O Brasil do século XIX mal conhecia cientificamente a descrição dos vegetais de sua flora. Isto no entanto, não deve significar que o país e suas faculdades de farmácia não produziram cientistas de nível nacional e internacional, já na segunda metade do século XIX, como Ezequiel Correia dos Santos, que isolou o princípio ativo do Pau Pereira em 1848, a pereirina em colaboração com Soullié e Dourado. O boticário carioca Ezequiel Correia dos Santos, impressionado com o surto de malária na cidade do Rio de Janeiro, empreende pesquisas em torno do “pau-forquilha”, ou “pau-pereira” (geissospermum vellosii, Fr. All. ou geissospermum laeve), vegetal que era empiricamente usado como remédio popular. Obteve êxito isolando da casca do vegetal um alcalóide, ao qual denominou “pereirinha”. Logo depois fabricou seu cloridrato, de largo uso até princípios do século. A pereirina é um dos primeiros alcalóides, senão o primeiro, a ser isolado puro no Brasil. É interessante ressaltar que o o isolamento do primeiro alcalóide , a morfina, se deu em 1806, pelo prático de farmácia Setuerner.
Foi depois da vinda da família real, (1803) que o país, ainda colônia, adquiriu o direito de acompanhar os movimentos culturais e científicos que aconteciam no velho continente a mais de um século. Em 1818 o farmacêutico português instalado no Rio de Janeiro, José Caetano de Barros abriu o ensino gratuito a médicos, boticários e estudantes no laboratório de sua farmácia, sendo que as aulas de botânica eram dadas pelo carmelita pernambucano Frei Leandro do Sacramento, diretor do Jardim Botânico, e professor dessa disciplina na então Escola Médico Cirúrgica. As aulas de Frei Sacramento eram ministradas no Passeio Público daquela cidade. Dentre os discípulos de José Caetano de Barros, destacava-se Ezequiel Corrêa dos Santos, que veio a ser um dos pioneiros da farmácia no Brasil. Seu filho, também farmacêutico, tornou-se catedrático de farmácia na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro entre 1859 e 1883.
Na tese “O Brasil na Farmácia íbero-americana”, de 1948, escreveu o historiador: “Em 1828, vários médicos de valor, associados a dois de origem gaulesa, resolveram intervir na vida social do Rio de Janeiro e em 30 de junho de 1829 fundaram, oficialmente, a Sociedade de Medicina, centro cultural, que não, deve ser confundido com a Faculdade de Medicina de 1832. Esses médicos chamavam-se Joaquim Cândido Soares de Meirelles, José Francisco Xavier Sigaud (emigrado político francês), José Martins da Cruz Jobim, Jean Maurice Faivre, Luis Vicente De-Simoni e José Mariano da Silva. Fundada a Sociedade de Medicina, entraram a debater as nossas necessidades e em 3 de outubro de 1832 a Regência criava os Cursos de Farmácia nas duas Faculdades de Medicina do Império e cercava os diplomados de garantias legais, para estimular o acesso à carreira farmacêutica. Por decreto de 18 de maio de 1835, a Sociedade de Medicina era transformada em Academia Imperial de Medicina, com uma secção de farmácia, e considerada, desde já, como órgão consultivo do Governo. Nessa ocasião foram admitidos vários boticários de nomeada, entre os quais desejo ressaltar os nomes de Ezequiel Correia dos Santos e Manoel Francisco Peixoto, que procuraram estudar nossa flora e desenvolver o aperfeiçoamento do exercício profissional.”
Desde 1832, quando foi instituído o Curso Farmacêutico nas Faculdades de Medicina do Império, o profissional deixou de chamar-se Boticário. Daquela data em diante ficou sendo Farmacêutico, embora o vulgo o chamasse como outrora. Como os profissionais legalmente habilitados se sentissem desamparados, tratou Ezequiel Correia dos Santos de arregimentar os colegas de boa vontade e em 30 de março de 1851 fundava a Sociedade Farmacêutica Brasileira. Ela visava “reformar imensos abusos introduzidos na prática da farmácia, com desdouro do país, dos farmacêuticos e grave dano da saúde pública”. (Estatutos publicados em 1851). As reformas propostas na Junta Central de Higiene alarmaram os farmacêuticos da Corte e a Sociedade Farmacêutica Brasileira discutiu o assunto com bastante irritação.
A pereirina trata-se de uma infusão aquosa e fria do liber da casca pela cal extinta lançada por pequenas porções, até que o líquido fique ligeiramente alcalino. Filtra-se e faz-se secar o depósito de cal e pereirina em uma temperatura pouco elevada. Logo que estiver seco, reduz-se a pó. E faz-se macerar em álcool a 35 graus e fervendo. Repete-se a operação até que toda a pererina se tenha dissolvido; reunem-se os licores e destilam-se em banho-maria para tirar quase a totalidade do álcool. Dissolvem-se os resíduos da destilação em água destilada ligeiramente acidulada com ácido sulfúrico; lança-se na dissolução, assim obtida e filtrada, carvão animal em suficiente quantidade para a descorar; depois de três dias de maceração, filtra-se de novo. O líquido que se obtém; é de uma cor amarela alaranjada e muito amarga; lançando-se dentro amônia líquida, precipita-se a pereirina; depois lava-se e seca-se.
Os sais de Pereirina são todos são amarelos, solúveis, e conservam o sabor amargoso da base. Estando dissolvidos, precipitam pela infusão de noz de galhas e pelo tanino. Lançando-se uma solução de bicloreto de mercúrio em um sal de prereirina dissolvido, forma-se um precipitado de cloreto de mercurio e pererina. O iodureto de potássio também precipita os sais de pereirina; o precipitado é o iodureto de pererina. Lançando-se pererina em uma solução de iodo, imediatamente o líquido se descora, e o iodo é absorvido. O sulfureto de potássio precipita so sais de pererina em amarelo alaranjado; o precipitado é o sulfureto de pererina. Os cloretos de potássio, de alumínio, de estanho, os álcalis e seus carbonatos, e a maior parte dos sais das últimas quatro classes precipitam igualmente a pereirina de suas dissoluções salinas. Os sais de pereririna dissolvidos se decompõem por uma corrente voltática; a pereirina é transportada ao pólo negativo, e o ácido ao positivo.
Fonte: http://histoeplmed.2x.com.br/medicamento.htm
http://www.abifarma.com.br/entidade/index. php4?page=historia_brasil.htm
http://www.terradeos.com.br/tom%20das%20ervas/farmacia.html
http://sites.uol.com.br/vladimir/historia/pages/hfar65.htm
http://quimicanova.sbq.org.br/qnol/2002/vol25_esp1/08.pdf
http://www.chicomendesbr.hpg.ig.com.br/bbfarm.htm
http://sites.uol.com.br/eadmelo/pereira.htm
acesso em dezembro de 2002