A Valée possui indústria veterinária que atua no ramo de produtos para saúde animal, com sede em Montes Claros, MG. Assim que em 1993, a Vallée estabeleceu contato com a médica veterinária Ivanete Kotait, então uma das pesquisadoras do Instituto Biológico de São Paulo na área de imuno-biológicos para bovinos. O objetivo da Vallée era iniciar uma parceria visando à produção de uma nova vacina contra a raiva bovina. A raiva em herbívoros é causada pelo vírus da família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus, que é principalmente transmitido pelo morcego Desmodus rotundus. Um dos principais métodos preventivos é o controle da população do agente transmissor. “O método está baseado no hábito do morcego de se lamber e voltar ao mesmo animal para se alimentar”, diz Ivanete.
À época, o rebanho brasileiro começava a sofrer um grande surto de raiva. A mortalidade entre bovinos e equinos viria a sofrer um aumento intenso. A Vallée já trabalhava para um retorno ao mercado de vacinas antirrábicas, do qual estivera afastada por alguns anos. Nesse momento, duas eram as preocupações dos pesquisadores da Vallée: desenvolver uma tecnologia que permitisse a produção em alta escala, visando a suprir a altíssima demanda e ao mesmo tempo prover uma vacina extremamente potente, capaz de enfrentar o desafio do vírus da raiva, imposto no campo aos animais domésticos. Nunca antes os morcegos, transmissores da doença, estiveram tão presentes e tão infectados como nesse período. Além dos danos econômicos, a proliferação da raiva bovina pode se transformar também num problema social, pois se trata de uma zoonose, doença que pode ser transmitida do animal para o homem.
Numa primeira etapa, o foco do trabalho de pesquisa foi direcionado para a identificação dos problemas que envolviam o processo produtivo daquele tipo de vacinas. E quais os principais parâmetros que precisavam ser considerados para que a proteção imunológica fosse garantida ? Um deles é que os vírus vacinais cultivados em suspensão precisam produzir grandes quantidades de glicoproteína, molécula fundamental para garantir imunização. Outro problema era desenvolver técnicas mais rápidas para testar a potência das vacinas. Esse aspecto é importante, porque a produção é feita em grandes tanques, onde os microrganismos são cultivados. Quanto mais rápido o processo de avaliação dessas suspensões, maior a estabilidade do produto final. Além de encurtar o ciclo de produção aumentando-se a produtividade.
Após esse trabalho inicial, entrou em cena o Instituto Pasteur, de São Paulo, para onde Ivanete Kotait, uma das principais pesquisadoras em raiva do país, havia se transferido. A primeira etapa, realizada em bancadas do instituto, constitui-se de ensaios de adaptação de cepas virais imunológicas a células altamente produtivas utilizadas na produção de vacinas. Esta etapa fundamental orientou a equipe de produção industrial da Vallée no delineamento da tecnologia que permitisse a produção de altas concentrações de glicoproteína. Em outra ponta do processo, uma das pesquisadoras da própria Vallée, a veterinária Maria Thereza Terreran, foi passar um período no Instituto Pasteur de Paris. O objetivo era dominar as técnicas mais avançadas que permitissem dosar a glicoproteína na vacina e também realizar mais rapidamente os testes de avaliação e controle. Com o novo sistema implantado, o período de avaliação caiu de 21 dias para 3 a 4 horas. “Com as novas tecnologias utilizadas no processo produtivo da Vallée, foi possível obter um enorme ganho de qualidade e confiança para o produto. A nova vacina atinge sistematicamente concentrações de glicoproteína superiores às preconizadas pela OMS”, diz Ivanete.
Fonte: Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 94
http://www.vallee.com.br/vacina/raivacel.htm
Acesso em julho de 2003