O engenheiro químico cearense Expedito Parente, inventor do processo de fabricação do biodiesel, conta que, para obter apoio oficial ao desenvolvimento do biodiesel, chegou a desenvolver um querosene de aviação à base de óleo vegetal, em parceria com a Aeronáutica, no início dos anos 80. Parente conta ainda, que o biodiesel não deu maiores passos nos anos 80 por conta da falta de interesse da Petrobrás no projeto. Expedito Parente relata como foi o início do projeto do prosene: “Bem, o Amedeu Papa (banqueiro que era sócio de Parente) era muito do amigo do então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Délio Jardim de Mattos, que conheceu o projeto e colocou o CTA (Centro Tecnológico da Aeronáutica), em São José dos Campos, à nossa disposição. Ali foram realizados testes aprofundados nesse combustível. Isso nos dava o carimbo de uma das instituições de pesquisas mais importantes do hemisfério sul. Só que aí eu cometi uma das maiores irresponsabilidades da minha vida. O ministro Délio disse que não queria se envolver muito com o biodiesel, porque o combustível da Aeronáutica não era o diesel, mas a querosene de aviação. E que ele se interessaria se fosse um bioquerosene. Eu então virei pra ele e disse: “Pois ministro, o seu bioquerosene de aviação vai sair”. Eu me comprometi a assinar um protocolo, garantindo que ia desenvolver o bioquerosene de aviação e que o biodiesel seria um subproduto. Eu cometi essa irresponsabilidade! Mas, como sou uma pessoa de muita sorte, logo em seguida eu concebi o querosene que passou a ser o nosso carro-chefe. Era o prosene.”
“Primeiro, nós fizemos ensaios em turbinas estacionadas, em bancada. Depois de muitos testes, nós decidimos fazer o teste num voo. Usamos um Bandeirante, da Embraer, que saiu de São José dos Campos no dia 23 de outubro de 1984. Era o Dia do Aviador. E voou até Brasília. Eu quis ir nesse avião, mas me foi negado o acesso, porque eu não era militar. Eles fizeram questão de voar só com o prosene, sem uma gota de combustível de petróleo. O tanque estava cheio de querosene vegetal. E isso foi fantástico, porque lá em cima não tem acostamento, não! O voo foi um sucesso. Eu ganhei uma das mais altas condecorações da Aeronáutica, que é a Medalha do Mérito. Como se tratava de um combustível estratégico – o avião inclusive voava mais alto –, eu cedi a patente para a Aeronáutica. Evidentemente, não era o momento para o desenvolvimento do projeto. Era final de governo. Aí terminou o nosso contrato. E tudo isso foi encerrado. O país não estava motivado. Além disso, a produção de petróleo do país começou a crescer, o preço do petróleo caiu. E a Petrobrás não deu a mínima bola para o combustível, apesar de eu ter procurado a empresa muitas vezes. Na verdade, eles nunca deram realmente valor, não enxergaram. Em 1991 a Alemanha e a Áustria ressuscitaram a ideia. E aí a Europa passou a produzir o biodesel, com o mesmo processo descrito em minha patente. No entanto, a minha patente caducou em 1991, no ano em que eles começaram. Eu nem estava sabendo. Na verdade, eu já tinha mudado o foco, quando eu vi que a ideia do biodiesel tinha sido frustrada em 84”.
Fonte:
http://www.radiobras.gov.br/materia_i_2004.php?materia=240553&editoria
acesso em setembro de 2007