o manejo e a extração de um novo óleo essencial das folhas do pau-rosa. Com a técnica desenvolvida junto ao INPA, o pau-rosa deixou de ser cortado pela raiz, uma vez que a pesquisa comprovou que o seu corte a 1,5 metros do chão possibilita que em dois ou três anos a árvore brote novamente.

 

Até hoje é da madeira desta árvore – conhecida como Aniba rosaeodora Ducke nos meios científicos – que é extraída a mais cobiçada substância da indústria de fragrâncias, o linalol, óleo que serve como matéria-prima para a fabricação do famoso perfume francês Chanel nº 5, criado na década de 20 pela estilista Gabrielle Chanel (conhecida como Coco Chanel). O perfume foi criado por Ernest Beaux, um dos maiores perfumistas de todos os tempos, a pedido de Coco Chanel. Ele é elaborado com uma mistura de sessenta fragrâncias.

O estudo pode figurar no rol das pesquisas essenciais, quando contabilizados os danos resultantes de décadas de exploração contínua do habitat natural do pau-rosa. A árvore, que já foi encontrada em toda extensão da floresta amazônica, existe atualmente apenas na região de Manaus e em certas áreas de difícil acesso. Além da redução na quantidade das plantas disponíveis para o corte, o linalol pertence à família das substâncias que não se fazem presentes facilmente: para que sejam produzidas 50 toneladas desse óleo, é necessário o corte de cerca de duas mil árvores por ano.

Para cortar a árvore leva-se, em média, uma hora. A madeira, que exala um odor de rosa, é muito rija, principalmente perto do miolo. Depois, as toras de mais de 100 quilos são carregadas nas costas até o rio mais próximo. Dessa forma, serão transportadas até as usinas, que vão transformá-las num óleo chamado linalol. O mesmo seguirá para Manaus e de lá para a Europa, o Japão e os Estados Unidos. Sujeito a tantos fatores, o produto passou a ser vendido a preço de ouro – cada quilo custa US$ 40 – e tantos impasses forçaram o questionamento sobre a viabilidade econômica e ecológica da sua utilização. Um dos maiores entraves para a continuidade de seu emprego, contudo, localiza-se na questão tecnológica. De acordo com o Ibama, a extração de matéria-prima suficiente para produzir um tambor de 180 litros de linalol deveria ser compensada com o replantio de 80 mudas de pau-rosa. Porém isso não acontece, segundo o Ibama, porque as mudas são escassas e, consequentemente, caras. Outros problemas são a falta de técnicas de plantio e o longo período de maturação das plantas para corte – mais de 25 anos.

A exploração da madeira do pau-rosa começou no século XVII, quando a madeira era usada para carpintaria naval e mobiliária. A exploração da árvore amazônica foi intensificada no início do século XX e ficou ainda mais forte nas décadas de 40 e 50. “Os produtores de pau-rosa não são vilões” , defende Lauro Barata. “Eles derrubam as árvores porque não existe outra opção” . Ele acredita que a simples proibição não seria capaz de resolver o problema da destruição da espécie, porque nesse caso os que vivem desse trabalho provavelmente partiriam para o corte ilegal da árvore. O manejo será realizado por meio da poda das árvores, o que fará com que elas se desenvolvam mais curtas e grossas do que as que crescem espontaneamente no meio da floresta. O efeito do desbaste será uma produção maior de folhas e consequentemente, de linalol. Somente com o passar do tempo e o crescimento inevitável das árvores – a alturas que tornam inviável a utilização das folhas – é que se partirá para sua derrubada. Ou seja, o aproveitamento da madeira será a etapa final de um processo em que já foram utilizados os outros recursos da planta. Durante o tempo em que a operação de poda e retirada das folhas estiver acontecendo deverá ser feito o reflorestamento, cobrindo áreas que hoje estão destruídas. O pesquisador prevê que, seguindo-se esses passos, “dentro de dez anos não haverá mais extração de óleo de madeira da floresta, e os produtores vão parar de derrubar o pau-rosa”.

De acordo com Barata, a extração do linalol seguindo essas etapas é 50% mais rentável do que a derrubada das árvores sem nenhum amparo tecnológico, como é feita hoje. O pesquisador calcula que, a partir do terceiro ano de cultivo, observada a técnica, já será possível coletar material para a produção industrial. E em cinco anos haverá ainda um aumento do linalol do pau-rosa, já que ao final desse período a árvore atinge a plenitude.

Quanto ao retorno dos investimentos dos produtores, espera-se que aconteça depois de cinco anos de cultivo. Em três anos, será feito o primeiro teste industrial com as plantas cultivadas na área de desenvolvimento da pesquisa – teste já feito com árvores da floresta. “O importante é fazer todas as conexões para transformar o projeto em produto. O trabalho precisa ter começo, meio e fim”, afirma o químico. Com essa intenção, ele busca indústrias interessadas no projeto, que seriam futuros compradores. “Precisamos nos preparar para ter o mercado na mão”, completa Lauro Barata, eufórico com a possibilidade de ceder à pesquisa brasileira o direito de influir na produção de um perfume que se tornou legendário depois que perguntaram a Marilyn Monroe o que ela usava para dormir e a estrela respondeu candidamente: “Só duas gotas de Chanel nº 5”.

Os pesquisadores Lauro Barata, do laboratório de Química de Produtos Naturais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e João Ferraz, do departamento de Silvicultura do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) apostam no óleo produzido a partir de folhas e galhos finos do pau- rosa, em que não é necessário o corte das árvores. Já o agrônomo Nilson Maia, do Centro de Análise e Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Horticultura, do Instituto Agronômico (IAC), acredita no potencial do manjericão, erva bastante utilizada na culinária, como uma alternativa ao óleo essencial extraído do pau-rosa.

Para o pesquisador do IAC é possível produzir um novo óleo a partir do manjericão e capacitar a agricultura paulista para fornecer às indústrias perfumistas o novo produto. “A nossa finalidade é o agronegócio. Nosso objetivo é criar uma opção agrícola, sustentável ecologicamente, para que o produtor tenha um produto de qualidade e em quantidade para concorrer com a exploração na Amazônia”, diz Maia. Na primeira etapa da pesquisa, o pesquisador testou o teor de linalol em algumas espécies cultivadas na fazenda Santa Elisa, do IAC, e comparou com o óleo extraído do pau-rosa. Em função da facilidade de cultivo (em quatro meses a planta está produzindo), o manjericão foi considerado o mais indicado. A fase atual da pesquisa é justamente o desenvolvimento das técnicas de manejo do manjericão. “Vamos tentar aumentar o teor de linalol com o manejo da solução nutritiva em cultivo hidropônico”, explica o pesquisador. Os resultados do cultivo hidropônico servirão como subsídios para orientações de como se obter maior concentração do óleo. A última fase da pesquisa será o desenvolvimento de métodos de extração do linalol. Como no Brasil não existem indústrias operando nessa área será necessário estabelecer convênios com empresas estrangeiras. Segundo o pesquisador, uma empresa americana já demostrou interesse.

 

Fonte: http://www.ervasdositio.com.br/destaque/rosa_pau.asp

http://www.zaz.com.br/istoe/1602/brasil/1602opescadordealmas2.htm

http://www.comciencia.br/noticias/31mai02/linalol.htm

http://www.iqm.unicamp.br/profs/lbarata.html

acesso em fevereiro de 2002

http://www.iac.br/noticias/materias/manjericao052002.htm

acesso em agosto de 2002

Crônicas de Sucesso, Ciência e Tecnologia no Brasil, Ed. Ciência Hoje, pag. 22

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