Processo de Impermeabilização de Implantes Valvulares Biológicos

Um novo procedimento químico para confecção de válvulas cardíacas de pericárdio bovino foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo/ São Carlos em parceria com a Braile Biomédica de São José do Rio Preto, S.P, apoiados pela Fapesp, com objetivo de aumentar a durabilidade destas válvulas no corpo humano. Este novo processo usa a mesma substância química utilizada nos procedimentos convencionais, exceto que adicionada de etanol (álcool comum), dá origem a uma nova substancia química, que, agora, diferentemente do produto original, permite uma maior estabilização do pericárdio bovino, enganando mais eficientemente as defesas biológicas do organismo. As válvulas cardíacas atuam na regulação do fluxo sanguíneo, fazendo movimentos de abertura e fechamento para bombear sangue para o coração. Sua função principal é fazer com que o sangue circule sempre no mesmo sentido, ou seja, deixe a veia pulmonar, passe pelos ventrículos e aurículas e siga pela aorta. Seu mau funcionamento pode resultar de malformação congênita, doenças reumáticas, sífilis, processos infecciosos, artrite e processos de calcificação, com consequências graves para o sistema cardiovascular. Esses problemas costumam ser solucionados pela substituição das válvulas por próteses mecânicas ou biológicas.

 

As válvulas mecânicas têm como uma desvantagem a possibilidade de ocorrência de tromboembolismo, fenômeno caracterizado pelo desprendimento de um coágulo formado na válvula, que se dirige, via circulação, a outros órgãos, com consequências graves. Além de ser cinco vezes mais cara do que a biológica – as próteses biológicas convencionais custam R$ 510 e as mecânicas, importadas dos Estados Unidos, Alemanha e Itália, custam em torno de R$ 2.300,00. Em contrapartida, a válvula mecânica teoricamente não precisa ser trocada, enquanto a biológica tem curta duração (entre sete e dez anos). Apesar da demanda menor, as válvulas mecânicas são a única solução para determinados casos de pacientes com problemas cardiovasculares. As válvulas cardíacas de pericárdio bovino vêm sendo utilizadas com sucesso há 30 anos, entretanto pode ocorrer a calcificação das mesmas, principalmente em pacientes jovens, impedindo o seu bom funcionamento e prejudicando a distribuição de sangue no organismo. Uma das causas desta calcificação é o tratamento do pericárdio bovino com o reagente utilizado atualmente, cuja função é reduzir a rejeição da válvula. Entretanto, com este tratamento o pericárdio bovino não chega a ficar totalmente inerte, ou seja não é ainda o biomaterial ideal para a confecção de válvulas cardíacas, que vem sendo procurado há mais de 40 anos. Na técnica desenvolvida pelo grupo de São Carlos, chefiado pelo professor Gilberto Goissis, o tecido do pericárdio bovino não reage com o produto químico na primeira fase do tratamento, o que possibilita maior penetração do estabilizante. A reação com pericárdio só ocorre em uma segunda etapa do processo, levando a maior estabilização biológica do pericárdio bovino, evitando a rejeição pelo corpo humano em caso de fratura mecânica, e a consequentemente calcificação das válvulas.

A Braile é a única empresa brasileira do segmento com tecnologia 100% nacional, além da linha biológica, desenvolve também produtos eletro médicos e descartáveis, desenvolveu e produz a bomba de circulação extracorpórea, marca-passos externos transesofágico e de demanda, termômetros de agulha e retal e o cronômetro triplo. O professor Goissis observa, também, que “o desenvolvimento deste projeto junto à Braile Biomédica S.A, com financiamento da Fapesp, despertou interesses de origem internacional, a tal ponto que estamos ao final do desenvolvimento de uma nova válvula biológica, construída a partir da córnea do peixe Atum, que já passou com méritos pelos ensaios necessários, incluindo a avaliação em carneiros, realizados em colaboração com o grupo europeu da Universidade de Milão, na Itália”. A Braille coloca entre 15% e 17% de suas vendas, de R$ 2 milhões ao mês, no mercado internacional “não alinhado”, como disse o presidente Domingo Braille. De 1998 a 1999 a empresa cresceu 50% e no ano seguinte, mais de 30%. Investindo em média 30% de seu faturamento em desenvolvimento, próteses ou máquinas para circulação extracorpórea, a Braille também pesquisa características diferentes do polipropileno do qual é feita a membrana do oxigenador, por onde se transfere o oxigênio e retira-se o gás-carbônico do sangue. Quer chegar a uma duração de 30 horas, ante as 6 ou 8 atuais, afirmou Braile. A empresa já possui um trocador de calor do sangue feito de poliéster, e não de aço inox ou alumínio, os quais liberam substâncias tóxicas, conseguindo-se assim diminuir bastante o volume de sangue no trocador de calor.

 

Fonte:

http://www.braile.com.br/empresa.htm

http://www.hc.unicamp.br/especialidades_medicas/cirurgia-cardiaca/corpoclinico/drdomingo.htm

http://www.fapesp.br/inova_282.htm

Acesso em abril de 2002

http://www.eca.usp.br/nucleos/njr/voxscientiae/renata8.html

Acesso em outubro de 2002

Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 284

Patentes História e Futuro, INPI, edição 2002

Jornal Gazeta Mercantil, 12.04.2001

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