O SACI-1 (Satélite de Aplicações Científicas), concebido inteiramente pelo INPE em parceria com o Instituto de Física da Unicamp e o Instituto Riken do Japão, sob coordenação do prof. Armando Turtelli Júnior do Instituto de Física, deverá ser colocado em órbita junto com o satélite CBERS-1 (China-Brazil Earth Resources Satellite), no início de 1998, pelo lançador chinês Longa Marcha 4. Seu principal objetivo é a realização de experimentos científicos e tecnológicos ligados à física da atmosfera. O SACI está projetado para realização de quatro experimentos científicos, dos quais, três estão sendo desenvolvidos pelo INPE em parceria com instituições nacionais e internacionais.
A órbita do SACI é polar heliossíncrona, com altitude aproximada de 780 Km e 98 graus de inclinação. Em agosto de 1995 o INPE realizou, com a participação de pesquisadores estrangeiros, a Revisão de Engenharia deste projeto, que confirmou as especificações do satélite e permitiu a continuidade do seu desenvolvimento. O SACI está projetado para uma massa de 60 Kg, vida útil de dois anos e carga útil preparada para realização de quatro experimentos científicos. A Embrapa Monitoramento por Satélite monitora os dados a serem oferecidos pelo futuro sistema.
O projeto SACI pertencia ao “Programa de Satélites Científicos e Experimentos (SCE)” do INPE, do qual participa também o projeto do Microssatélite Franco-Brasileiro (FBM). Os dois projetos tiveram início na mesma época, em 1995, sendo que o FBM sofreu atrasos sucessivos por razões de orçamento. Tendo sido lançados os dois satélites SACI, foi aprovado orçamento para término do FBM, que o sucessor dos SACI. A principal diferença entre os satélites estão no sistema de estabilização por rotação do SACI, e na estabilização em três eixos, mais sofisticada, do FBM. Os futuros microssatélites do Inpe deverão ser mais próximos do FBM, i.e., com estabilização em três eixos, por serem mais adaptados às missões de astrofísica, e observação da Terra e do Sol, previstas dentro do Programa. Assim, considera-se o FBM, e seus sucessores, como sucessores do SACI, dentro do programa de satélites científicos do Inpe.
Em Julho de 1988, durante uma visita do Presidente José Sarney , os governos do Brasil e da República Popular da China assinaram um acordo para iniciarem um projeto de desenvolvimento de dois satélites avançados de sensoriamento remoto. O Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite / Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) agrega a capacidade técnica e os recursos financeiros dos dois países para estabelecer um sistema completo de sensoriamento remoto competitivo e compatível com as necessidades internacionais atuais. O engajamento do Brasil no CBERS marcou o início de uma nova etapa do programa espacial brasileiro e serviu como fator estratégico para a diversificação de parcerias no escopo mais amplo da ciência e da tecnologia. Na China, a implementação do Programa CBERS ficou a cargo da CAST (Chinese Academy of Space Technology / Academia Sínica de Tecnologia Espacial) e no Brasil, do INPE.
O Programa orçado originalmente em 150 milhões de dólares, dos quais o Brasil deveria participar com 45 milhões, correspondentes a 30% do investimento total, prevê a construção de dois satélites idênticos – 100 milhões – e seus lançamentos através de veículos da série Longa Marcha 4 de 50 milhões a partir da base chinesa de Taiyuan. No que concerne a fabricação das partes dos satélites, coube ao Brasil fornecer as suas estruturas mecânicas, todos os equipamentos para o sistema de geração de energia elétrica (incluindo os painéis solares), a câmara WFI e os sistemas de coleta de dados e de telecomunicações de bordo. Os chineses se responsabilizaram pelo fornecimento das outras partes dos satélites mas, contrataram junto a empresas brasileiras, as fabricações dos computadores de bordo e dos transmissores de micro-ondas.
A fase de montagem, integração e testes dos satélites, também executada por equipes conjuntas do INPE e da CAST, tem sido uma boa oportunidade para a troca de conhecimentos e informações entre as duas equipes. Os resultados de testes realizados em presença e conduzidos pelas duas equipes, ao mesmo tempo, e principalmente a oportunidade de discussão dos problemas detectados durante os testes, constitui outra fonte rica de informações geradoras de conhecimentos acessíveis a ambas as equipes. Em 14 de outubro de 1999, ocorreu o lançamento do primeiro Satélite CBERS, utilizando-se o foguete Longa Marcha 4B, a partir da Base de Lançamento de Taiyuan, situada na Província de Shanxi, a cerca de 750Km sudoeste de Beijing. Tendo cumprido todas as etapas previstas em órbita, a partir da abertura dos painéis solares e tendo passado pelas fases de ajuste de órbita e testes pormenorizados de subsistemas, e conduzido os testes e calibração de suas três câmaras – CCD, IRMSS e WFI, o satélite foi considerado apto para operação normal.
O Laboratório de Automação e Computação (LAC) da Universidade Federal do Ceará desenvolveu o computador de bordo para o Inpe. Pequeno, com alto poder de processamento, praticamente imune a falhas e capaz de realizar milhares de operações em um segundo consumindo um mínimo de energia, o computador vai equipar e controlar o Saci 1, do Inpe. Quando o instituto e a Agência Espacial Brasileira (AEB) decidiram pela construção do primeiro microssatélite brasileiro, não havia no país tecnologia para controlar os sistemas de navegação, comunicação, experimentos científicos e instrumentação de bordo de maneira eficiente. O desafio de criar um computador de bordo capaz de controlar todos os sistemas do satélite, foi então proposto aos pesquisadores da UFC. O primeiro passo foi definir quais as características e necessidades a serem cumpridas. Um microssatélite como o Saci 1, é um satélite de dimensões reduzidas, mais ou menos o tamanho de uma tv de 20 polegadas, menor custo e menor tempo de maturação “Hoje há uma tendência para se utilizar satélites menores, e o Brasil está aderindo a essa tendência”, afirma o professor Helano de Sousa Castro, pesquisador da UFC, que chefiou o projeto do computador.
os pesquisadores optaram por uma topologia triplex, com três processadores Transputers T-805 paralelos, operando a um clock de 17MHz. A memória é de 8Mbytes na CPU, que roda um sistema desenvolvido especialmente para esse computador, escrito em linguagem Occam, específica para processadores paralelos e desenvolvida em Bristol, Inglaterra. Pela confiabilidade e desempenho, o sistema apresenta um perfil que pode ser usado em qualquer aplicação crítica. Inpe e UFC pensam em comercializar a ideia para bancos, setor de equipamentos médicos, metrôs e aviação, todos os campos em que uma falha no computador pode significar grandes prejuízos ou o risco de vidas humanas. A maior razão da confiabilidade do sistema está na opção pelo processamento paralelo, em que três processadores trabalham em conjunto. Assim a velocidade é triplicada sem que um processador fique dependente do outro. Em termos práticos, quando o computador estiver embarcado no satélite, mesmo que um ou até dois processadores parem de funcionar não haverá risco de o equipamento ficar sem controle ou sem comunicação com o sistema de controle no solo.
Fonte: http://www.cnpm.embrapa.br/satelite/saci.html
http://www.inpe.br/programas/cbers/portugues/index.html
http://www.agespacial.gov.br/100Duvida.htm
http://tapioca.crn.inpe.br/saci/saci1/caracteristica/caracteristica.html
Acesso em março de 2002
Cronologia do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Brasileiro, 1950-200, MDIC, Brasília, 2002, páginas 273
Tecnologia & Inovação para a indústria, Sebrae, 1999, página 166