Com mais de 15 mil quilômetros de extensão, a rede de dutos nacional pode ser comparada ao sistema circulatório humano. Só que em lugar de veias e artérias, ela é composta de tubulações metálicas de vários diâmetros, por onde circulam óleo, derivados e gás natural. Manter essa malha funcionando requer complexos sistemas de monitoramento e reparo, o que incentiva investimentos em ciência e tecnologia nessa área. Atualmente, empresas, centros de pesquisa e universidades estão desenvolvendo pesquisas e produtos – como o robô girino – para auxiliar nessas funções. O esforço culminará com a construção de um centro de tecnologia de dutos (CTDUT) no meio deste ano. Segundo Marcelino Guedes Gomes, gerente de tecnologia da Transpetro, esse investimento em pesquisa é fundamental, não só para garantir a integridade da rede dutoviária, mas também para assegurar que o Brasil se torne um líder nesse campo.
Criado há cinco anos pela Petrobras, o Programa Tecnológico de Dutos (PRODUT) promove pesquisas com aplicação na área de movimentação de óleo e gás, e aumenta a interação entre a empresa e as universidades. O PRODUT financia pesquisas em diversas áreas. No reparo de dutos, por exemplo, desenvolveram-se substâncias especiais que permitem selar um duto vazado sem o uso de solda. Há também estudos voltados para o uso de materiais não metálicos na construção das tubulações. A ausência de corrosão, a maior vida útil e a facilidade de instalação são algumas das vantagens destes sobre os dutos convencionais. O Departamento de Engenharia Mecânica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) está em sintonia com o setor. Além de possuir um curso de pós-graduação em engenharia de dutos, os laboratórios do departamento têm várias linhas de pesquisa na área. Uma delas envolve um problema encontrado em dutos submarinos: a parafina. Devido às baixas temperaturas do oceano, a parafina existente no petróleo se cristaliza e acumula-se na parede da tubulação. Com o tempo, a massa pode vir a bloquear o fluxo de óleo, em um processo similar ao da aterosclerose. Uma das ideias dos pesquisadores é usar bobinas para induzir uma corrente elétrica nos dutos, aquecendo-os, o que impediria a formação dos cristais de parafina.
No final da década de 1990, uma tubulação localizada na bacia de Campos (RJ) entupiu por excesso de parafina. A massa era tão grande que o pig utilizado para raspá-la ficou emperrado. Nem mesmo companhias internacionais tinham uma solução para o problema. O incidente acabou motivando os pesquisadores do Laboratório de Robótica do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (CENPES) a estudarem o problema mais a fundo. A ideia inicial ocorreu ao engenheiro de equipamentos Ney Robinson, coordenador do projeto, quando ele observava o movimento de girinos em uma poça d’água. Composto de dois módulos e um tubo hidráulico, o girino (como foi denominado o robô) move-se por meio de injeção de óleo, que faz com que a barra estenda-se ou retraia-se. O sentido do movimento é dado pelas rodas de cada módulo, que estão em contato com a parede do duto e travam alternadamente. Conectado ao robô estão os “umbilicais”, que se estendem até o local de inserção. Eles fornecem o óleo e a eletricidade necessária para a locomoção e o solvente a ser usado na parafina.
O protótipo foi testado em São Sebastião (SP) com bons resultados. Ele conseguiu arrastar um caminhão de 7,5 toneladas, um ponto importante já que, para começar, ele tem de arrastar os umbilicais por muitos quilômetros. O bichinho já foi patenteado pela Petrobras e deve estar pronto para comercialização em um ano. Ele terá um só tamanho, mas terá rodas especiais, para se adequar a diferentes diâmetros de dutos. Resultado de uma colaboração entre a Petrobras, a PUC-Rio e o sistema Firjan, o CTDUT será um local para realizar pesquisa, desenvolvimento e serviços em larga escala. A construção, financiada pelo fundo setorial de petróleo e gás natural, começa em junho deste ano em Campos Elíseos, próximo ao terminal de dutos da Transpetro e da Refinaria Duque de Caxias. O centro contará com um duto de dois quilômetros em circuito fechado, onde poderão ser realizados testes, usando, inclusive, óleo cedido pelo terminal da Transpetro. As instalações permitirão ainda calibrar equipamentos como pigs e formar mão-de-obra especializada. O CTDUT não pertencerá a nenhuma instituição especificamente, sendo administrado por um grupo de sócios que incluirá empresas e universidades – como em um clube.
Pela primeira vez, a PUC-Rio recebeu royalties relativos à transferência de tecnologia desenvolvida no campus, a partir da interação entre a pesquisa científica aplicada e as empresas. A tecnologia, denominada PIG Geométrico, é um dispositivo computadorizado para a inspeção de dutos, que percorre as tubulações realizando um levantamento da geometria de sua seção reta, detectando deformações e defeitos.
O PIG é fruto de uma antiga parceria entre a Universidade e o Cenpes, da Petrobras. Seus direitos de exploração e comercialização foram cedidos à PipeWay, empresa da Incubadora do Instituto Gênesis, em contrato assinado em julho de 1998.
A inspeção de dutos pode ser feita em três níveis: corrosão, geometria e mapeamento dos tubos. A corrosão motivou a primeira parceria com a Petrobras, através do Cetuc, ha cerca de oito anos. Entretanto, à medida que a pesquisa evoluiu, constatou-se uma aplicação mais rápida e efetiva para a ferramenta, no nível da geometria. O Reitor da PUC-Rio, padre Jesús Hortal Sánchez, S.J., afirma que o caso da PipeWay é de fato um marco na Universidade: “Apesar de se tratar de uma quantia pequena, esses royalties simbolizam uma nova perspectiva de crescimento para a Universidade. Uma possibilidade que não se tinha anteriormente e que, no futuro, deve ser explorada cada vez mais”, acrescenta o Reitor.
O Pig Geométrico é utilizado em dois momentos: 1) durante a construção do duto, especialmente nas últimas etapas da montagem e condicionamento, para levantar as características geométricas da linha, em especial a existência de mossas e ovalizações; 2) na monitoração de dutos em operação, para identificar qualquer redução de diâmetro ou outro tipo de anomalia geométrica que possa ter ocorrido durante a vida útil da linha. Defeitos como mossas, ovalizações e dobras são provocados por agentes mecânicos externos ou pela movimentação localizada do terreno.
Exemplo de bom desempenho na área de inovação tecnológica, a Incubadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro- PUC/RJ, a Genesis e sua ex residente, a PipeWay, ganham Prêmio ANPROTEC de 2000. A primeira na categoria de melhor Incubadora e a segunda é classificada como a melhor Empresa deste ano. A PipeWay ingressou na Incubadora Genesis em outubro de 1997 e saiu em agosto de 1999. A empresa graduada tem seu foco na criação e oferta de soluções inteligentes no mercado de óleo e gás. A empresa presta serviços de geometria, mapeamento isométrico, detecção de vazamentos, entre outros. Os profissionais que criaram a PipeWay trabalham em conjunto com o Centro de Pesquisas da Petrobrás há dez anos. Dessa parceria resultaram além de tecnologias de instrumentação offshore para exploração de óleo em águas profundas e embarcada para a inspeção de dutos, o primeiro PIG Geométrico com tecnologia inteiramente nacional.
O PIG é uma ferramenta sofisticada que permite rapidez e eficiência no processo de visualização de dutos, armazenando dados por um sistema computadorizado durante o percurso da inspeção. Hoje, a empresa já inspecionou mais de dois mil Km de dutos e ganhou, em parceria com a Tuboscope Vetco (EUA), a concorrência para a inspeção de cerca de dois mil Km de linhas do ABASTA-TRAN da Petrobrás. A atuação da Pipe causou um forte impacto econômico sobre o mercado de trabalho, permitiu, por exemplo, que os preços correntes pagos pela Petrobrás para o serviço de inspeção baixassem em 50%. “O apoio da Incubadora de Empresas foi essencial para a consolidação da PipeWay, que iniciou suas atividades dentro do ambiente de interação Universidade-empresa.”, afirma Claudia Müller, da equipe de Assessoria de Comunicação da Pipe.
No mundo todo existem apenas cinco fabricantes desse tipo de robô – dois americanos, um alemão e outro canadense. Somente a PipeWay, situa-se no Hemisfério Sul. “É uma tecnologia capaz de impedir desastres ecológicos no país”, afirma o presidente da Anprotec, Luiz Afonso Bermudez. A tecnologia criada pelos cientistas brasileiros é mais elaborada do que as disponíveis no mercado internacional. Ao contrário das similares, que apenas verificam se há ou não defeito num duto, o equipamento nacional é capaz de informar com precisão a posição e o tamanho dele. Poucas horas depois de inspecionar a linha, o robô, cujo comprimento varia de 1 centímetro a 1 metro, gera um relatório contendo um desenho tridimensional do percurso verificado. “O nosso diferencial é fornecer uma quantidade maior de informações em um tempo bem menor”, diz Pereira, da PipeWay.
Impulsionado pelo líquido ou gás no interior da tubulação, o robô se move a uma velocidade de 2 a 1 quilômetro por hora, através de uma extensão de até 200 quilômetros. Para cada duto inspecionado é preciso construir um pig que se encaixe perfeitamente em seu diâmetro. “É como uma rolha num gargalo”, explica Pereira. O equipamento serve tanto para a avaliação de um duto antes do início de sua operação quanto para a manutenção. A verificação regular deve ser feita a cada quatro anos, tempo suficiente para o aparecimento de defeitos. A falta de inspeção aumenta o risco de vazamento, a médio ou longo prazo. “Um ponto amassado da tubulação, por exemplo, está mais sujeito à corrosão”, diz Pereira. O custo pelo uso do equipamento varia de acordo com o diâmetro da tubulação – de 200 a 500 dólares por quilômetro percorrido.
Nos primórdios da PipeWay, o pig era apenas uma promessa à espera do primeiro cliente, que demorou um ano para surgir. O marasmo inicial foi quebrado no final de 1999, quando os pesquisadores receberam a notícia de que haviam vencido duas concorrências de uma vez só. Pela primeira, habilitavam-se a prestar serviço para uma construtora americana em atividade no Brasil. O segundo contrato, para inspeção de cinco trechos do gasoduto Brasil-Bolívia, que vão de Paulínia, em São Paulo, a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, surpreendeu os sócios. Mais do que injetar 580 000 reais no caixa esquálido da PipeWay. o projeto trouxe-lhes finalmente a certeza de que estavam no caminho certo. A Petrobrás e a PUC recebem 4% e 1%, respectivamente, de royalties. Cada melhoria incorporada ao processo deve ser repassada às duas entidades. “A PipeWay tem um potencial muito grande e tecnologia competitiva que, em alguns casos, é até melhor que a de seus concorrentes”, diz Antônio Ribeiro, da Petrobrás. O pig geométrico é responsável por 90% do faturamento da empresa.
Em palestra proferida no REPICT de 2001, Antônio Cláudio C. M. Sant’Anna comenta o projeto PIG Geométrico desenvolvido pela PUC-RJ e Petrobrás: “Começarei a falar da tecnologia que foi licenciada. Trata-se de um equipamento denominado pig geométrico, semelhante a um torpedo Ele viaja por dentro de um oleoduto e vai medindo o diâmetro desse oleoduto em busca de amassamentos, ovalizações, algum tipo de acidente mecânico que tenha afetado aquele oleoduto. Ele tem uma eletrônica embarcada que é capaz de medir a distância percorrida, registrar esses diâmetros e depois, quando sai de dentro da tubulação, 100 ou 200 km depois de onde foi lançado, essas informações são colhidas no computador e analisadas. Esse trabalho é fruto de desenvolvimento conjunto entre Petrobras e PUC do Rio de Janeiro. Foi feito em diversas etapas, cada uma delas com um instrumento contratual dando cobertura a essa relação e sempre a propriedade dos resultados era assegurada para a Petrobras.
Em nossa percepção, essa tecnologia não traz uma vantagem competitiva importante para a Petrobras. Não é patenteável em seu conjunto, ou seja, não cumpre alguns quesitos de patenteabilidade, seu caráter inovador, há outros pigs geométricos operando no mundo. Não representa uma barreira de entrada para eventuais concorrentes à Petrobras, ou seja, dispor dessa tecnologia, oferecê-la ao mercado não estaria prejudicando a Petrobras, não é uma tecnologia que esteja no core business da empresa. Então, ela seria elegível para um licenciamento. Outra característica é que ela tem aplicação não só na área de petróleo. Uma companhia, por exemplo, distribuidora de águas pode ter interesse em passar esse equipamento dentro de uma adutora para saber da sua situação quanto a esses amassamentos que citei.
O objetivo específico da Petrobras, voltando a esse nosso caso, com esse licenciamento, era desenvolver um fornecedor local de serviços, local aqui é Brasil, porque esse tipo de serviço só era oferecido à Petrobras através de fornecedores estrangeiros. Obter uma redução de custos, isso é uma tônica, sempre que compramos um serviço ou um produto de base tecnológica de uma empresa estrangeira pagamos um preço de oportunidade por esse serviço. Quando o mercado percebe que há uma solução local, mesmo que ainda em caráter potencial, observamos uma queda dos valores que não estão ofertados nas licitações. Outro objetivo é ganhar agilidade. Quando se contrata um serviço desses de uma empresa estrangeira, muitas vezes não se consegue no momento que se quer, porque a pessoa já está com seu o pig ocupado numa outra empreitada.
E um aspecto muito importante, que raramente é lembrado: essa tecnologia, como todas, tende a tornar-se obsoleta com o tempo. Então, ou a Petrobras mantém uma equipe permanentemente atualizando aquela tecnologia, ocupada com isso, ou passa para o parceiro licenciado essa tarefa de evoluir o produto; e isso ele fará naturalmente porque não vai querer ficar fora do mercado. É uma forma bastante econômica de manter uma tecnologia atualizada. A empresa que se apresentou candidata ao processo é um spin off da própria equipe da PUC-Rio que desenvolveu a tecnologia em parceria com a Petrobras. Então, o professor responsável por este desenvolvimento e por este contrato, junto com alguns de seus técnicos, criou uma empresa, na incubadora da PUC/RJ, agregou à sociedade uma pessoa com experiência comercial muito grande, muitos anos nessa área de prestação de serviço de pig, e com isso então o grupo se apresentou à Petrobras demandando aí o licenciamento.
Por não ser uma patente, o tipo de contrato feito foi um FT, contrato de fornecimento de tecnologia, sem exclusividade. A Petrobras, por ser uma empresa pública, entende que não pode fazer o licenciamento com caráter de exclusividade sem um processo de licitação, então o que fazemos é não oferecer exclusividade, o que quer dizer que se amanhã outra empresa bater à porta da Petrobras e demandar ser licenciada faremos da mesma forma. O tipo de remuneração foram royalties sobre as vendas. Entende-se então, vendas como o valor bruto, deduzidos apenas os impostos. Não se exigiu down payment e nem se estabeleceu uma performance mínima de vendas ao longo de anos, por exemplo, salvo uma previsão que tinha no contrato de que ele seria rescindido se, durante determinado período de tempo, não lembro agora qual, não houvesse nenhuma prestação de serviço.
Existem na literatura duas práticas que são, eu diria, bastante usuais. Uma é cobrar 5% do faturamento da venda daquele produto ou serviço, menos os impostos, ou 25% do lucro bruto, entendido lucro bruto como a diferença entre o valor de venda daquele produto ou serviço e o custo direto de produzi-lo, sem colocar os custos de venda, overhead de administração, todas essas outras despesas. E aí fica uma questão: isso é muito ou pouco? Normalmente, quando se diz para um pesquisador que ele ganhará 5% do valor de venda de uma tecnologia que ele levou anos desenvolvendo, a sua primeira reação é sentir-se aviltado e achar que aquilo ali é muito pouco. Eu diria o seguinte. Se imaginarmos a lucratividade dessa empresa licenciada na faixa de 10%, o que para o Brasil é um índice das felizes empresas, ganhando 5% está sendo sócio em 50% daquele negócio. Então, a conta que tem que ser feita não é em cima do valor de venda do produto ou serviço: “Quero ganhar 50% do valor do serviço.” Não é. Para a empresa licenciada colocar aquele produto no mercado a partir da tecnologia que lhe foi fornecida, ela ainda investe um bom dinheiro e alguns anos. Tive acesso a uma literatura que relata essa experiência do MIT – Massachusetts Institute of Technology, em que se diz que o tempo médio é de levar oito anos e esses oito anos correm por conta da empresa. Então, eu diria o seguinte: na dúvida, 5% é um bom número, bastante praticado no exterior.
A nossa avaliação sobre o processo é que a licenciada atingiu os objetivos desejados. Apesar do seu pequeno porte inicial, a empresa teve crescimento muito grande e bastante rápido. Os custos dos serviços que a Petrobras hoje compra caíram drasticamente. Voltando, é aquele comentário que eu já havia feito, isso aí é uma tônica. Sempre que temos uma solução tecnológica local, as empresas estrangeiras percebem e têm que baixar os seus preços. A empresa expandiu a sua linha de pigs. Então hoje temos pigs de diversos diâmetros. A tecnologia tem evoluído. E, apesar de não ter sido o objetivo principal a parte do retorno financeiro, esse retorno tem-se mostrado bastante interessante, bastante relevante. A minha conclusão é que a Petrobras está finalizando uma avaliação do seu acervo de patentes, com vistas a realizar outros processos de licenciamento. O caso do pig, apesar de não ter sido o primeiro licenciamento feito pela Petrobras, foi o que melhor resultado apresentou. Acredito que esse resultado positivo se deve, entre outros fatores, a uma negociação de ganhos, que se conseguiu estabelecer com a empresa licenciada.
No mesmo painel do REPICT, José Augusto Pereira da Silva conta o ponto de vista da Pipeway: “A empresa, como Antônio Cláudio já falou, nasceu da interação da Petrobras com o Centro de Pesquisas da PUC-Rio, no caso, o Centro de Estudos de Telecomunicações da PUC-Rio, que já tinha uma parceria de desenvolvimento de tecnologia com 10 anos de desenvolvimento. Depois de certo tempo, como ele mesmo falou, foi feito através de um spin off dos próprios pesquisadores que estavam envolvidos nesse desenvolvimento. Eu sou um dos pesquisadores. Sentimos que estávamos com uma tecnologia madura o suficiente para entrar no mercado, para montar uma empresa, o que é sempre um desafio interessante, então esse spin off foi feito através da Pipeway Engenharia, que foi criada dentro do ambiente da universidade. Quando sentimos vontade de criar essa empresa, pegar essa tecnologia, fomos à Petrobras, fizemos uma primeira reunião, até com Antônio Cláudio, ele já fazia parte do setor de comercialização de tecnologia, e externamos o nosso interesse em usar essa tecnologia. Foi feito um contrato cuja remuneração, como ele falou, foi feita à base de royalties. Depois veremos alguns resultados para exemplificar bem o que ele falou sobre o é muito, é pouco, percentual do lucro, percentual do faturamento.
Nós nos instalamos inicialmente na incubadora da PUC-Rio. Foi muito gratificante essa relação, uma empresa de grande porte, como a Petrobras, uma universidade de nome, como a PUC, dentro de uma incubadora também de peso, isso serviu como um cartão de visita para chegar a um cliente que não nos conhecia, que não fosse a Petrobras. Fomos agraciados com um PADCT da FINEP no valor de R$ 60 mil para desenvolver uma melhoria na ferramenta; no caso foi um sistema de detecção de curvas usando os sistemas inerciais, que é também um diferencial da nossa ferramenta, fomos os primeiros a usar esse tipo de tecnologia. Com esse recurso de R$ 60 mil agregamos valor à ferramenta e, com isso, conseguimos um diferencial de mercado para dar um laudo mais rápido e ter um resultado de maior qualidade para o cliente. Além disso, em estando dentro da incubadora da PUC, tivemos um incentivo fiscal dado pela Prefeitura do Rio, que foi a redução do ISS de 5% para 0,5%; isso, nos dois anos em que se fica dentro da incubadora, foi fundamental, 5% do faturamento é uma coisa significativa, principalmente quando se está reinvestindo absolutamente tudo que se recebe.
O primeiro desafio foi fabricar um pig geométrico em tempo recorde, o que aconteceu em outubro de 1998. A empresa foi constituída em julho de 1997 e ficamos quase um ano em busca do primeiro contrato. Como cada tubulação tem um diâmetro diferente, podíamos fazer um pig para cada diâmetro e arriscar para quando ganhássemos nosso primeiro contrato ter aquele pig pronto. Não adiantou, tivemos que ganhar o primeiro contrato, assinar o contrato para montar a ferramenta. Esse prazo normalmente é de 30 dias. Então, deixamos as coisas o máximo preparadas. Assim que ganhamos o primeiro contrato – todos os circuitos e desenhos mecânicos estavam impressos em Autocad – tivemos que sair do papel para estar com o equipamento pronto para entrar no duto em 30 dias. Conseguimos alcançar esse objetivo, isso com apenas um funcionário. Não sei se Cláudio lembra da reunião que tivemos no CENPES, quando ganhamos o contrato, não tínhamos o pig, o pessoal da Petrobras estava assustado: “Vocês vão conseguir mesmo isso? Vocês só têm 30 dias para fazer.” “Nós acreditamos no nosso potencial, vamos conseguir fazer isso.” Graças a Deus, conseguimos e foi uma fase bastante interessante da nossa existência.
Depois disso, ganhamos, junto com a empresa norte-americana que acreditou em nós, teve uma concorrência para prestar serviço para a Petrobras para inspecionar 1.900 km em apenas um ano, isso em vários diâmetros de ferramentas, ferramentas que iam de seis polegadas até 34 polegadas, que é um tubo que quase uma pessoa anda dentro. A tecnologia que licenciamos da Petrobras começava em 12 polegadas, ou seja, só podíamos fazer pigs maiores do que 12 polegadas, faltava o de seis polegadas, o de oito polegadas e o de 10 polegadas. E a integração da eletrônica era difícil porque com aquele sistema eletrônico não se conseguia diminuir os vasos de pressão, as peças mecânicas. Tivemos que desenvolver – já com recursos próprios, porque a tecnologia já estava licenciada e já estávamos operando – essa ferramenta de seis, oito e 10 polegadas para atingir esse objetivo, tendo que fabricar essas ferramentas e operar isso tudo em um ano. Era um desafio bastante interessante, se não viesse esse que foi nós querermos, enfim, esse caso GasBol II, que era um arco importante para o Brasil, o gasoduto que traz gás da Bolívia para São Paulo e depois de São Paulo até Porto Alegre, até agora ficará mais importante ainda com a mudança da matriz energética do Brasil.
Na época não achávamos que tínhamos tanta capacidade assim. Acabamos mandando propostas para todas as construtoras que estavam envolvidas. No caso, eram cinco canteiros de obras diferentes. Mandamos proposta para as cinco. Sem querer, ganhamos os cinco contratos. Junto na mesma época estávamos tendo que desenvolver a ferramenta, melhorar, ou fazer, os de seis, oito e 10 polegadas e também operar pigs no Brasil inteiro e trabalhar em cinco canteiros ao mesmo tempo. Isso também foi um marco bastante interessante e acho que foi aí que a Pipeway se estabeleceu como uma empresa de prestação de serviço com diferencial, que hoje não é nem tanto a tecnologia, é a qualidade do serviço, a maneira como encaramos o cliente, a maneira como tratamos o cliente para resolver o seu problema. Por último, entramos também numa concorrência em parceria com uma empresa norte-americana e ganhamos o serviço com pig geométrico de três polegadas. Isso não seria muita novidade se não fosse o primeiro pig geométrico de três polegadas a ser feito no mundo. Só viemos a saber disso depois que já tínhamos feito a proposta. Quer dizer, já tínhamos consciência de que podia ser feito, mas não sabíamos que seria o primeiro do mundo. Isso está abrindo um mercado bastante importante. Só no Canadá há um mercado de alguns milhões de dólares que já estamos começando a prospectar.
A história da PipeWay começou no centro de pesquisa da PUC-Rio onde José Augusto Pereira da Silva (Guto) se formou em engenharia de telecomunicações. Durante 2 anos, Guto liderou um grupo de pesquisa que estudou diversas tecnologias de inspeção de dutos, desenvolvendo uma tecnologia nacional proprietária, que substituiu os pigs geométricos importados. Neste grupo de pesquisa, Guto conheceu os sócios Jean Pierre, que é professor do Centro de Estudos de Telecomunicações da PUC-Rio; Ivan Vicente Janvrot, que é engenheiro eletrônico e trabalhou por 20 anos na Petrobras e; Nelson Fernandes Pires, que trabalhou 15 anos no mercado de inspeção de dutos representando firmas estrangeiras. Apesar de ter uma formação muito técnica, Guto vislumbrou a oportunidade de tornar este trabalho de pesquisa em um negócio comercialmente viável e, partiu para mobilizar recursos da Petrobras, do Centro de Pesquisas da PUC-Rio e economias pessoais para viabilizar seu projeto. Visando aprimorar seu plano de negócios e iniciar sua carreira no mundo empresarial, Guto fundou a PipeWay em 1998 utilizando a infraestrutura da incubadora da PUC-Rio, o Instituto Gênesis. Dispondo de pouco capital, mas de muita ousadia, Guto participou de uma concorrência para prestar o serviço de inspeção para uma construtora americana que acabara de construir uma rede de dutos de mais de 1.900 km no Brasil. A PipeWay ganhou a concorrência por oferecer a melhor relação custo x benefício do mercado. Em 1999, pronta para alçar voos mais altos, a PipeWay ganhou mais uma concorrência e enfrentou o desafio para inspecionar cinco trechos do famoso gasoduto Brasil-Bolívia que possui 3.165 km de extensão. Guto ganhou, em 2000 e 2002, o prêmio “Empreendedores do novo Brasil”, organizado pela Endeavor e Editora Abril para divulgar histórias de sucesso e inspirar novos empreendedores.
Atuante no mercado de óleo e gás, a PipeWay é uma empresa brasileira e única no Hemisfério Sul, que utiliza o que há de mais moderno na tecnologia para desenvolver os Pigs Geométrico, Magnético de Corrosão e de Limpeza. Estes instrumentos percorrem as tubulações possibilitando informar, através de relatórios emitidos ainda em campo, a localização exata, o formato e tamanho da anomalia. Eles são como um robô e permitem que sejam acoplados vários acessórios de acordo com a necessidade de cada cliente. A PipeWay também desenvolveu o primeiro Pig instrumentado de 3″ do mundo, que tem importância relevante no enorme mercado de distribuição de gás residencial. Os Pigs podem ser utilizados durante a construção de uma linha ou com ela já em operação, mesmo em situações adversas (bombeio com ar comprimido, variações extremas de velocidade, presença de detritos, estrutura inadequada de lançadores e recebedores, entre outros). Estas informações são essenciais à medida em que oferecem parâmetros para manutenção e reposição de dutos danificados ou com algum problema físico, evitando grandes vazamentos e danos ambientais. Após este desenvolvimento, o pig é utilizado inúmeras vezes em clientes distintos que possuem tubulações do mesmo diâmetro. Além disso, todo processo de inspeção é realizado automaticamente pelo pig, o que elimina a intervenção de mão-de-obra especializada e diminui os custos marginais, tornando o serviço altamente escalável. A empresa está sempre buscando melhorias neste ramo de negócios, desenvolvendo projetos no Brasil e no exterior com os principais grupos de petróleo e gás do mundo. As inovações implementadas e a qualidade com que presta seus serviços podem ser medidas pelo reconhecimento que já conquistou no mercado. Em 2000, foi eleita a Empresa do Ano, pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologia Avançadas, a Anprotec.
A PipeWay Engenharia, que inspeciona dutos de óleo e gás, ganhou a etapa nacional do Prêmio Finep de Inovação e Tecnologia 2004, na categoria Pequena Empresa. A premiação tem como objetivo promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outros órgãos públicos ou privados. A cerimônia de entrega, que aconteceu no dia 2 de dezembro, contou com a presença do Ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Finep, Sergio Rezende. Durante o evento, o presidente Lula valorizou as pequenas empresas. “Alguns de vocês que receberam esse prêmio, eram há algum tempo empresas tão pequenininhas que jamais sonharam em chegar até esse salão no Palácio do Planalto. E porque acreditaram em vocês, nas pessoas com quem trabalham, na seriedade de uma instituição como a Finep e tiveram o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, puderam provar que tamanho não é documento”, declarou Lula. O prêmio na categoria de Pequenas Empresas é um laptop. A PipeWay, vencedora da etapa nacional, ganhou uma viagem ao Reino Unido do British Council, um dos patrocinadores da premiação. Os critérios avaliados para a categoria são os indicadores empresariais de cada empresa, a intensidade de inovação tecnológica e os impactos desse processo. A PipeWay, há seis anos no mercado, começou com operações na incubadora no Instituto Gênesis da PUC-Rio. Prestando serviços em todo o Brasil para quase toda a América Latina (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela), a empresa pretende montar, até 2007, uma base fora do país. Nos últimos dois anos, a PipeWay investiu 10% de seu faturamento em P&D. Hoje, a empresa opera em uma área de 1.500 metros quadrados, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, tendo 34 colaboradores em seu quadro efetivo, além de pesquisadores em centros de estudo, laboratórios e universidades. Uma de suas importantes parcerias é com a Endeavor, da qual, em 2002, recebeu o Prêmio Empreendedores do Novo Brasil.
Fonte:
http://sphere.rdc.puc-rio.br/jornaldapuc/maio99/ensino/pig.html
http://www.anprotec.org.br/locus25/espaco.html
http://www.pipeway.com/servicos_meio.html
http://www.pipeway.com/clipping_meio04.html
acesso em fevereiro de 2002
http://www.dialogomedico.com.br/dialogo032002/web/inovacao/default.asp
acesso em setembro de 2003
IV Encontro REPICT 2001
http://www.endeavor.org.br/br/empreendedores/brasil/pipeway/default.htm
http://www.endeavor.org.br/br/empreendedores/brasil/pipeway/news_04.htm
acesso em outubro de 2005